Crônica

A COPA DE 70

Para o futebol brasileiro, que ganhou várias copas do mundo, e para o Brasil, a copa a de 1970 é emblemática por vários motivos. Apenas dois clubes, Santos e Botafogo, eram suficientes para formar a estrutura da seleção, completada aqui e ali por atletas de outras agremiações. Havia jogadores de nível semelhante para formar três seleções. Todos jogando no Brasil. Basta dizer, para os da época e para quem conhece a história, que Dirceu Lopes, do Cruzeiro, e Ademir da Guia, do Palmeiras, dois “monstros” desse esporte ficaram de fora, e haja motivo para discussão entre os, então, 90 milhões de técnicos, e matéria para as páginas especializadas de jornais e revistas. O interessante é que ninguém era capaz de encontrar razão para que os que lá estavam não estivessem. A questão era por quê os outros não estavam. Só faltou pedir para a FIFA admitir 20 jogadores em cada time.

Discussões políticas, Saldanha, Zagallo, os fuscas presenteados por Paulo Maluf, na volta, ganhariam destaque na imprensa muito tempo depois. A controvérsia sobre a inclusão de Dario, também citada como influência extracampo, não resistiria a um argumento definitivo em futebol: o gol, especialidade do desengonçado Dadá Maravilha.

Mas a Copa 70 teve outras singularidades. Foi a primeira a ser vista por, praticamente, todo Brasil, através da TV. As emissoras precisaram formar um “pool” para viabilizar a transmissão. Nenhuma tinha tamanho para fazê-lo isoladamente. A estrutura brasileira de telecomunicações também não suportaria a demanda. Nem por isso, a realização do evento deixou de ser considerada feito extraordinário e nomes, como da recém-criada Embratel, Intelsat e satélites de comunicação, foram projetados para o cotidiano das conversas dos brasileiros.

Em Mossoró (e provavelmente em muitas cidades brasileiras do mesmo porte), a própria televisão era novidade, poucas casas tinham o aparelho e esse é mais um diferencial histórico da Copa 70: a reunião de familiares, amigos, vizinhos, nas salas dessas casas, cadeiras preparadas antecipadamente como se fosse uma sala de cinema e outros preparativos, dependendo dos gostos, costumes, características e poder aquisitivo dos grupos.

Depois dos jogos, as ruas eram o palco das comemorações. Uma catarse que levou a alguém mais amargo a comparar o futebol ao ópio, nesse caso o ópio do povo, acessível à plebe ignara. Como se o futebol não fosse também uma arte, arte plástica, ballet em que a música não é ouvida, mas sentida, percebida nos gestos; e que a arte também não ajudasse a gente a viver.

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