Entrevista

Conversa da Semana com Rodrigo de Codes

O Portal do RN sequencia as conversas com os pré-candidatos à Reitoria da Universidade Federal Rural do Semiárido (UFERSA). O entrevistado dessa semana é o professor Rodrigo Nogueira de Codes, atual Pró-Reitor de Graduação da instiuição. Rodrigo é engenheiro civil e tem Doutorado em Engenharia Mecânica e de Materiais na Ecole Normale Supérieure de Cachan (ENS Cachan) na França e tem experiência na área de Engenharia de Materiais, com ênfase em propriedades mecânicas e físicas dos materiais, mecânica experimental, correlação digital de imagens, leis de comportamento dos materiais e instabilidades dos materiais. Nesse entrevista, feita por e-mail (em face da pandemia do coronavírus), Rodrigo fala sobre os desafios da Ufersa, suas potencialidades, suas propostas e inclusive sobre as ações que a instituição vem realizando para contribuir com o combate ao coronavírus. Acompanhe

PORTAL DO RN – Dos 17 postos de comando da administração central da Ufersa (Universidade Federal Rural do Semiárido), apenas dois são ocupados por mulheres, Pró-Reitoria e Pró-Reitoria-Adjunta de Assuntos Estudantis. Por que essa disparidade tão acentuada num momento da história da humanidade em que a luta por igualdade de gênero se mostra tão efervescente?

RODRIGO DE CODES – Em primeiro lugar gostaria de agradecer pelo espaço no Portal do RN para apresentarmos nossas principais ideias para pré-candidatura à gestão da Reitoria da UFERSA. Destaco que neste momento estamos, enquanto universidade, preocupados e empreendendo esforços para conter e amenizar os efeitos da pandemia devido à COVID-19, mas garanti o compromisso acordado com o Portal do RN de manter esta entrevista realizada de forma remota. Com relação a essa primeira pergunta, nossa gestão será baseada em fundamentos e princípios, um dos quais é o princípio da equidade que consiste na observância dos direitos de igualdade, a fim de tornar a gestão justa para toda a comunidade acadêmica. Para tanto, as políticas e ações acadêmicas devem seguir este princípio, considerando todas as diferenças presentes na UFERSA. Com isso, quero dizer que em nossa gestão vamos contribuir para amenizar essa desigualdade. Temos o compromisso e responsabilidade de diminuir isso no âmbito da Instituição. Inclusive, é importante ressaltar que a luta por igualdade de gênero é um dos objetivos do desenvolvimento sustentável da agenda 2030, os chamados ODS e, evidentemente, que toda a sociedade e também a universidade tem que caminhar nesta direção.

Acredito que tivemos uma marca de uma gestão técnica, centrada na qualificação e profissionalização.

PRN – O senhor é pró-reitor, portanto integra a atual gestão e é apontado como o candidato da situação. Como o senhor se sente nessa condição?

RC – Como pré-candidato da gestão sinto que será um grande desafio e uma grande responsabilidade, tendo em vista a evolução da Universidade nas últimas duas gestões, especialmente na atual, da qual faço parte desde seu início. É notório que há um processo contínuo de profissionalização da gestão, fruto de políticas de valorização das pessoas através do incentivo à qualificação dos servidores, mas também investimento em capacitações, treinamentos, etc. A depender das demandas de cada setor e categoria. Tudo isso para dizer que o maior patrimônio da nossa Universidade são justamente as pessoas. Acredito que tivemos uma marca de uma gestão técnica, centrada na qualificação e profissionalização. Outro grande legado foi a descentralização das ações realizadas com muita responsabilidade, o que como consequência temos uma evolução constante da nossa Universidade.

Tenho muito orgulho de fazer parte da atual gestão e de poder contribuir através dos desafios diários, mas também acompanhados de constantes aprendizados que nos fortalecem para o desafio de assumir a gestão máxima da UFERSA e representar um projeto de Universidade que vem sendo construído coletivamente a muitas mãos por representantes de todas as categorias.

