Entrevista

Conversa da Semana com Cláudia Regina

A advogada Cláudia Regina fez história na política de Mossoró ao vencer, em 2012, a eleição que, depois de várias décadas, interrompeu a sequência ininterrupta de pessoas com sobrenome Rosado no comando da prefeitura da cidade. Cláudia também teve seu nome marcado na história como a primeira prefeita do município a ser cassada pela Justiça. Esse aliás é um fato que marcou bastante a vida dela, mas que hoje já está totalmente superado. Esse é apenas um entre muitos temas abordados nessa entrevista por Cláudia Regina, que agora ganhou condição jurídica de disputar as próximas eleições. “Estou à disposição”, diz, com muita alegria e entusiasmo. Sem fugir a nenhuma pergunta, e sempre de forma bastante assertiva, Cláudia apresentou respostas firmes aos diversos questionamentos. Acompanhe a Conversa da Semana na íntegra:

Por Márcio Alexandre

PORTAL DO RN – A viabilidade jurídica de uma possível candidatura sua mexeu com os bastidores da política. O que isso representa para a senhora?

CLÁUDIA REGINA – A grande oportunidade que eu tive a partir da possibilidade da alteração da data da eleição me possibilitou ser votada. E dentro desse contexto de ser votada me acendeu a vontade, o desejo de contribuir de uma forma mais efetiva com minha cidade. Diante do meu afastamento, eu passei praticamente 8 anos sem poder ser votada, mas nunca me afastei dos problemas e da busca de soluções para a cidade de Mossoró. E agora com o olhar em cima das ações que conseguimos viabilizar em 2013 e como as ações que hoje são necessárias não diferem, pelo contrário, os problemas estão muito mais agravados que em 2013, me deu uma grande possibilidade de eu poder me colocar de forma muito mais efetiva para a população de Mossoró. É tipo você estar trabalhando e poder dizer agora: estou aqui, por inteiro, completa, livre.

PRN – Por tudo o que a senhora passou, inclusive por ter sido impossibilitada de concluir um mandato que o povo lhe conferiu, é natural que a senhora queira ser candidata novamente?

CR – O sentimento de 2013, de quando nós fomos afastada – fomos eleita em 2012, passamos 11 meses no mandato -, e fomos afastados por processos, nenhum cometido por mim ou por meu vice Wellington Carvalho, mas conseguimos fazer em 11 meses ações que a população de Mossoró esperava há 30 anos. Há 30 anos a comunidade do Tranquilim esperava sair daquela condição subumana que as pessoas viviam ali. E em 2013, tivemos a oportunidade, ouvindo o desejo das pessoas, calçando projetos técnicos com projetos bacanas, com ajuda do governo federal, conseguimos viabilizar a que fossem construídas 500 casas para a comunidade do Tranquilim e eles pudessem sair daquela condição subumana. A possibilidade de você proporcionar às pessoas algo bom, que elas esperavam há mito tempo, e que você coloca seu trabalho, e juntam-se as parcerias para viabilizar, claro que quando a gente vê que a cidade, depois de 8 anos continua com os mesmos problemas de 2013, e que não foram encontradas soluções durante esse período para solucionar os problemas, claro que você tem vontade de poder contribuir de uma forma efetiva. É por isso que nós estamos colocando nosso trabalho, nossa disponibilidade, nossa vontade de acertar e de contribuir com a cidade de Mossoró.

PRN – E por que toda essa vontade, toda essa disposição?

CR – Porque eu tenho uma dívida de gratidão muito grande para com Mossoró. Mossoró, Márcio, me acolheu durante esses quase 8 anos de uma forma muito carinhosa, de uma forma muito acolhedora, e a forma que a gente retribui tudo isso é com trabalho, com carinho que a gente pode dispensar as pessoas. Então claro que tenho vontade sim de contribuir de forma mais efetiva. Mas para isso estou juntando parcerias, porque a gente não é candidato de si mesmo. Estou juntando as forças, juntando instituições e construindo um projeto alternativo para a cidade de Mossoró, para que as pessoas, em 15 de novembro, possam ter isso, possam ter um projeto diferente do apresentado pela atual gestão. É para isso que a gente se presta, é isso que a gente se propõe a fazer.

