Entrevista

Conversa da Semana com Raério Araújo

“Quem vota contra professor, vota contra o povo”

A Conversa da Semana deste sábado é com o vereador Ráério Emídio Araújo (PRB). Mossoroense nascido e criado na cidade, Ráerio é conhecido pela firmeza em suas posições. Filho do ex-vereador José Emídio, de quem herdou a paixão pela política, Raério Araújo não economiza nas palavras quando analisa a situação da politica local e a qualidade da atual administração municipal. Neste diálogo, Raério Araújo reafirma sua disposição de não querer o auxílio-combustível, elogia a gestão da presidente do Legislativo, Izabel Montenegro, apresenta seus principais projetos, reclama da facilidade que a maioria dos vereadores tem de votar contra o povo, diz sonhar que haja mudanças na política e fala sobre questões delicadas, como sua ríspida discussão com o colega Alex do Frango e a postura servil da Câmara Municipal para com o Executivo. Acompanhe:

Por Márcio Alexandre 

PORTAL DO RN –  O que foi que o motivou a ser candidato a vereador?

RAÉRIO ARAÚJO – É o seguinte: meu pai já esteve vereador aqui. Naquela época Baraúna pertencia a Mossoró e ele vinha naquela época de bicicleta. Ele amava política. Saía de manhã e chegava meia noite em casa. Nessa época não se ganhava para ser vereador e ele tinha um sonho: me colocar na política. Só que eu nunca quis. Fui jogador de futebol. Então, eu ajudei um vereador de Mossoró e depois ele se candidatou a deputado estadual, tirou uma quantidade de votos boa e depois de uma piada, após a campanha, em que ele falou que quem tinha votos era ele – e na realidade era mesmo. Nós não tínhamos votos. Então eu pensei: eu vou saber se eu tenho votos. Foi uma ideia. Tive essa ideia em 2012 fui candidato, obtive 1.153 votos e continuei o trabalho até 2016,  e graças a Deus fui eleito, tive a confiança da população. Acho que não fui votado só em dez urnas de Mossoró. Fui votado nos quatro cantos da cidade, zona rural.

Eu sempre fui um cara de palavra.

PRN – Quando você se lançou nesse projeto você impôs a si algumas expectativas, pessoais, políticas. Na sua percepção, essas suas expectativas foram atingidas?

RA – Não. Quem vai entrar na política tem um sonho. Eu sempre fui um cara de palavra, gosto de cumprir minhas palavras, tenho meu jeito. Quem me conhece sabe como sou., Tenho minha cara dura, mas eu vejo a política muito atrasada em nosso país, principalmente numa cidade como Mossoró, cidade de 300 mil habitantes. Infelizmente o vereador é eleito para baixar a cabeça para a situação, para a gestão. Mas eu vejo que tem que se mudar. Todos nós temos sonhos. Eu gosto da política. Eu estou aqui porque eu gosto. E tenho sonhos, mas na hora eu acho que vai ter que mudar a política porque a população não aguenta mais.

PRN – Qual a avaliação que você faz da sua atuação parlamentar?

RA – Eu vejo que eu tento fazer o trabalho correto. Quando fui eleito, na minha primeira entrevista eu disse que não me venderia nem me trocava por nada. Não quero trocar o mandato por emprego, como acontece muito na política. Se coloca a família em cargos, se baixa a cabeça e se dá as costas para a população. Eu quero fazer um trabalho diferente. É muito difícil você fazer 100 por cento direito porque a política não tem como você andar dessa maneira, mas eu procuro fazer o mais possível correto e atender às pessoas que tenham anseios e necessitem do poder público. Infelizmente nós estamos aí com problemas na saúde, na segurança porque as gestões não olham parta o povo.

 

Não adianta o vereador ir na sua rua todo dia e aqui dentro derrubar todos os projetos que beneficiam a população.

PRN – Há um consenso entre a população de que o Legislativo, sobretudo em Mossoró, não cumpre o seu papel, sobretudo de fiscalizar os atos do Executivo. Como vereador combativo que é, como você se sente em relação às pessoas terem essa visão sobre o poder que você integra?

