Minha Opinião

Bolsonaro com o Centrão, tem impeachment não.

Temos acompanhado nas últimas semanas o noticiário político nacional e observado o processo de desenlace do Nó Górdio em que se envolveu o presidente Bolsonaro. Sua incompetência, seu fascismo, apreço pela ditadura e sua paranoia anticomunista, dentre outros adjetivos, são insuficientes para justificar qualquer ação pró-impeachment.

Porém, a desobediência às normas constitucionais, a afronta às orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) em relação ao isolamento social em decorrência da pandemia do coronavirus, a participação em atos públicos, com discurso conclamando a interferência das forças armadas na politica brasileira e o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal se constituem fortes argumentos para os partidos de oposição e movimentos sociais de oposição estabeleçam o rufar dos tambores e determinem que está na hora da união de “Todos” contra “Um”.

Fazendo uma divisão de quem é quem, percebemos que a “briga” poderá ser curta e inglória. Vejamos porque: o grupo que constitui o “Todos” é formado por enquanto pelo PT, PDT, PSB, PC do B, PSOL, Rede e PCB com uma representação de 130 deputados, com uma ressalva, tenho dúvidas se a bancada completa do PDT, PSB e REDE se afinem até o fim ao som dos tambores.

Me refiro apenas ao processo interno na Câmara, não estou trabalhando com a pressão política advinda da sociedade através das redes sociais, imprensa em geral e movimentos sociais pró e contra, bem como das instituições públicas e entidades privadas, setores empresarias e, em especial o mercado, principal força motriz do governo Bolsonaro.

Já o grupo do “Um”, é formado por Bolsonaro e seus milicianos, seu gabinete do ódio, Zero Um, Zero Dois e Zero Três e suas milícias digitais, uma base de apoio no Congresso de aproximadamente treze partidos, mesmo que frágil – nada que uma velha e boa conversa nos moldes “antigos” de se fazer politica não se resolva -, a forte e tradicional imprensa oportunista e golpista (desde que o golpe lhe beneficie) e um apoio popular ainda representativo.

Diante do quadro apresentado apresento-lhes meus argumentos em torno da possibilidade da luta ser inglória.

Em primeiro lugar, achar que Bolsonaro é incompetente na arte de fazer política é no mínimo, subestimar a capacidade de articulação e poder de convencimento de quem está ocupando a cadeira de presidente, de quem tem a caneta, de quem nomeia. A escola de Bolsonaro é a do baixo clero, da turma da subserviência, do pires na mão, do “toma lá dá cá” – que ele tanto critica -, ou seja, a escola da velha política brasileira. Portanto, ele conhece como ninguém a arte do convencimento e da conquista do voto e do apoio no Congresso a partir das reuniões reservadas no Palácio do Planalto com líderes de partidos e conversas individuais com políticos tradicionais, mas que ainda exercem influência nas suas bases.

Em segundo lugar, a constatação de sua habilidade política se confirma no recuo do discurso de apoio ao fechamento do Congresso e STF e na aproximação com os partidos que formam o Centrão, dos quais destacamos o PTB, PP, Solidariedade, PRB, PSD, MDB, PR, Podemos, Pros e Avante, podendo se incluir o DEM e o PSDB, haja vista que uma grande parcela da bancada dos dois partidos se afinarem com o projeto de governo e atitudes tomadas por Bolsonaro.

Abrir o diálogo com o Centrão significa, “oferecimento de cargos em estatais e instituições de âmbito federal em troca de apoio político no Congresso. Quais órgão do governo estão sendo rifados e entrarão na “cesta básica” do “toma lá dá cá” de Bolsonaro? Fundo Nacional de Desenvolvimento par a Educação (FNDE), Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), Secretaria de Mobilidade do Ministério do Desenvolvimento Regional, Banco do Nordeste e Secretaria de Vigilância em Saúde”1.

Caciques da velha política, que nunca deixou de ser velha, é sempre atual, estão se aproximando do governo e se propondo a intermediar a relação com o Congresso neste momento de dificuldade enfrentado por Bolsonaro. Figurinhas carimbadas já aparecem com desenvoltura na mídia apresentando a receita para a cura da doença como é o caso de Roberto Jefferson (PTB), Gilberto Kassab (PSD), Valdemar Costa Neto (PL), dentre outros.

Abrir diálogo com o Centrão ou com qualquer bloco no Congresso não tem nada de errado, trocar cargo em instituições ou estatais em troca de apoio no Congresso sempre foi uma prática corriqueira em todos os governos, inclusive do PT. Todos já tomaram cafezinho no Palácio do Planalto com Collor, Itamar, FHC, Lula, Dilma, Temer, e agora chegou a vez de Bolsonaro. E por que não?

Acreditar que Bolsonaro não cederia ao “toma lá da cá”, só mesmo os inocentes, burros, fascistas, extremistas de direita, e meia dúzia de idiotas que ainda acreditam que Bolsonaro representa o novo na política e que sua agenda principal é o Brasil e os brasileiros.

Para abertura do processo de impeachment precisa-se de no mínimo 342 votos, o grupo do “Todos” tem 130, de onde sairão os outros?

E para concluir, o Centrão e o “toma lá dá cá” se constituem na tábua de salvação do governo, e Bolsonaro está repetindo a atitude tomada por Alexandre, O Grande, quando se deparou com o Nó Górdio, desembainhou sua espada e cortou o nó.

1 Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2020/04/22/interna_politica,846950/pela-governabilidade-bolsonaro-faz-velha-politica-e-negocia-com-centr.shtml

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