PRN – A senhora falou em parcerias. A atual prefeita, por estar no cargo, e pelo próprio histórico político-eleitoral, figura como favorita. Para a senhora, vencê-la passa necessariamente pela união de forças em todo de um candidato forte da oposição?

CR – Eu sempre defendi que a gente não faz nada sozinho. Ninguém constrói nada sozinho e num projeto desses, do tamanho de Mossoró, com o compromisso que nós estamos assumindo com Mossoró, não vai ser diferente. Para isso nós estamos conversando, juntando forças. Já tive a oportunidade de estar com 11 partidos que acreditam que pode se caminhar juntos, construir uma alternativa desse projeto para Mossoró, para apresentar à população. Então, acredito na junção de forças e acredito também no compromisso público e político dos cidadãos e cidadãs que estão envolvidos através desses partidos. Acredito demais nessa junção de forças para construir esse projeto alternativo, acredito muito.

O que pode vir a impedir? A gente não conseguir juntar as parcerias e viabilizar esse novo projeto para Mossoró.

PRN – Por todo o contexto que temos hoje, o que a impediria de ser candidata?

CR – Uma candidatura só se concretiza se tiver parcerias. O que pode vir a impedir? A gente não conseguir juntar as parcerias e viabilizar esse novo projeto para Mossoró, por acreditar que a gente não consegue fazer nada sozinho. Se não juntar pessoas que acreditam, porque quando a gente pensa num projeto alternativo a gente não pode pensar num projeto para uma campanha política, a gente deve pensar num projeto de gestão. O projeto que a gente está concebendo e construindo já tem indicadores. Por exemplo: o que vamos fazer nos 100 primeiros dias de gestão? Porque todo mundo quando vota, acredita e fica esperando o que vem de novo e o que pode mudar a situação atual. Para se viabilizar um projeto desses, você tem que ter parcerias que estejam comprometidas com esse projeto. O impedimento seria se a gente não conseguisse viabilizar as parcerias necessárias para tal. Fora isso, a vontade de fazer, o conhecimento técnico Mossoró tem inteiro, pessoas que tem compromisso com Mossoró, então teríamos a condição de ficar mobilizando um projeto que faça a diferença na vida das pessoas.

PRN – A senhora aceitaria ser candidata a vice-prefeita?

CR – Eu não estou tratando nesse momento de postular qual cargo porque tenho certeza que não interessa às pessoas hoje quem vai ser candidato a quê. Isso vai ser escolhido quando do calendário eleitoral, nas convenções partidárias. O que interessa para o cidadão é saber o que pode ser feito para resolver o problema que tenho hoje, de onde vou tirar o dinheiro para pagar as contas no final do mês, como é que vou fazer a feira para botar o almoço na mesa. Isso é o que interessa às pessoas. Nós estamos num período totalmente atípico. Essa pandemia veio para mudar. Algo invisível transformou de uma forma real a vida das pessoas. O mundo parou diante de algo invisível. Isso não é qualquer coisinha que a gente pode deixar no canto da parede e não dar nenhuma importância. Então a importância que hoje se dá é ao que a gente sempre defendeu: o cuidado com as pessoas, o compromisso de como eu posso ajudar as pessoas com tudo o que estudei, tudo que tenho vontade de fazer. Dar força a outras pessoas para construir de uma forma efetiva através de ações concretas para a população. Não se trata de qual cargo estamos dispostas a enfrentar ou não, se trata de qual projeto político nós temos para a cidade de Mossoró. É isso do que se trata. Já fui vereadora, já fui vice-prefeita e já fui prefeita. Deus me dá uma condição muito favorável de poder ter um observatório em cima desses três cargos que serão disputados na eleição de 15 de novembro. Quero dizer que meu projeto é, nesse momento, contribuir de forma efetiva para ter uma alternativa de gestão para Mossoró.

PRN – Como a senhora avalia a atual gestão de Mossoró?

CR – Tenho ouvido muito as pessoas recamar da atual gestão. Eu não vou sair por aí só reclamando da atual gestão. Eu aponto o que eu não concordo, mas eu coloco uma proposta para mudar aquilo que eu não estou gostando. Então é a isso que me proponho. Me proponho a trabalhar e poder efetivamente contribuir para a melhora da qualidade de vida das pessoas. É esse o meu compromisso.