PRN – Fale-nos um pouco de sua trajetória na UFERSA;

RC – Ingressei na UFERSA em 2010, e nesses quase 10 anos atuo na gestão acadêmica há quase 7 anos, tendo sido eleito por dois mandatos consecutivos chefe do departamento que originou o Centro de Engenharias e, na sequencia, assumi a Pró-reitoria de Graduação desde o início da segunda gestão do reitor Arimateia. Durante esse período também fui conselheiro do Conselho Universitário (CONSUNI) durante dois anos e estou há quase 7 anos de forma ininterrupta no Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (CONSEPE). Além disso, sou coordenador do Comitê Gestor Institucional de Formação de Profissionais do Magistério da Educação Básica da UFERSA (COMFOR/UFERSA), fui coordenador da Regional Nordeste do Colégio de Pró-reitores de Graduação (COGRAD/NE) de 2018 a 2019 representando junto à Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES) as 18 IFES do Nordeste e sou avaliador de cursos de graduação pelo INEP/MEC. No fazer docente, atuo também na pós-graduação, no Programa de Pós-graduação em Ciência e Engenharia de Materiais e, ao longo do tempo, em diversas orientações de iniciação científica e trabalhos de conclusão de curso, já tendo inclusive aprovado projeto de pesquisa com recursos do CNPq, o que impulsionou minhas pesquisas na UFERSA. Ao longo de 22 anos de vivência universitária desde minha graduação e tendo passado por seis instituições de ensino ao longo da minha trajetória acadêmica, dos quais seis anos no exterior, todos na condição de bolsista, em duas instituições de excelência francesas e uma na Noruega, o que me fazem buscar com essas experiências um profissionalismo ainda maior com base em competências para a gestão da nossa Universidade.

Nosso pré-candidato a Vice-reitor é o Prof. Edcarlos Leite, lotado no campus Angicos, onde já foi Diretor do campus, Vice-diretor, chefe de departamento e já representou e representa o campus em todos os conselhos superiores da Universidade. Uma curiosidade é que o Prof. Edcarlos ministrou a primeira aula da UFERSA fora da sede. Nossa proposta é de fortalecer nossa identidade institucional de uma universidade multicampi, uma vez que hoje os três campi fora da sede representam aproximadamente 40% da Instituição.

Neste contexto, me sinto preparado para este grande desafio de representar nossa querida UFERSA.

Tal desafio consiste em realizar uma gestão que atenda a toda a comunidade acadêmica, uma gestão democrática, inovadora, com ainda mais participação de todas as categorias, discentes, técnico-administrativos em educação e docentes, baseada também nos princípios da transparência e comunicação, da competência, da integração, da gestão democrática e da equidade.

Para nossa gestão, partimos de alguns fundamentos, dentre os quais a defesa da educação superior pública, gratuita, de qualidade, plural, inclusiva e socialmente referenciada. Defendemos também a autonomia universitária e um planejamento estratégico com muita responsabilidade na gestão do nosso orçamento. Nosso objetivo central é a busca incessante pela qualidade. Pretendemos promover cada vez mais a qualidade que a Universidade exige em suas diferentes áreas. O que esperamos ao final da gestão é que consigamos elevar nossos índices das avaliações externas que somos submetidos, mas também de nossas auto-avaliações. Neste sentido, buscamos novas conquistas com muito compromisso e ação através de muito trabalho.

A Universidade precisa consolidar o que foi priorizado em termos de interiorização.

PRN – A seu ver, quais os grandes problemas da Ufersa atualmente?

RC – O grande problema é originado na conjuntura nacional econômica, mais especificamente no financeiro. As IFES estão passando por um momento difícil, que foi acentuado desde a Emenda Constitucional No. 95 de 2016 e isso recai sobre, por exemplo, a contratação de pessoal, de servidores efetivos. A UFERSA passa ainda por seu processo de consolidação. Dos 45 cursos de graduação, temos 7 deles que ainda não formaram a primeira turma. Alguns cursos ainda não tem o quantitativo de docente suficiente. Além disso, a UFERSA tem menos técnico-administrativos em educação do que docentes. Nas grandes universidades federais temos exatamente o contrário. A Universidade precisa consolidar o que foi priorizado em termos de interiorização. Numa perspectiva de desafios que temos em vários eixos, temos, como já foi colocado, em primeiro lugar a contratação de pessoas, haja vista que há um déficit de servidores. Nosso compromisso é de buscar todos os poderes para melhorias com relação a essa situação.

