CRÔNICA

CIDADE HORIZONTAL

Mossoró, uma cidade horizontal, começou há pouco a viver a realidade das grandes construções elevadas, os espigões. Eles são relativamente recentes e conquanto já tenham mudado consideravelmente a paisagem urbana, a grande maioria da população ainda vive como vivia antes, em casas com terreiros e quintais. No início da década de 60 o máximo que se podia visualizar nesse cenário eram alguns prédios comerciais com um ou, no máximo, dois pavimentos, além do térreo. Como o Edifício Rocha, nos arredores do mercado central. Ou o Edifício Marcelino, na Praça Rodolpho Fernandes, marcando a confluência das Ruas Cel. Gurgel e Idalino de Oliveira, cujo andar térreo abrigava a loja J. Holanda & Cia, concessionária local dos veículos da marca Ford enquanto a parte de cima era ocupada por consultórios, lembrando-se especialmente o do Dr. Ataulpho Fernandes, um dos quatro dentistas de quem dependiam os cuidados dentários dos mossoroenses à época. Os outros três eram os Drs. Tércio de Miranda Rosado (Dr. Mirandinha), Carlos Borges, político que seria depois Deputado Estadual, e Heleno Gurgel.

Além dos citados, a sede da Diocese de Santa Luzia, na Praça Vigário Antonio Joaquim, onde fora o Colégio Diocesano, o próprio Colégio Diocesano em suas novas instalações, o Ginásio Sagrado Coração de Maria (Colégio das Freiras), o Colégio Estadual e a prefeitura, na esquina da Alberto Maranhão com Augusto Severo, eram os principais prédios altos da cidade.  Vieram depois o edifício Banco de Mossoró, de quatro andares, o Esperança Palace Hotel que hoje hospeda a Câmara Municipal de Mossoró, e o Edifício Santa Rosa, atrás do Pax. O Banco de Mossoró tinha elevador, equipamento que a cidade só conhecia pelos filmes de cinemas. No mais, eram os pequenos sobrados residenciais, nenhum com mais que um piso elevado, todos restritos ao perímetro central da cidade e seu entorno.

Vivendo e trabalhando em casas térreas e de muros que permitiam conversa normal entre alguém do lado de dentro com outra pessoa no lado de fora, a população estava obviamente muito mais perto das ruas e, consequentemente, muito mais exposta ao contato, uns com os outros, facilitando as amizades e até as bisbilhotices. Além disso, os deslocamentos pelas ruas eram geralmente a pé, o que aproximava mais ainda todo mundo.

Um dos ensinamentos da história é que as mudanças são inevitáveis. Os que valorizam o passado vão lembrar que as cidades eram mais humanas. Outros dirão que a humanidade também muda. Que tudo mude para melhor. O que não pode é serem esquecidas: a humanidade e a cidade horizontal.

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