Algumas críticas que eu possa fazer à atual gestão passam principalmente por isso, pela ausência de sentar com as pessoas, e reconhecer que as forças vivas da cidade precisam ser ouvidas, precisam ser levadas em conta.

PRN – Há uma série que questões mal resolvidas ou pelo menos mal explicadas da gestão Rosalba Ciarlini, como por exemplo, o débito da gestão com o Previ Mossoró. A oposição explora pouco os erros da atual administração municipal?

CR – Eu costumo fazer com muita responsabilidade qualquer análise da postura, principalmente política, das pessoas, como elas se movimentam, como elas executam. Eu costumo muito analisar o que eu faço. Eu não posso intervir no movimento do outro, mas eu posso, olhando para o movimento do outro, tomar uma decisão para os meus movimentos. A análise que eu faço é: como Cláudia se portaria ou analisa, determinadas situações, como por exemplo, a da Previ. Eu estaria conduzindo de um outro formato. Embora que, sabendo que a gente precisa juntar forças com os servidores, com as entidades, para se encontrar soluções para as crises, inclusive a que está apresentada agora da Previ, e também de outras crises, como a da Covid-19. A gente não pode ter decisão unilateral, a gente tem que ter uma decisão consorciada, com grandes colegiados. Se supera crises dessa forma. Em 2013, assim que eu assumi eu me deparei com duas crises primordiais: uma crise do transporte público, com as empresas querendo uma alteração da tarifa, foi explodindo no país inteiro essa questão do aumento da tarifa, e uma não aceitação das pessoas ao aumento dessa tarifa, então comecei os primeiros dias me deparando com isso. Empresas parando o serviço. O que foi que eu fiz? No terceiro dia da gestão, ao invés de eu ficar na queda de braço, num cabo de guerra, com as empresas, com os estudantes fazendo movimento, eu trouxe todos para a mesa para conversar no Palácio da Resistência. Trouxe Ministério Público, trouxe patronato, tudo o que fosse ligado a esse segmento. Porque o problema público não está restrito à gestão. O problema público a solução dele cabe a todos que estão morando, vivendo naquela cidade. E encontramos uma alternativa de solução quando juntamos todos. Quando ouvimos e deixamos todos dizer o que pensavam, juntamos as opiniões e chegamos a um consenso para encontrar uma solução. Foi assim também quando em 2013 as crianças de Mossoró não nasciam em Mossoró, nasciam em Russas, no Ceará. A Maternidade Almeida Castro estava com dificuldades e as crianças não estavam mais nascendo em Mossoró. O que foi que eu fiz? Trouxe para a mesa a direção da maternidade – e diga-se de passagem que naquele momento era coordenada pelo grupo que me fez oposição, que concorreu comigo nas eleições. Chamei o Ministério Público, chamei todos os segmentos organizados, e disse: Mossoró precisa de seus filhos nascendo em Mossoró. Encontramos uma solução em conjunto. O conviver com as diferenças, respeitando as opiniões diferentes, desde que se possa tirar um pouco de cada o que é colocado, tanto criticado quanto proposto, para encontrar um caminho alternativo. Então, algumas críticas que eu possa fazer à atual gestão passam principalmente por isso, pela ausência de sentar com as pessoas, e reconhecer que as forças vivas da cidade precisam ser ouvidas, precisam ser levadas em conta. Eu sinto falta disso. Todas as coisas que a gente ia fazer, a gente juntava o Judiciário, o Ministério Público, as igrejas, os segmentos organizados, o comércio, a indústria, o cidadão comum, porque interessa a todos a solução dos problemas. Tenho certeza que ninguém mora querendo o pior para a cidade, e todo mundo tem algo a contribuir. Então é nesse segmento que digo como me movimentaria no momento de crise. Não analiso se A, B ou C não estão agindo certo, mas eu digo como eu agiria no momento de crise, de enfrentar um problema, e cada um tire suas próprias conclusões, porque acho que cada um tem o discernimento para fazer.

PRN – Quais seriam, na visão de Cláudia Regina, as grandes questões da cidade que deveriam estar sendo enfrentadas com um olhar diferenciado do que está tendo agora?