PRN – E na graduação?

RC – Na graduação, o maior desafio é superar a taxa de evasão e retenção. Para tal, vale ressaltar que existem os fatores individuais, fatores internos à UFERSA e fatores externos à UFERSA. Muitas ações foram desenvolvidas pela PROGRAD no que diz respeito aos fatores internos, a exemplo da ação de ensino que chamamos de Mentoring, premiada nacionalmente no Fórum de Pró-reitores de Graduação (FORGRAD) em 2019 na Universidade Federal de Santa Catarina, ação esta voltada para as alunas e alunos ingressantes na graduação, onde observamos que os índices de evasão são maiores. Podemos destacar também outras ações de ensino de combate a evasão e retenção que contribuem para a melhoria dos índices de sucesso e permanência, tais como o programa de monitoria, as ações de apoio à melhoria do ensino de graduação, as ações de nivelamento, que são o pré-cálculo, a pré-física, a pré-química e o pré-algoritmo e também o Programa de Educação Tutorial, o Programa Institucional de Iniciação à Docência e o Programa de Residência Pedagógica, os dois últimos especificamente para os cursos de licenciatura.

Na pós-graduação o grande desafio é manter os conceitos de excelência para os programas consolidados, aumentar os que precisam ser consolidados e ampliar o número de bolsas para pesquisadores. Vivemos um grande desafio, que é lidar com as prerrogativas da Portaria No. 34 da CAPES de 2020, que provocou um corte significativo de bolsas na pós-graduação.

Na extensão, o grande desafio é criar a cultura dos conceitos e princípios da política nacional de extensão universitária. Partir da concepção de levantamento de demandas da sociedade e em cima disso contribuir de fato com os problemas sociais. Além disso, outro desafio será de incluir as atividades de extensão nos projetos pedagógicos dos cursos de graduação em no mínimo 10% de suas cargas horarias, em consonância com o Plano Nacional de Educação.

Com relação à permanência estudantil, temos que 3 milhões de reais dos recursos do Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES) que estava sob supervisão e passou a estar contingenciado. Esse recurso tem um grande impacto na Instituição, pois representa bolsas de permanência, subsídio de refeições no restaurante universitário e impactos diretos nos índices da Universidade, como por exemplo a evasão. Ou seja, há muitos desafios, mas o conhecimento destes e o compromisso ajudam a serem encontradas as soluções.

PRN – E o que o senhor destacaria como grandes projetos da instituição?

