Governo do RN cancela parceria com clubes

Uma decisão do Governo do Estado do Rio Grande do Norte ameaça uma das cadeias econômicas importantes: O futebol. Sem explicações técnicas, a gestão decidiu suspender o Programa Nota Potiguar, que financiava os clubes e o Campeonato Estadual, além de não explicar como pretende pagar a dívida de R$ 2,5 milhões deste ano. A medida causou revolta e temor entre os desportistas, cujos orçamentos e empregos ficam sob ameaça.

Para debater e buscar soluções emergenciais diante da decisão da governadora Fátima Bezerra, o presidente da Federação Norte-rio-grandense de Futebol, José Vanildo convocou os representantes de todos os filiados que participam da divisão de elite do futebol do RN. Uma reunião será realizada nesta quinta-feira, às 10h, quando os dirigentes irão debater o tema.

No encontro, além de detalhar os impactos negativos da medida, os “cartolas” vão buscar meios para tentar fazer o estado demover essa ideia, bem como pensar outras alternativas para suprir o “rombo” que todos terão no caixa neste início de temporada.

“Considero a decisão um grave erro. A FNF registra com surpresa a atitude do governo suspendendo o programa de educação tributária e cidadania. De minha parte acredito que o governo pode estar dando um tiro no pé. Além do fato de gerar graves prejuízos ao futebol local, esse tipo de programa costuma aumentar a arrecadação em momentos de crises. Outra questão que não está sendo avaliada é que ao educar o cidadão a pedir a nota de compra no comércio, a ação complementa a clara deficiência na máquina de fiscalização tributária. Por causa de todas essas implicações e que acredito na possibilidade dessa decisão ser revista”, afirmou José Vanildo.

A notícia de suspensão surgiu após a rejeição do aumento do ICMS (ocorrido durante sessão da Assembleia Legislativa do RN na última terça-feira) para o ano de 2024. Em pouco mais de 24h, tudo foi definido sem a divulgação de qualquer nota técnica, estudo, ou explicação mais detalhada. A decisão, segundo interlocutores, pareceu ter o intuito de atingir aos clubes, entre eles o América, cujo presidente, Hermano Morais é Deputado Estadual e votou contra o projeto de aumento de imposto, mesmo figurando na base de sustentação do Governo.

Para piorar, o acesso aos recursos já não vinha ocorrendo. José Vanildo revelou que o repasse do valor de R$ 2,5 milhões, obtido pelo programa através da troca de notas fiscais por camisas dos clubes do futebol potiguar, não ocorreu neste ano. Em função disto, já se “costurava” um acordo para que o repasse ocorresse em 2024 contando com a renovação e ampliação do programa. A FNF, nem os clubes, foram informados de como o Estado pretende quitar o débito milionário da atual temporada.

Economia e empregos

Um futebol que já sobrevive anualmente com dificuldade e que, apesar disso, gera centenas de empregos diretos, movimentando a economia em todo Rio Grande do Norte em diversos setores será fortemente impactado.

Para se ter uma ideia, somente com a folha de pagamento de atletas e comissões técnicas, ABC e América movimentaram com salários de atletas, durante a disputa do Campeonato Brasileiro, algo em torno de R$ 2 milhões por mês. Esse recurso é revertido, boa parte, em consumo de produtos locais, pagamento de serviços, locação de imóveis, etc.

Informações extra-oficiais dos clubes apontam para, em média, 100 empregos diretos em cada um, além das funções temporárias em dias de jogos com a contratação de empresas de segurança, limpeza, etc.

Nos clubes do interior potiguar, embora o volume de recursos seja menor, a movimentação econômica da “indústria do futebol” faz a diferença. Em uma rede social, o presidente do Potyguar de Currais Novos, Sueid Rusk afirmou que, só no último mês, o time do Seridó registrou 40 novas Carteiras de Trabalho. “O dinheiro público investido em futebol volta em ICMS, nas rendas das partidas e principalmente na geração de empregos”, comentou o cartola, eleito pelo Sistema Tribuna do Norte como o dirigente do ano de 2023.

Tribuna do Norte