CR – Acho que um olhar diferente para quem teve a Covid-19, para as famílias que tiveram que enfrentar a doença. E também dar um apoio a quem não teve a doença e está morrendo de medo de ter. Isso tem que ser olhado com a saúde mental nesse momento. Precisa ser olhado com um olhar muito refinado e o refinado que eu digo é o do cuidado e do zelo. Precisamos nos importar com que respostas as pessoas estão dando diante da pandemia. Ai vem um outro agravante: a pandemia gerou esse desconforto da falta de saúde mental para as pessoas. A quantidade de gente deprimida  é imensa, a quantidade de gente que está com síndrome do pânico é imensa,  nós precisamos olhar para isso. E isso foge do trivial, isso foge das programações iniciais, mas é emergencial e precisa ser olhado. Muito me entristeceu que a Câmara Municipal fez uma proposição para a prefeitura de Mossoró, para pegar dentro da estrutura se organizar e oferecer um atendimento desses às pessoas e aos profissionais de saúde. A prefeitura simplesmente vetou uma proposta dessas. E tem outra preocupação: o que a gente faz com os profissionais liberais, com os ambulantes, com o pipoqueiro, que ia todo dia para a frente de algum evento vender sua pipoca? O que a gente está fazendo hoje com esse pipoqueiro? Ah, ok, recebeu o auxílio emergencial. Mas o que é que a gente faz com o auxílio emergencial que daqui a pouco desaparece? Isso muito me preocupa. O olhar tem que ser diferenciado nesse sentido porque a urgência e emergência exigem que a gente cuide das pessoas e de suas famílias. A prefeitura de Salvador está dando um exemplo para o país. O que a prefeitura de Salvador fez? Se importou com as pessoas. ACM Neto (prefeito de Salvador) juntou-se a Rui (Costa, governador da Bahia), que são opositores políticos, mas se juntaram administrativamente em prol do povo e criaram um auxílio emergencial próprio através do qual a prefeitura de Salvador dá 50% e o governo do Estado dá 50% e garante às pessoas uma condição de viver com o mínimo para não estar passando fome, porque senão estaria passando fome e saqueando. Isso é algo importantíssimo que precisa ser olhado e não vejo ninguém olhar para isso. Precisa-se de um olhar para as indústrias, para as empresas, para garantir empregos formais. Enfim, esse momento emergencial é para a gente agir agora.

PRN – Como a senhora analisa a situação da segurança na cidade?

CR – As pessoas estão gritando pela ausência de segurança. Acabaram com a Base Integrada Cidadã que nós criamos, que em 40 dias zerou os homicídios do grande Santo Antônio, e virou exemplo para o país inteiro. Criamos em 2013 e em 2014 o Governo Federal ia implementar o modelo case de sucesso da Base Integrada Cidadã no país inteiro. E para isso o que o Governo Federal ia dar para a gente? Ia nos dar a garantia de montar uma estrutura para Mossoró de mais 5 BIC´s, incluindo a zona rural. E por que? Porque foi um case de sucesso. O que acontece nas outras gestões? Acabam, simplesmente porque foi uma coisa feita por Cláudia e não é mais Cláudia que está no governo, acaba. Quem paga o pato disso? A população. Então é algo que precisa ser olhado, e é isso que a gente quer apresentar à cidade de Mossoró: essa alternativa, esse olhar diferente, respeitando as diferenças, mas encontrando alternativas juntos para os problemas.

Tirou o povo da prefeitura para se concretizar um projeto de poder que vem há anos e anos nessa cidade que eu não preciso destacar porque todo mundo conhece.

PRN – Ainda sobre 2013: o processo de cassação é, em si algo dolorido, mas o que foi mais marcante e qual o grande aprendizado político para a senhora daquele episódio?