RC – Em primeiro lugar, gostaria de destacar a missão da Universidade que é de produzir e difundir conhecimento para a região do semiárido. Penso que o grande projeto da instituição foi a interiorização da Universidade. Na realidade a interiorização das universidades federais de uma forma geral foi o maior programa de inclusão por parte do governo federal e isso levou a UFERSA a se destacar no Nordeste, no Brasil e no mundo. Atualmente, temos projetos de destaque que têm impactos diretos na sociedade, por exemplo: na área do ensino o Ambulatório do curso de Medicina, que atende a pacientes socialmente vulneráveis; as práticas do Hospital Veterinário da UFERSA; o Núcleo de Práticas Jurídicas e o Núcleo de Práticas Contábeis, ambos com grande número de atendimentos que tem impacto social relevante; o Mentoring, como já citado, com foco nos discentes ingressantes da Instituição; o PET que trabalha com o tripé ensino, pesquisa e extensão; o Programa Institucional de Iniciação à Docência (PIBID) e o Programa de Residência Pedagógica (PRP) que foram os maiores programas de bolsas de fomento externas já aprovado pela UFERSA, com impacto muito positivo nas licenciaturas. Na extensão universitária, destaca-se a Feira de Ciências do Semiárido Potiguar, consolidada no calendário anual da UFERSA, reunindo diversas escolas da educação básica com a apresentação de trabalhos científicos dos estudantes da educação básica; a Robótica educacional, no campus Mossoró, em parceria com a Petrobras e, no campus Angicos junto ao Laboratório LATIC que alcançaram grandes resultados ao longo dos anos; o programa Acesso à Terra Urbanizada, com impacto social muito grande em ações de regularização fundiária; o projeto Horta Didática, desenvolvido em escolas públicas voltado para a educação ambiental; o Centro de Referência em Direitos Humanos; as Empresas Juniores; o projeto Doar, que é um sistema para gestão de estoque de sangue em hemocentros; a Estação Meteorológica, que realiza o monitoramento de parâmetros meteorológicos em Mossoró; as Usinas Solares Fotovoltaicas da UFERSA em todos os campi gerando mais de 500KWp de potência com energia limpa; o Núcleo de Arte e Cultura; o grupo de teatro Cia Baobá; o premiado Baja, presente em dois campi, que contribui fortemente para a formação de nossos bacharéis em ciência e tecnologia e engenheiros com destaque nacional e internacional; o Aerodesign, presente também em mais de um campus da UFERSA contribuindo com a formação e desenvolvimento de nossos discentes e já tendo alcançado posições de destaque nacional; a competição de carrinhos de rolimã em Pau dos Ferros dentro do projeto ciência se faz na prática. Na área da pesquisa, temos o nosso Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica já tendo sido premiado nacionalmente. A Universidade possui mais de 40 grupos de pesquisa em todas as áreas do conhecimento e nossas pós-graduações têm impactos sociais significativos, na formação de pessoas, promovendo ciência, buscando soluções para a região do semiárido, a exemplo do uso de rejeitos de dessalinizadores, que contribui com o uso sustentável das águas premiado nacionalmente; o projeto Caatinga; os projetos da rota do cordeiro e do mel, dentre inúmeros outros, financiados externa e internamente.

São vários grandes projetos e estamos aqui somente destacando alguns. Por fim, quero destacar as ações da UFERSA para combater a COVID-19. A Universidade criou a comissão especial de emergência da COVID-19. Foram realizadas parcerias com outras instituições. 10 professores do curso de medicina foram cedidos ao Hospital Tarcísio Maia para auxiliar nos trabalhos contra o novo coronavírus. A UFERSA também está produzindo máscaras de proteção para os profissionais de saúde com o auxílio de nossas impressoras 3D. Estamos produzindo também álcool em gel e ajudando a sociedade através de campanhas de arrecadação para pessoas em situação de rua. São muitas as ações da Universidade em todos os seus campi.

PRN – Quando alguém se motiva a disputar um cargo eletivo para gerir uma instituição, passa pela cabeça dela a seguinte questão: caso tenha sucesso a primeira coisa que pretendo mudar será isso. No caso do senhor, qual seria essa questão?

