Textos são ditos datados quando contêm palavras e expressões que os tornam incompreensíveis posteriormente ao momento no qual foi escrito, isso porque estão essencialmente relacionadas a algo ou acontecimento contemporâneo a sua produção, mas pouco lembrado ou totalmente esquecido depois. Ou, também, por razões culturais, mudança de visão sobre coisas, fatos ou atitudes, antes entendidos de outra maneira. Ocasionalmente depara-se com algo assim, escrito ou mesmo falado por alguém que nem percebe que o interlocutor ficou “voando”. Por outro lado, alguns desses termos conseguem continuar atuais na linguagem, descolados de sua origem.
A expressão “disco arranhado” era usada em relação à pessoa com discurso enfadonhamente repetitivo sobre fatos ou queixas. A comparação era com os antigos discos de cera e depois de vinil, nos quais pequenas avarias ou arranhões impediam a progressão da agulha de cristal que propiciava a reprodução da música gravada, levando à repetição monótona de um trecho da gravação até que alguém resolvesse o engancho com um toque sutil no braço da radiola, suficiente para vencer o obstáculo sem perda relevante da continuidade da execução. A expressão findou junto com os discos.
Aldir Blanc, na letra de “o bêbado e a equilibrista” faz referências como “Carlitos” e “o irmão do Henfil”, que remetem à necessidade de se conhecer o personagem de Charles Chaplin, assim como os irmãos, o cartunista Henfil e o sociólogo Betinho, além da história pessoal de ambos. Mas, as citações que mais podem intrigar quem não conhece a história estão na palavra mata-borrão e no verso “caia a tarde, como um viaduto”. Mata-borrão era uma peça para enxugar eventual excesso de tinta do papel, quando se escrevia com caneta-tinteiro. Já viadutos não caem assim, sem mais nem menos. A alusão, entretanto, é a um fato ocorrido no Rio de Janeiro, em 1971, o desabamento do elevado Paulo de Frontin, um acidente grave, provocado pelo choque de um caminhão pesado contra um dos pilares da estrutura ainda em construção, e que na época ocupou por um bom tempo as manchetes da imprensa carioca e no Brasil inteiro.
Vale lembrar, ao fim, caso do “brigadeiro”, tão comum no cotidiano que nem se percebe o estranho nome para um prosaico doce de chocolate. Conta-se que tudo começou na campanha do Brigadeiro Eduardo Gomes a Presidente da República. Não havia dinheiro público financiando partidos políticos, como agora. Um grupo de senhoras teve a ideia de fazer e vender os docinhos com objetivo de angariar fundos para a campanha. As guloseimas eram conhecidas, então, como o doce do brigadeiro.