CR – Acompanhe comigo. Vou colocar o caso em você e em seus eleitores. O que é que mais dói em alguém quando você está com um projeto em plena execução, de sucesso absoluto, com a população participando ativamente desse processo, aí de repente, com você tendo erradicado, em 11 meses, a favela do Tranquilim, UTI pediátrica salvando a vida de crianças, com a Base Integrada Cidadã, o Projeto Paz e Luz, que era um monte de ações integradas junto à Base Integrada Cidadã, a A e C trazendo 2 mil empregos, o Plano de Desenvolvimento Rural onde todos da zona rural estavam participando, com perfuração de poços e em torno desses poços uma vida que era construída em sistema de mandala para produção, enfim, n situações, que se a gente tivesse como colocar tudo seria um mundo, tudo isso sem feito dentro de um planejamento estratégico, inclusive com o projeto de urbanização e limpeza do rio Mossoró, aí de repente chegam para você e dizem assim: sai, sai, sai, sai do caminho que tudo que tu fazendo não adiante de nada, sai, sai, sai?. Márcio, meu amigo, eu fui para o fundo do poço. Eu passei vários dias sem condições de sair do meu quarto. Quando comecei a sair e a andar pela cidade de Mossoró, eu só chorava,. Então essa foi a grande dor: de você estar fazendo algo em que você acreditava, em que o povo estava acreditando com você, e alguém chega e diz: sai do caminho, você está incomodando. Nada disso que tu tá fazendo é bom e nós vamos tirar. Um jogo de poder grande. Tirou o povo da prefeitura para se concretizar um projeto de poder que vem há anos e anos nessa cidade que eu não preciso destacar porque todo mundo conhece. Eu tive que emergir, eu tive que sair do fundo do poço. E em que foi que eu me pautei? Indo para as ruas de Mossoró, fazer o que eu sempre fiz a vida inteira. Ações sociais com as pessoas da cidade de Mossoró. Fui para as pontas de ruas. Foi nas cozinhas, do Santo Antônio, do Belo Horizonte, do Dom Jaime, do Sumaré que eu fui tendo forças com essas pessoas mais humildes, vendo que elas viam que eu não tinha culpa nenhuma nas coisas, e fui tendo força para continuar fazendo o que eu sempre fiz, que faço isso não por voto, ou por qualquer coisa, mas porque preciso disso para me nutrir. Eu me nutro com alegria no olho da criança, do idoso, de algum bem que está sendo feito, porque está sendo feito pra ela, mas está sendo feito muito mais para mim, que me nutro com isso. E fui ganhando forças. Então estou até hoje aqui de pé, com condições, graças a Deus, curada, fui me preparar, fui me formar numa academia de gestores internacionais, a Academia Ubuntu, em Portugal, que tem como princípio Nelson Mandela, Luther King, Madre Teresa, Gandhi, grandes gestores, que tem como princípio o servir. Fui beber nessas fontes, peguei os trabalhos sociais que faço na Igreja católica, isso me dava uma força para dar uma mexida, para eu ver que estava viva e que tinha um potencial inteiro pela frente, que não era só um cargo que iria me aniquilar, ou a maldade que tinham feito a mim. A fé, o carinho da pessoas, a confiança e condição de me preparar tecnicamente me deixaram aqui hoje, pronta para esse momento. Então estou olhando para você e dizendo: estou pronta, limpa, livre e cheia de disposição para continuar servindo a Mossoró.

Nunca me coloquei como vítima. A condição de vítima é uma condição que tem um peso muito grande.

PRN – Uma candidatura da senhora lhe dá a possibilidade do discurso de que foi injustiçada nas condenações. Mas também dá aos adversários a opção de condená-la por elas. A senhora já pensou nisso?