RC – Pretendemos realizar uma gestão inovadora, democrática e com planejamento estratégico, com mais participação da comunidade acadêmica. Nossa proposta é de priorizar investimentos em infraestrutura em sintonia com as necessidades da comunidade universitária. A intenção é de nos antecipar, manter o diálogo com os três segmentos da comunidade acadêmica, além de associações, sindicatos, entidades e representação estudantil. Temos como meta central a busca incessante pela qualidade. Neste sentido, a gestão participativa será um grande diferencial, pois caberá a cada grupo definir as prioridades, ou seja, a prioridade zero, a prioridade um, prioridade dois e assim por diante, de modo que, de posse das necessidades, a gestão tomará as decisões de forma bastante responsável e buscando atender a todos os segmentos, uma vez que sabemos que as demandas são as mais variadas. A proposta é que a comunidade universitária se sinta que está realmente participando. Desta forma, a ideia é de se investir nossos recursos de maneira eficiente e com muita responsabilidade. Sou avaliador de cursos de graduação pelo INEP/MEC, e, para tanto, vamos nos basear nos indicadores externos, mas também nos indicadores internos, notadamente através de nossas autoavaliações. Para a graduação, por exemplo, temos a intenção de, dentro de uma política para a qualidade de ensino, realizar planos trienais, uma vez que nossos cursos são avaliados a cada três anos, com o objetivo que no triênio seguinte obtenhamos melhores indicadores, refletindo, então, no índice geral de cursos da Instituição. Com relação à avaliação de cursos são três dimensões que são avaliadas. A primeira é a didático pedagógica; a segunda é a de corpo técnico e corpo docente e a terceira é relacionada à infraestrutura. Essa primeira dimensão está relacionada a diversas ações da PROGRAD; a segunda vem sendo contemplada nas duas últimas gestões e, certamente, pretendemos fortalecer ainda mais a qualificação dos nossos servidores, também através de capacitações, treinamentos e ações que possibilitem uma melhor qualidade no trabalho, valorizando as pessoas não só tecnicamente, mas também do ponto de vista humanístico. Com relação à terceira dimensão, a intenção é de fortalecer a todos os cursos e a todas as áreas e setores da Universidade.

PRN – O número de pró-reitorias existente no organograma da Ufersa atualmente é o ideal?

RC – Com relação ao número de pró-reitorias, para a demanda que a Universidade tem, o total existente na Instituição é adequado.

Vamos lutar pela nossa autonomia universitária, constitucionalmente definida, independentemente de governo.

PRN – O ano de 2019 foi um dos mais difíceis para as universidades em termos financeiros e execução do orçamento em face das ameaças de corte nas verbas para as universidades federais. Qual a sua avaliação do atual governo em relação ao ensino superior público no Brasil, sobretudo para as IFES (instituições federais de ensino superior)?

RC – Nossa relação deve ser de muito diálogo com os três poderes, especialmente com o MEC que é nosso mantenedor. Vamos lutar pela manutenção da matriz OCC para distribuição de recursos. Vamos lutar pela nossa autonomia universitária, constitucionalmente definida, independentemente de governo. Contudo, desde a promulgação da emenda constitucional No. 95 em 2016, a Universidade vem se voltando para essa questão, se preocupando cada vez mais com o financeiro ao ponto de chegar em 2019 não sentir tanto os impactos como grandes universidades do país sentiram. Algumas universidades tiveram bastantes problemas frente ao bloqueio, com dificuldades para honrar com seus compromissos. O grande diferencial da UFERSA foi de se trabalhar Reitoria junto à Pró-reitoria de Planejamento (PROPLAN) e Pró-reitoria de Administração (PROAD) e se preparar para essa realidade. Comparando-se a outras IFES, a UFERSA não sentiu tanto a crise uma vez que todas as bolsas foram mantidas e também os pagamentos dos servidores terceirizados. Isso se deve a uma equipe de servidores competente, bastante técnica e que vem num processo de evolução e profissionalização ao longo dos anos. O reflexo disso é que nossa Universidade é organizada financeiramente e honra todas as suas contas em dia. Em 2019 tivemos um momento extremamente difícil e com muita transparência, a situação foi amplamente apresentada à comunidade universitária. A gestão também se antecipou ao descontingenciamento e publicou editais de pesquisa e extensão sob a condição de liberar os recursos caso houvesse efetivamente os recursos liberados. Foram decisões de gestão de modo a se antecipar e utilizar de forma eficiente os recursos uma vez que os mesmos foram descontingenciados ao final do ano. Uma preocupação que sempre teremos é na responsabilidade com a utilização de nossos recursos públicos. Temos que aproveitar esse momento para sensibilizar mais o atual governo sobre a importância da universidade e mostrar para a população que a universidade é um patrimônio da sociedade, contribuindo para o seu desenvolvimento.