RA – Eu quando dou entrevista eu falo muito sobre isso. Alguns colegas não gostam quando coloco sobre isso, que essa Casa deveria ser mais atuante. É o que acabei de dizer: eu faço meu papel. Mas infelizmente a população generaliza, mas não é dessa maneira. Acho que a população tem que acompanhar os trabalhos, ver quem está procurando fazer o trabalho correto. Não adianta o vereador ir na sua rua todo dia e aqui dentro derrubar todos os projetos que beneficiam a população. Então, eu falo muito sobre isso, algumas pessoas não gostam, mas eu falo a verdade. E eu até concordo com a população de que essa Casa deveria ser muito mais atuante do que é. Na minha opinião, o trabalho não é feito corretamente. A política antiga tem que dar espaço para a política nova.

Nós temos que brigar pela população.

PRN – Logicamente que há algumas pessoas que não concordam com seus posicionamentos e no calor do debate, nas discussões em plenário, há o risco de se exceder. Você se sente confortável hoje em falar sobre aquele episódio com o vereador Alex do Frango?

RA – Eu me sinto tranquilo porque não houve aquilo, inclusive ele mesmo negou que tenha dado batido em mim. Eu até ri. Mas eu tenho amizade com Alex, achei estranha a atitude dele. Nós discutimos na sala da presidência mas não teve nada daquilo que foi noticiado. Eu acho que ele não quer bater em mim nem eu quero bater em ninguém. Ele faz o trabalho dele, eu faço o meu. Eu vejo com tristeza porque a população quer outro tipo de ação. Não adianta eu brigar com ele. Nós temos que brigar pela população. É o trabalho que eu faço, por isso que digo que me sinto tranquilo.

PRN – Dois episódios ocorridos esse ano depuseram um pouco sobre a imagem da Câmara Municipal, como por exemplo o retorno da verba de gabinete e o auxílio-combustível, e você foi contra. Acredita que para a população ficou claro que você não com concordou com aqueles benefícios para os vereadores?

RA –  Até isso aí muita gente fala que alguns vereadores dizem que não recebem. Que tem 4 ou 5 vereadores que abdicaram daquilo. Eu fui o primeiro a abdicar. Por quê? Porque eu vejo a situação da população. Nós não temos segurança, nós não temos saúde. Quantas pessoas temos numa fila esperando uma cirurgia? Então eu me senti no dever de fazer a minha parte. Mas eu creio que a população deve procurar saber quem são e como são feitos os trabalhos na Câmara de Vereadores para quando se colocar uma pessoa aqui não ter a decepção. Eu entendo assim: não adiantar colocar o novo para quando chegar aqui ficar velho. Se se vende fica mais velho do que quem já estava lá. Eu fico tranquilo sobre isso, não quero, sempre fui contra e quando falaram a primeira vez sobre isso aqui eu fui contra e alguns vereadores disseram assim: eu quero ver quando chegar se você não recebe. Eu me antecipei e até hoje não usei, não quero. Vou fazer meu trabalho como vinha fazendo.

Eu entendo assim: não adiantar colocar o novo para quando chegar aqui ficar velho.

PRN – Outro episódio que lançou os olhos da população sobre a Câmara Municipal foi a aprovação do projeto do reajuste do Piso dos professores num percentual abaixo do que o que a lei determinou. Qual a avaliação você faz daquele momento?

RA – Eu, quando entrei aqui, vindo da minha campanha, eu dizia direto que não votaria contra o povo. Na minha opinião, quando eu voto contra o professor, eu estou contra o povo. Um professor desmotivado não é bom para a população, principalmente para os jovens e as crianças. Mas eu me senti tranquilo porque eu fiz a minha parte. Eu vejo que quem paga sempre o pato é a população. Quando se coloca um projeto que a prefeitura devolve, que ela veta, passa a ser errado o nosso projeto. Mas quando é contra o povo sempre é certo. Eu digo constantemente que quem perdeu com aquele episódio foi a população. Quando é para dar aumento ao servidor há uma série de dificuldades. Quando se aumenta algo contra a população, como aconteceu com o reajuste do IPTU ninguém pergunta se vai ter impacto financeiro no bolso do contribuinte. Mas fizeram. Até hoje tem caso de aumento de até mil por cento e a população está pagando o pato.