CR – Olha, eu não temo nenhuma das duas coisas. Primeiro porque nunca me coloquei como vítima. A condição de vítima é uma condição que tem um peso muito grande. É como se você olhasse e dissesse assim: não tenho capacidade de sair do fundo do poço. Eu tive capacidade de sair do fundo do poço. Eu quero trocar a condição de vítima por resiliência. A condição que eu tive de reescrever a minha história, reeditar minha história, poder dizer às pessoas que é possível, quando alguém faz muito mal a gente, e acha que vai impactar a gente, a gente superar. Quem faz mal a gente esquece que tem pessoas que tem Deus no seu coração, a fé como uma fonte muito viva, e esquecem que nós somos semente, e semente morre para poder viver. Então eu troco a vítima pela resiliência, pelo reeditar, para que sirva de exemplo para muitas pessoas que estão passando por esse momento de crise. Não temo que venham me querer colocar essa história da vítima. Quanto ao rótulo de cassada, esse rótulo não me causa o menor desconforto. Sabe por quê? O julgamento disso eu já tive todos os dias nas ruas de Mossoró. Eu me ergui. Na hora que fui para as ruas de Mossoró eu cheguei cassada. É um termo forte, que já doeu, mas hoje não dói mais em mim porque quando eu cheguei cassada de Brasília eu não fui para nenhuma casa luxuosa, eu fui para uma cozinha na Estrada da Raiz tomar uma sopa porque alguém me acolheu com o melhor que elas tinham. Ali olhei e aprendi que a essência estar no que você pode oferecer de melhor. A essência não está nas grandes coisas. O melhor que aquela família tinha para me oferecer era aquilo e eu sou grata até hoje por essa oportunidade, por ter me acolhido, com um prato de sopa quente e, principalmente, com o olhar dizendo: minha filha, não se preocupe, você não deve nada. Isso ficou na minha cabeça e me deu forças para a cada dia me superar. Então, cassada não me causa transtorno porque esse julgamento eu já tive da cidade de Mossoró. Eu não encontrei em nenhuma pessoa por onde eu andei esse termo sendo dito pelas pessoas. Quem talvez diga isso são pessoas que de uma forma política não gostam de mim ou em outras agremiações partidárias. Eu nunca senti que alguém me dissesse isso na pedra do mercado. O que é dito na pedra do mercado interessa porque é o que ressoa, é o que vem dos pais dos mais distantes. Eu nunca vi em canto nenhum alguém me apontar o dedo e dizer que fui desleal, que fui desonesta. Meu amigo, esse é o maior crédito que alguém poderia ter. Você acha que eu tendo centenas, milhares de pessoas acreditando em mim, eu vou me preocupar com o termo cassada? Cassada está a cabeça de quem está escrevendo. Tem uma coisa na filosofia Ubuntu que a gente aprende muito, filosofia africana, que diz que eu sou porque você é, ela diz que quando você aponta o dedo para o outro, dizendo que aquele outro é algo ruim, a gente está dizendo da gente mesmo, porque eu sou porque tu és. Então se eu ti vejo como ruim, eu sou primeiro ruim. Então, estou com muita tranquilidade. Não tem dinheiro no mundo que pague você andar pelas ruas de Mossoró sem precisar se preocupar, dirigindo seu próprio carro, descendo onde quiser, na hora que quiser, nos bairros mais humildes, sem ter medo. Não tem dinheiro no mundo que pague a liberdade, e o nome de Mossoró é liberdade.

PRN – E como está a construção da nominata do DEM para a campanha para vereador?

CR – A gente cuidou com muito zelo, e claro que dentro dessa construção da nova legislação que proíbe coligação proporcional, a gente teve que se reinventar. E nós construímos uma nominata que comunga com os nossos ideais e com o que a gente defende. Primeiro,  respeito às pessoas. Segundo, o respeito ao voto que a pessoa credita. Quando alguém vota em alguém está acreditando que aquela pessoa vai fazer o melhor para a cidade. E tem um diferencial nisso: o salário do vereador é pago por essa pessoa que votou nele. Para formar a nominata, a gente só permitiu chegar perto da gente pessoas que comungam com isso: o respeito com o próximo, que tenham o bem comum como prioridade, e nós formamos uma nominata muito potente, com pessoas de diversas instituições e diversos segmentos organizados, para que a gente possa reforçar isso. Temos dois vereadores de mandato, Ozaniel Mesquita e Petras Vinícius, que tem mandatos muito bons e que vão puxar cada vez mais essas pessoas e essas instituições. A gente quer cada vez mais que a Câmara Municipal seja constituída por pessoas que tenham compromisso com o bem comum. Nós acreditamos que nós vamos formar a maior bancada que nós já fizemos em todos os tempos.

PRN – O que Mossoró pode esperar de Cláudia Regina nas próximas eleições?

CR – Primeiro dizer que estou como sempre estive: a serviço de Mossoró, nunca deixei de prestar nenhum serviço à população mossoroense porque não tinha um título, não tinha um cargo. Estou há 8 anos sem um cargo e nunca deixei de servir. O diferencial nessa eleição é que agora eu posso estar à disposição, e estou à disposição, de uma forma mais efetiva. Eu estou à inteira disposição da cidade de Mossoró para servir porque acredito no potencial de Mossoró, principalmente do potencial de sua gente. Eu sou porque tu és. A gente só oferece o que a gente tem. Eu tenho a oferecer à cidade de Mossoró trabalho, compromisso e, principalmente, respeito às pessoas.

 

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