PRN – As eleições universitárias são, na verdade, uma consulta popular para a montagem das listas tríplices. A prerrogativa de escolha é do presidente que, sabemos, não tem respeitado, no mais das vezes, a decisão soberana dos eleitores. Vale a pena encarar a disputa, mesmo sem a garantia de apesar de ficar em primeiro, correr o risco de ser preterido?

RC – Vale a pena sim. O processo de consulta à comunidade acadêmica para escolha do gestor máximo da Instituição é muito importante, pois temos a grande oportunidade de debater, perante à comunidade universitária, propostas e, sobretudo, o que queremos e que direção pretendemos tomar para nossa Universidade nos próximos quatro anos. Além do plano de gestão, cada universidade tem o seu PDI, que é o Plano de Desenvolvimento Institucional. É o rumo da Instituição. O nosso finaliza em 2020 e é importante que precisamos contar com ampla participação da comunidade acadêmica para elaboração do próximo PDI. Historicamente a Universidade vem elegendo seus dirigentes dessa forma. Apesar de ser uma prerrogativa do presidente, observamos que na maioria dos casos o primeiro da lista é o nomeado. Gostaria de ressaltar que nosso processo, a princípio, será regido pela MP914 de 24 de dezembro de 2019, quando não teremos mais o voto paritário entre as três categorias, discentes, técnico-administrativos em educação e docentes. Na última consulta tivemos o processo nesse formato, o que considero um avanço em nossa Universidade. Além disso, os diretores de centro e diretores de campus, de acordo com a MP, são escolhidos e nomeados pelo Reitor. No entanto, levando em consideração nossa autonomia universitária, a atual gestão optou por realizar a escolha desses dirigentes por meio de consulta à comunidade acadêmica de cada Unidade Acadêmica, a exemplo do que teremos assim que retornarmos à normalidade de nossas atividades nos campi Angicos e Caraúbas, inclusive de forma paritária entre as categorias, o que significa que valorizamos da mesma forma todas as categorias que formam nossa comunidade universitária. Por fim, mas não menos importante, quero deixar claro que quero sim representar nossa Universidade na gestão da Reitoria, mas apenas com a legitimidade da nossa comunidade acadêmica, ou seja, em primeiro lugar da lista tríplice.

PRN – Gostaríamos que o senhor apresentasse uma proposta para cada um dos segmentos que compõem a Ufersa.

RC – Estamos ainda no momento da pré-candidatura. O calendário com o cronograma de todas as etapas para a consulta à comunidade acadêmica foi suspenso pelo Conselho Universitário (CONSUNI) da UFERSA devida à suspensão de nossas atividades acadêmicas e presenciais em virtude da COVID-19. O CONSUNI/UFERSA pré-agendou uma reunião para o dia 11 de maio de 2020, a fim de que, caso nossas atividades não se normalizem até lá, haja uma definição sobre a consulta. Nosso plano de gestão permanece em construção diariamente, fruto de um trabalho coletivo elaborado com participação de pessoas de todos os segmentos da comunidade acadêmica, discentes, técnico-administrativos em educação e docentes. Construção esta realizada com muito diálogo e participação, pretendendo valorizar as pessoas, promover o bem-estar e a qualificação profissional. O que podemos dizer no momento, de forma geral é que para todos os segmentos pretendemos realizar uma gestão democrática e com planejamento estratégico, com mais participação da comunidade acadêmica e também priorizar investimentos em infraestrutura em sintonia com as necessidades da comunidade acadêmica. Significa dizer que, por exemplo, para o segmento docente vamos realizar diagnóstico situacional nos laboratórios de ensino e pesquisa da UFERSA, a fim de implantar um programa de revitalização destes a curto, médio e longo prazos, como forma de melhorar os índices acadêmicos dos nossos cursos. Faremos da mesma forma no que diz respeito à categoria dos técnico-administrativos em educação, onde pretendemos equipar e melhorar os setores que realizam atividades meio de acordo com as prioridades apontadas por cada setor para que possamos prestar cada vez mais melhores serviços em tudo o que se refere à gestão acadêmica e administrativa.  Para os discentes, de igual maneira, dentro dessa mesma linha, de acordo com as prioridades apontadas pela representação estudantil e, com responsabilidade, e um bom planejamento estratégico dentro do que for possível mediante a disponibilidade de recursos sejam estes orçamentários ou extra-orçamentários, melhorar a assistência estudantil com ações voltadas à infraestrutura da sede e dos campi, considerando fatores de sustentabilidade, segurança, mobilidade e permanência estudantil. Estaremos sempre abertos ao diálogo com as categorias, associações, sindicatos, entidades, movimentos sociais e diretório central dos estudantes. Ademais, como estamos ainda na pré-candidatura, no momento oportuno nossas propostas serão amplamente divulgadas.

