Entrevista

Conversa da semana com Suzana Mendes

Cerca de 40 mil pessoas estão na lista de espera para receber um órgão para transplante no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde. Em nosso país, são realizados vários tipos de transplantes, como de coração, rins, fígado, córneas e medula óssea. Embora seja um dos países do mundo que mais realize transplantes renais do mundo, em números absolutos, comparativamente, o Brasil ainda está sem 32º lugar. Isso se dá entre outras razões, principalmente porque o número de doadores de órgãos em solo brasileiro ainda está aquém do que ocorre em outras nações. No Rio Grande do Norte, que tem lutado para mudar essa realidade é a Comissão Intra-hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTT) do Hospital Regional Tarcísio Maia (HRTM). Reconstituída em julho de 2016 no âmbito do HRTM, a CIHDOTT realizou a primeira captação de órgãos naquela unidade hospitalar em setembro daquele ano. De lá para cá, já foram feitas 29 captações. Coordenadora de Enfermagem da CIHDOTT, Suzana Cantídio Mendes é a entrevistada da Conversa da Semana deste sábado.  Entre outras questões relacionadas ao tema, ela ressalta a importância da doação de órgãos. Veja na íntegra:

Por Márcio Alexandre

PORTAL DO RN – Já temos na população do Estado uma cultura a favor da doação de órgãos?

SUZANA MENDES – Ainda não. Precisamos formar e ampliar uma cultura doadora na sociedade. Precisamos fazer um trabalho muito grande junto à imprensa sobre a importância da doação de órgãos. Tabus ainda existem e necessitamos passar essa informação de que a doação é importante e precisa ser feita sim porque muita gente ainda espera por um órgão na fila, que é gigantesca. Precisamos de educação sobre isso nas escolas. A sociedade precisa ajudar na divulgação, assim como a imprensa vem fazendo nos últimos anos. Toda palavra dita é importante pra ampliação da cultura junto ao nosso povo. Nós fazemos um trabalho dentro do hospital para esclarecimentos e como funciona o nosso serviço. Ainda temos muito para aprender, mas trabalhamos todos os dias levantando essa bandeira: doe vida. É importante avisar à família que se é doador.

PRN – De maneira geral, quais as razões que fazem com que as pessoas não se declarem doadoras?

SM – São vários os motivos para a recusa da doação de órgãos revelados pelas pessoas: crença religiosa, espera deum milagre, a não compreensão do diagnóstico da morte encefálica e a crença na reversão do quadro; a não aceitação da manipulação do corpo e o medo da reação da família.

PRN – A senhora acredita que melhoraremos nesse aspecto?

SM – Sim, com mais informações e divulgações da mídia. O jornalismo faz um bom trabalho mostrando a importância e o valor de uma doação de órgão.

PRN – As campanhas de sensibilização nessa área tem sido suficientes?

SM – São importantes, mas precisamos divulgar mais durante o ano inteiro. Temos o mês dedicado a essa campanha, o Setembro Verde, para lembrar às pessoas a importância da doação de órgãos para salvar vidas.

PRN – Os casos de doação em que a CIHDOTT faz a captação de órgãos são de pessoas que declararam a vontade em vida?

SM – Alguns sim. Outros casos são de famílias que decidem pela doação de órgãos para salvar vidas. Sabem do sofrimento de pacientes em máquinas de diálise, esperando um rim; pessoas na fila na esperança de receber um coração, fígado, córneas e outros órgãos.

PRN – Como a comissão procede nos casos em que houve essa disposição de vontade?

SM – Nós respeitamos a decisão da família. Recebemos um não, assim como recebemos um sim. A decisão é da família. Não podemos interferir nem forçar ou convencer a mudar de opinião. Respeito é tudo.

PRN – Há situações em que o paciente não declarou em vida que gostaria de doar, mas que acabou ocorrendo a doação? Como ocorre nesses casos?

SM – A decisão será sempre da família, se todos forem de acordo com a doação.

PRN – Para que a doação se efetive é preciso que todos os membros da família concordem?

SM – Normalmente a família faz a doação, mas se algum membro da família se opuser respeitamos a decisão da pessoa que não aceitou. No caso, essa pessoa que se opôs precisa ser parente em primeiro grau. Caso não haja parente em primeiro grau, um de segundo grau pode decidir, mesmo que a pessoa tenha deixado dito em vida que era doador.

PRN – O que mais sensibiliza os familiares dos doadores para que a vontade do paciente seja respeitada?

SM – Que outras vidas serão salvas por um gesto de amor.

PRN – Qual a avaliação que a senhora faz do trabalho da CIHDOTT?

SM – Nós somos uma equipe muito envolvida nesse trabalho e fazemos com muito respeito, responsabilidade, dedicação e amor.

PRN – De maneira geral, como a senhora analisa a doação de órgãos e tecidos no Brasil? Está em patamares próximos de outras nações?

SM – A principal causa das grandes filas para a doação de órgãos no Brasil é o desequilíbrio existente entre o número de doadores e o número de pessoas que precisam se transplantes. É fato que existem muito mais pessoas na fila de espera do que de doadores. Quem sabe um dia não chegamos próximo a outras nações?

PRN – Em geral quais órgãos são mais transplantados?

SM – No Brasil, os órgãos mais transplantados são rim, fígado e coração. O rim é o órgão mais transplantado em nosso país. O Brasil é o segundo pais do mundo em transplantes renais em números absolutos, mas cai para 32º lugar comparativamente. Isso nos motiva a formar e ampliar uma cultura doadora na sociedade para multiplicar a doação nas famílias e reduzir as listas de espera.

PRN – Além do imensurável benefício para as pessoas que recebem o transplante dos órgãos doados, qual a importância da doação para o sistema de saúde?

SM – A diminuição de pacientes em diálises e/ou de hospitalizações por complicações; menos mortes, obviamente. Além disso, os transplantados recuperam sua autoestima, voltam às suas atividades cotidianas, retornam ao trabalho e passam a viver a vida dignamente.

 

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