CRÔNICA

A ROTA MOSSORÓ-NATAL, ANOS 70

Em 1971, apenas para situar um ano dentro dessa década, a rota terrestre Mossoró-Natal, em transporte público, era um trajeto entre um ponto próximo à Ponte Jerônimo Rosado e o bairro da Ribeira ou do Alecrim. Mossoró não tinha estação rodoviária e a agência da empresa que fazia a linha era na Rua Santos do Dumont, próximo ao rio. Em Natal, olhando para a Pça. Augusto Severo e Teatro Alberto Maranhão ficava a velha Rodoviária Presidente Kennedy, nome pronunciado com toda ênfase possível pelo locutor que anunciava partidas e chegadas, através de uma boca de ferro que, quando ligada, parecia mais uma mistura de britadeira com apito de trem. Mas, a empresa tinha também uma agência no Alecrim, Praça Gentil Ferreira, ao lado do antigo mercado. Esse ponto foi depois fechado, assim como o mercado foi demolido poucos anos depois, quando era prefeito da capital o mossoroense Jorge Ivan Cascudo Rodrigues.

Em praticamente todos os horários as viagens eram na modalidade pinga-pinga. As interrupções já começavam antes de sair de Mossoró. O motorista brecava institivamente em qualquer lugar onde alguém, com uma mala ao lado, acenava. Dizia-se que o ônibus parava mais que o caminhão do lixo.  Vencidos os limites do município, a entrada em cada cidade do percurso. Um transtorno percebido depois, quando mais linhas diretas foram oferecidas, mas, por outro lado, oportunidade de conhecer pelo menos um pouco da geografia do estado para algumas pessoas que não visitariam tais cidades se não fossem obrigadas por essas escalas. A BR 304 não era totalmente concluída e os desvios necessários serviam para que não fosse totalmente esquecido o tempo em que todo o caminho se fazia por estradas de terra, viagens que duravam quase um dia inteiro.

Em Assu, o passeio dos bairros periféricos ao centro da cidade; em Angicos o lanche próximo ao mercado e à Igreja do Padroeiro São José; em Lages a parada também no centro da cidade e em Riachuelo o café à margem da rodovia obrigatoriamente servido com o queijo, então um dos mais famosos do Rio Grande do Norte. Em Macaíba mais uma parada rápida e depois de vencer o sempre complicado trânsito do centro da cidade, vislumbrava-se um dos mais belos trechos da viagem. As curvas da BR 226, conhecida nesse pedaço como estrada de Mangabeira, à esquerda o Rio Potengi e à direita a encosta de verdes colinas de mata atlântica, ainda quase em seu natural, plantas selvagens, mangueiras, cajueiros, pitombeiras, mangabeiras, oferecendo seus frutos a quem não precisara cultivar. Até, finalmente, entrar Natal pelo bairro das Quintas e daí ao Alecrim.

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