O comércio de Mossoró é um dos maiores e mais fortes do Estado. Nesse setor, o segmento supermercadista é um dos que mais tem crescido, tornando necessária a criação de uma entidade representativa dos seus empregados. Foi nesse contexto que foi criado o Sindicato dos Empregados no Comércio Varejista e Atacadista de Gênero Alimentício de Mossoró, o SINDISUPER. O surgimento do sindicato, presidido por José Rodrigues, fez aumentar a sindicalização dos trabalhadores da área, além de tornar possíveis conquistas importantes para a categoria. Esse é um dos temas abordados pelo sindicalista nessa Conversa da Semana. Ele explica como seu deu a criação do SINDISUPER, lembra da importância do Secom (Sindicato dos Empregados no Comércio de Mossoró) para o fortalecimento da categoria e do movimento sindical e aponta desafios e demandas dos trabalhadores dos supermercados.
Por Márcio Alexandre
PORTAL DO RN – Os empregados dos supermercados eram representados pelo Sindicato dos Comerciários. Por que a criação do Sindicato dos Empregados nos Supermercados (SINDISUPER).
JOSÉ RODRIGUES – As demandas do setor do supermercados, desde as negociações e as condições de trabalho tem nos desafiado a criar uma organização para responder os interesses da categoria, e focar no setor. Claro os comerciários deste ramo de alimentação tem também características diferenciadas do comércio varejista, originando daí a necessidade de uma entidade que atuassem defendendo as pautas dos funcionários dos supermercados. Outro ponto importante é que estamos cada vez mais próximos da categoria. Quando estavam todos sob responsabilidade do sindicato dos comerciários não dava para atender de forma tão próxima, tão específica. O comércio é muito grande.
PRN – E em termos de contrapartida da categoria, houve algum retorno dos trabalhadores?
JR – O nível de sindicalização aumentou muito mais. Quando estavam todas as categorias comerciárias juntas, não chegava a 200 sócios. Hoje, o SINDISUPER tem aproximadamente 700 associados. Mesmo com toda a ofensiva dos supermercados contra a sindicalização. Ressaltando sempre a grande importância que o Secom (Sindicato dos Empregados no Comércio de Mossoró) teve para o crescimento da categoria.
PRN – Do setor comercial, o trabalho nos supermercados é visto como o mais “puxado”. Isso representa mais demandas para o sindicato que representa esses trabalhadores?
JR – Não existe crise no setor, e esse fator tem garantido a viabilidade dos direitos. Tem sido poucas empresas que não respeitam os direitos. O SINDSUPER tem tido presença constantes nos locais de trabalho, sem falar na comunicação virtual com a categoria. Isso tem diminuído a negação dos direitos.
Com relação os adicionais de pagamento do trabalho extra, as empresas tem feito o pagamento como determina a nossa convenção.
PRN – Os supermercados quase não fecham mais, fazendo com que os funcionários tenham que trabalhar domingos e feriados, implicando no pagamento de adicionais e outros direitos. Isso está sendo respeitado pelo patronato?
JR – Com relação os adicionais de pagamento do trabalho extra, as empresas tem feito o pagamento como determina a nossa convenção, que é uma diária em dobro, direito esse conquistado a partir da luta do SINDSUPER.
PRN – Os funcionários desses estabelecimentos foram algumas das categorias que não pararam na pandemia. Como tem sido a incidência da covid entre esses profissionais?
JR – A gente tem verificado poucas contaminações da Covid 19 no setor, esse processo acompanhamos diariamente, garantindo a liberação dos trabalhadores de risco.
PRN – A pandemia chegou a afetar o setor supermercadista, a ponto de terem sido realizadas demissões por causa da crise? Ou houve aumento de demanda e criação de novas vagas?
JR – O setor tem se firmado enquanto setor essencial, sendo constatadas poucas demissões no setor. Mas também aconteceram algumas poucas contratações no ramo supermercadista.
PRN – O SINDISUPER realizou campanha de conscientização sobre a Covid. Quais foram as atividades realizadas?
JR – O SINDSUPER fez uma campanha de entrega de máscaras aos trabalhadores. A nossa estratégia de fazer uma campanha contou com as seguintes táticas: conscientizar a categoria da importância do uso de máscara e o fornecimento por parte da empresa; fiscalização das empresas na garantia do distanciamento e os decretos de combate à Covid-19; escuta da categoria a respeito da pandemia. Então, o nosso papel não se resumiu à distribuição de máscaras, esse é o papel das empresas.
PRN – De maneira geral, quais os principais problemas enfrentados pelos trabalhadores dos supermercados?
JR – Por incrível que pareça nossas negociações tem sido bem melhores em relação aos empresários supermercadistas. Antes nós tínhamos muitos problemas. São setores completamente diferentes (comerciários e empregados de supermercados), e às vezes tinha possibilidade de fechar negociação boa para um setor, mas outro setor queria outra coisa, e isso dificultava. Hoje, em relação aos supermercados, nós temos uma das melhores convenções do Nordeste.
PRN – O que essa convenção permitiu de conquistas?
JR – Nós conseguimos por dois anos a prorrogação dos direitos sociais, como quebra de caixa, quinquênio. Em alguns locais, esses direitos caíram e nós mantivemos. Nós conseguimos por 3 anos prorrogar as cláusulas sociais e negociar apenas o salário. Conseguimos um reajuste acima do INPC e a gente conseguiu um reajuste salarial de 3,39%. Também temos mantido alguns feriados. Há um desejo do patronato de abrir tudo, mas temos mantidos alguns feriados.
O trabalho intermitente diminui sistematicamente o valor do rendimento do trabalhador.
PRN – E em termos de negociações com os patrões, quais demandas ainda não foram atendidas?
JR – Os maiores desafios tem sido barrar essa retirada de direitos, que é uma pauta nacional. Há uma imensa ofensiva, tanto do governo quanto dos patrões, de reduzir direitos. Tivemos derrotas porque são de questões gerais, não é específico da categoria. Uma questão muito nociva tem sido o trabalho intermitente e que tem nos deixado inquietos. Porque o trabalho intermitente diminui sistematicamente o valor do rendimento do trabalhador. Ele trabalha menos, é verdade, mas com o trabalho intermitente ele precisa ter dois, três vínculos para suprir suas necessidades e de sua família, para completar o salário. Infelizmente, esse é um tipo de contrato de trabalho que tem crescido a cada dia entre a categoria, e isso nos preocupa. Poucas empresas não aderiram a esse tipo de contrato de trabalho.
PRN – Qual a expectativa do setor para o fim do ano que se aproxima?
JR – Nossa expectativa é que cresça na categoria esse sentimento de importância do sindicato, como a diretoria tem avaliado e como temos visto diariamente até agora.