Se a população começar a assistir a TV Câmara e participar aqui no plenário, ela vai começar a entender a política e ela vai mudar.

PRN – Não é um nível de subserviência muito grande quando um vereador vota contra seus próprios projetos para agradar à prefeitura? Isso não o desanima enquanto homem público?

RA – Eu fico triste com isso porque inclusive há fatos que se eu chegar em determinada comunidade levando o nome de algum vereador que tenha levado esse projeto, a população diz: esse projeto ele mesmo derrubou. As emendas que a gente colocou para a população, ele derrubou. O vereador até chega dizendo em alguns locais que apresentou esse ou aquele projeto, mas ele não diz que ele mesmo votou contra depois. É preciso que as pessoas acompanhem o trabalho lá dentro. É o que sempre falo: se a população começar a assistir a TV Câmara e participar aqui no plenário, ela vai começar a entender a política e ela vai mudar. Eu fico triste, porque um projeto dá trabalho, envolve muita gente e no fim não é aprovado.

PRN – Cite um projeto seu que foi vetado pela prefeitura.

RA – Eu fiz um projeto destinando 5% da taxa de iluminação pública para a Liga de Estudos e Combate ao Câncer. Qual família hoje não tem uma pessoa com câncer? Fiquei triste porque foi vetado e eles acompanharam o veto e quando chegam no hospital é abraçando e beijando todo mundo. Se eu for contra, sou contra. Se for a favor, sou a favor. Não vou abraçar ninguém com a faca nas costas.

Todas as emendas impositivas do ano passado foram vetadas.

PRN – Segunda-feira se encerra o prazo para apresentação de emendas à Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO 2020). Quais emendas você pretende apresentar?

RA – Aí onde está. Coloquei projetos, vou colocar emendas e vão ser vetadas como foi com as emendas impositivas. Todas as emendas impositivas do ano passado foram vetadas. Estou fazendo algumas emendas, inclusive queria sentar com o pessoal da oposição para direcionarmos essas emendas para alguns lugares. Tem bairros em Mossoró que não tem nem como se andar. Eu, por exemplo, moro na Pousada das Thermas dentro da lama. No Sumaré tem carro que está 30 dias em casa porque não tem como sair. É uma tristeza uma cidade do porte da nossa está numa situação dessa. Inclusive fui a Brasília e deixei ofícios solicitando emendas para Mossoró sobre isso. Conversei com Benes (Leocádio, deputado federal) e ele protocolou emendas para calçamento e asfalto em Mossoró. Um lugar como a Maisa, todo saneado e não tem uma pedra. Mas quando chega na campanha, o cara vai lá promete. Colocamos emendas para o loteamento Dix-huit Rosado, e quando é construído a prefeitura autoriza a venda, depois diz que é clandestino. Hoje tem quase 600 casas construídas lá e praticamente abandonadas, sem água, sem iluminação pública.

Eles botam coisas na LDO que não existem.

PRN – Na sua opinião, Mossoró tem política de esporte?

RA – Por coincidência eu participei agora de audiência pública da LDO e os secretários falaram e eu pedi a palavra e disse a eles que era uma aberração na LDO ampliação e manutenção do Nogueirão, esporte na zona rural, esporte amador, craque do futuro (que o secretário disse que não existe mais), o Nogueirão se acabando daquela maneira. Interessante que o Nogueirão foi para a prefeitura e hoje eles dizem que não. Na LDO, existe o Nogueirão.  Solicitamos através do deputado federal Rafael Mota recursos para reforma do Nogueirão, ele ficou animado e pediu um projeto nesse sentido. Até gincana na zona rural tem. E eu brinquei no microfone quando disse assim: a gincana que tem na zona rural é pular lama? É sem lógica. Eles botam coisas na LDO que não existem. Onde é que existe um campeonato amador patrocinado pela prefeitura? Os juízes não receberam ainda pelo trabalho de dois três anos atrás. O ginásio, que está com uma obra de quase 600 mil reais, está parado. Não se tem uma caneta para assinar o ponto, uma bola, aí dizem que é secretaria de esportes. Mas tem 30 funcionários lá. Inclusive funcionários capacitados, mas não tem o que fazer, porque a secretaria não tem sequer uma bola.

