CRÔNICA

ARTERSANATO ESSENCIAL

Elas estavam em qualquer casa mossoroense, geralmente na cozinha e arredores. Estavam nas ruas, penduradas pelas mãos das pessoas, indo ou voltando das compras nos mercados, mercearias, armazéns. Inimaginável, a substituição por plástico descartável, daquelas bolsas de palha transadas por mãos de homens e mulheres simples. Reutilizáveis, biodegradáveis, ecológicas sem precisar de selo para provar que eram. Como as bolsas, da palha e das mãos dos artesãos vinha a vassoura que varria a casa, o abanador que expandia o fogo de lenha, a urupema, que peneirava o milho feito pasta para fazer a pamonha, a esteira que em alguns casos servia de mesa de refeição e o chapéu que protegia do calor do sol.

Cerca de 150 anos após a Primeira Revolução Industrial, pequenas e médias cidades brasileiras, especialmente na Região Nordeste, tinham no artesanato importante fonte de seus bens utilitários, como era no período pré-industrial.

Cestas e balaios de cipó acomodavam e serviam para transportar, sobretudo alimentos. De barro se faziam panelas, potes, quartinhas, alguidar, tigelas, canecas, jarros, peças de decoração e imagens de santos. Esses últimos também podiam ser de gesso. Cordas e espanadores eram de sisal. Fios de algodão já industrializados propiciavam a produção, principalmente por mulheres no âmbito de suas residências, de guarnições de cama e mesa e roupas em renda ou crochê, especialmente para crianças. Tecidos eram produzidos em pequenos teares domésticos, experiência pioneira de trabalho terceirizado para pequenas e médias fábricas de rede. O pescador costurava sua própria rede de pescar. No centro da cidade ou nos bairros, sapateiros faziam sapatos e sandálias de couro. Diferentemente do calçado pronto, desenhado segundo padrões antropométricos diversos do nosso, eles observavam a medida precisa do pé que iria calçar, fator importante para o conforto e prevenção de deformidades anatômicas. Podem ser lembrados Seu Lindolpho, muitos anos em oficina olhando para a lateral esquerda da Catedral de Sta. Luzia e Zé Campinense no Alto da Conceição.

De couro eram também bolsas, malas, aventais, selas arreios, gibão; em madeira faziam-se móveis, carrinhos de brinquedo, pipas, ancoretas, carros de mão, canoas, barcos maiores. De lata eram fogareiros, brinquedos, bacias, lamparinas, depósitos de cereais, canecas, calhas (para água de chuva). Gaiolas e telas, de arame. Armadores, correntes e trempes de ferro.

Muitos desses objetos não existem mais. Outros a indústria fabrica. Todos, antes, eram artesanais, feitos logo ali, por gente conhecida.

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