PRN – A Ufersa é uma universidade com vocação para as ciências agrárias, embora já tenha cursos em várias áreas do conhecimento. A atual oferta de cursos da Ufersa atende às necessidades e potencialidades da região?

RC – A atual oferta de cursos na UFERSA atende sim. No entanto, isso não significa dizer que a Universidade não possa ampliar com a criação de outros cursos desde que pactuados com o MEC, uma vez que envolve recursos de infraestrutura e pessoal.  Na condição de pró-reitor de graduação me sinto muito à vontade para falar de forma geral de nossos cursos. Todos eles estão voltados para as necessidades e potencialidades do semiárido. A UFERSA possui atualmente 45 cursos de graduação sendo 41 na modalidade presencial e 4 na modalidade a distância. Do total, 35 cursos de bacharelado e 10 licenciaturas. No Campus Mossoró temos 21 cursos com aproximadamente 6.000 discentes e 6 cursos no campus Angicos, 7 no campus Caraúbas e 7 no campus Pau dos Ferros, cada um com aproximadamente 1.500 alunas e alunos nas diversas áreas do conhecimento. Como foi muito bem pontuado, a UFERSA é muito forte nas ciências agrárias. Trata-se da origem de nossa Universidade. O curso de Agronomia tem mais de 50 anos e temos três programas de pós-graduação strictu sensu na área das Ciências Agrárias com mestrado e doutorado, onde o de Fitotecnia possui conceito 6 da CAPES numa escala de 1 a 7, o que representa conceito internacional. Para fazer parte desse grupo de excelência, um programa precisa perder o conceito para que outro possa entrar no grupo de programas com conceitos 6 e 7. O curso de Medicina Veterinária completa 25 anos com quase 700 profissionais formados pela UFERSA em sua história, curso composto por pessoas altamente qualificadas, que presta serviços relevantes à sociedade através do Hospital Veterinário, possui uma Residência em Medicina Veterinária com candidatos de todo o país e seu ingresso é sempre muito concorrido. Podemos citar, ainda, nas Ciências Agrárias, os importantes cursos de Zootecnia e Engenharia de Pesca e mais recentemente o de Engenharia Florestal. Na área da Educação, possuímos 10 cursos com contribuições extremamente relevantes para nossa sociedade na formação de professores. No campus sede a Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo (LEDOC), recentemente avaliada com conceito 5, conceito máximo na graduação, atende a diversas famílias camponesas da nossa região formando docentes para a educação básica que atuarão de forma generalista nos anos finais do ensino fundamental e ensino médio, curso que veio a fortalecer ainda mais nossa identidade de Universidade Federal Rural. Temos 3 licenciaturas em Letras no Campus Caraúbas, sendo o curso de Letras Inglês também conceito 5 e o de Letras Libras o curso mais inclusivo da Universidade se destacando como o melhor do estado. Em Angicos temos o curso de Pedagogia e Licenciatura em Computação e Informática que são destaques em vários projetos desenvolvidos por servidores e discentes. Além disso, possuímos 4 licenciaturas na modalidade a distância que atendem ainda de forma mais abrangente nossa área de atuação na região semiárida nos três campi fora da sede, mas também em outros municípios como pólos da UFERSA, onde no último processo seletivo tivemos selecionados discentes de 92 municípios na área de alcance da UFERSA, interiorizando ainda mais nossas atividades e levando educação de qualidade numa área de abrangência cada vez maior. Destaque aqui para o nosso Núcleo de Educação a Distância (NEaD) que vem sendo cada vez melhor equipado ao longo de seus quase dez anos de existência e tem um papel fundamental e reconhecido na Instituição para disseminar as tecnologias educacionais. Pretendemos sim fortalecer ainda mais o NEaD.