O que adianta você ser secretário se você não tem autonomia?

PRN – Qual a nota você dá para a atual administração municipal?

RA – Quero dizer que a atual administração é muito antiga. Hoje em dia estamos com secretários de trinta anos atrás. O que adianta você ser secretário se você não tem autonomia? Qual a secretaria que tem autonomia aqui? De zero a dez dou a metade porque a cidade não merece um zero. Nós não temos luz porque não temos investimento na cidade. Pagamos impostos caríssimos para pagar funcionários. Cidade que não tem investimento, só paga a funcionários e comemora operação tapa-buraco.

PRN – Você deu nota 5. Nessa média, é possível citar um grande acerto da administração?

RA – Não tem. Mas eu vejo uma coisa positiva: tentar iludir a população como se iludia há 30 anos.

PRN – E qual o principal erro?

RA – Não dar autonomia a quem trabalha, aos secretários.

PRN – Qual o grande acerto da Câmara Municipal?

RA – Hoje eu vejo a administração da Câmara Municipal, através da vereadora Izabel Montenegro,  muito reta. Vejo funcionário ativo e vereadores que estão aqui há mais tempo dizendo que nunca houve uma administração tão boa. Uma administração que vem pagando  rombos e rombos de gestões passadas, de banco de tudo. Um dos acertos é pagar tributos em dia, pagar funcionários em dia, mas falta consertar muita coisa.

Infelizmente, o principal erro (da Câmara) é entregar o poder ao Executivo.

PRN – Qual o principal erro do Legislativo?

RA – É se manter como há 30 anos. Baixar a cabeça para o Poder Executivo. O vereador nos novos tempos tem que ter autonomia, a Câmara tem esse poder. Infelizmente, o principal erro (da Câmara) é entregar o poder ao Executivo. Dar um cheque em branco à pessoa que vai trazer problemas para a própria Casa.

PRN – Por tudo o que você já passou até agora, você se anima a tentar continuar vereador?

RA – Eu gosto da política. Quem se animar a entrar na política, entre por gostar. Gosto disso aqui, pretendo continuar na política, me motiva poder ajudar às pessoas.

PRN – Há muito tempo você vem lutando pelo credenciamento do Hospital São Luís ao Sistema Único de Saúde (SUS). Por que esse credenciamento não saiu ainda?

RA – Porque isso atrapalha outros fins de alguns. Mas tem gente morrendo por falta de leitos. E veja que na audiência teve gente dizendo que não tem fila na saúde. Se não tem é porque morreu. Tem mais de 3 mil pessoas esperando na fila algum serviço de saúde em Mossoró.

Não é justo você pagar R$ 400 mil a um artista de fora e um daqui pagar com R$ 1 mil para abrir o show desse artista.

PRN – O espaço está à sua disposição para você falar sobre seus projetos;

RA – Eu tenho vários projetos aqui, mais de 30. Projetos interessantes como esse da Liga, que daria em torno de R$ 40 mil a R$ 50 mil para ajudar na manutenção da Liga. Tem um projeto que roda desde 2017, que é o Roda a Vida, um banco virtual de cadeira de rodas, muleta, andador, cama hospitalar. Coloquei um projeto que prevê que o pagamento do cachê do artista da terra que se apresentar no Mossoró Cidade Junina seja de 10% do valor pago ao artista de fora. Não é justo você pagar R$ 400 mil a um artista de fora e um daqui pagar com R$ 1 mil para abrir o show desse artista. Teria que ser pelo menos 10% orque esse dinheiro iria estruturar. Hoje, se um artista de Mossoró cantar no Mossoró Cidade Junina e após o show, ele levar a mulher e o filho para comer um cachorro quente, o dinheiro que ele ganhou se acaba.  Tem um projeto de zoneamento da cidade que eu acho importantíssimo. Nós temos comunidades importantes como Riacho Grande e Barrinha, muito próximas mas que não chegam benefícios. Por que? Porque é considerado zona rural, não tem água, luz. Então se for feito esse estudo de zoneamento , ele vai ter serviços de Correios, Caern e outros. Nós temos no Riacho Grande um presídio federal, um presídio estadual e uma cadeia pública e não se tem segurança de nada.

 

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