Nas Ciências Biológicas e da Saúde, temos os cursos de Ecologia e Biotecnologia e o de Medicina que foi iniciado em 2016, e ainda está em fase de estruturação, mas que já conta com alguns Ambulatórios que atendem pacientes socialmente vulneráveis. A primeira turma ainda não se formou e ingressou no internato no semestre 2020.1.

Os cursos das Ciências Sociais Aplicadas têm sido referência a nível nacional alcançando posições de destaque e conceito de excelência no curso de Administração, obtendo também conceitos máximos em Direito e Ciências Contábeis. Vale ressaltar as recentes aprovações e inícios das atividades dos mestrados acadêmicos de Direito e de Administração.

A UFERSA possui ainda 7 cursos na área da Computação, sendo 1 no campus Mossoró, que possui também a pós-graduação, mas também em Angicos, bacharelado e licenciatura, em Pau dos Ferros com 3 cursos e 1 na modalidade a distância, onde os egressos e discentes vêm se destacando e alcançando posições como profissionais e estagiários em empresas a nível nacional.

No Alto Oeste Potiguar, temos o curso de Arquitetura que tem contribuído sobremaneira com, por exemplo, a elaboração do plano diretor da cidade de Pau dos Ferros e com demandas por parte das cidades de seu entorno, o que vai fazer um enorme diferencial na contribuição da Universidade para a sociedade semiárida no processo de interiorização.

No que diz respeito às Ciências Exatas e Engenharias, que juntas possuem quase 5.000 discentes, ou seja, quase metade das alunas e alunos da Instituição, a Universidade possui em todos os campi o Bacharelado Interdisciplinar de Ciência e Tecnologia, que é um curso de três anos ou três anos e meio, curso este que chamamos de primeiro ciclo. A partir desta formação de bacharelado de 2.400h o egresso pode ingressar em programas de pós-graduação, prestar concursos públicos, mas também se inserir no mercado de trabalho para atuar no setor produtivo uma vez que possui formação sólida na área de exatas. No entanto, a imensa maioria dos egressos opta por cursar uma de nossas 15 engenharias, que são cursos de segundo ciclo (quarto e quinto anos da formação superior) distribuídas nos quatro campi da UFERSA, em nove modalidades, pois temos 4 cursos de Engenharia Civil, 2 de Engenharia Elétrica, 2 de Engenharia Mecânica, 2 de Engenharia de Produção, 1 de Engenharia Química, 1 de Engenharia de Petróleo, 1 de Engenharia de Computação, 1 de Engenharia Ambiental e Sanitária e 1 de Engenharia de Software. Vale ressaltar que a Universidade vem evoluindo nessas áreas em primeiro lugar possibilitando que os docentes possam se qualificar a nível de doutorado para aqueles que ainda não possuem tal titulação e, portanto, buscando ampliar o oferecimento de formação para a sociedade a nível de pós-graduação, seja latu sensu ou na tentativa de ofertar mais cursos strictu sensu. Nossos egressos vêm ocupando cada vez mais posições no setor produtivo, o que acredito que, sem dúvida, ao longo do tempo a aproximação da Universidade com este setor vai ser facilitada. Trata-se também de uma questão cultural vencer essa barreira, mas destacamos que a Universidade vem cumprindo sim o seu papel social.

PRN – Sua mensagem final.

RC – Gostaria de agradecer o espaço no Portal do RN de poder expor as minhas ideias. Estarei sempre à disposição. Vamos trabalhar para a busca de novas conquistas para nossa Universidade com muito compromisso e pró-atividade em nossas ações. Muito obrigado!

 

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