OPINIÃO

Elogio a patrona da cadeira 30 da Academia Feminina de Letras e Artes Mossoroense – AFLAM, Maria Olívia Maia Resende

Por: GRINÁURIA MAIA


Muito me honra ocupar a cadeira 30 na Academia Feminina de Letras e Artes Mossoroense. Um grande celeiro de intelectuais e uma fonte de inspiração e provocação para as mudanças de mentalidades                   na sociedade.

O elogio à Patrona é um instrumento determinante da elegibilidade à imortalidade das acadêmicas e da patrona. Como forma de dignificar esse preceito legal, torna-se condição sine qua non, se fazer a escolha de uma personalidade feminina, de relevância social e cultural, cujos atos e ações são merecedoras de méritos e reconhecimentos de uma sociedade.

Fazer o elogio a uma grande mulher, é na verdade, um desafio.

Então, quais critérios de elegibilidade seriam necessários para se escolher uma personalidade feminina que fizesse jus ao título de Patrona da Cadeira de nº 30, de tão relevante Academia?

Fiz uma viagem imaginária no tempo, de um passado não muito distante e, me deparo com a      figura de Maria Olívia Maia Resende, mulher responsável na sociedade em que viveu, por grandes atos e virtudes, que se destacou na arte de educar e na solidariedade humana. Mulher de coragem ao enfrentar e quebrar tabus impostos pela imperatividade do pensamento patriarcal.

Sua trajetória de vida regada por grandes feitos, trouxe significativos impactos sociais e culturais, na sociedade da sua época.

Maria Olívia, é paraibana, nasceu no dia 19 de novembro de 1921, na Fazenda Pedra Lisa, município de Brejo do Cruz-PB. Filha de Odilon Maia e Maria Olívia Fernandes Maia. Tinha 9 irmãos, destes apenas uma mulher.

A história de vida de Maria Olívia Maia Resende é aqui apresentada de forma suscinta,  considerando-se a grandeza do legado deixado,       pelo modelo de mulher persistente e segura de  suas ideias e ideais, pela forma resiliente de como encarar as diferenças intergêneros e pela coragem de reagir as exigências  e rigor da sociedade patriarcal. Uma mulher que transcende o seu tempo e deixa marcas profundas na memória de um coletivo, no alto sertão paraibano.

Os desafios que lhe foram impostos, em especial, por fazer parte do universo feminino, a transformou numa mulher forte, destemida, respeitada. Destacou-se como grande educadora e defensora das causas sociais. Além do conhecimento formal, ensinou lições de generosidade, solidariedade, amizade, cumplicidade, que não estão registrados em livros, mas nos acervos da alma.

Promoveu a paz e a união entre famílias, estreitou laços, reduziu distâncias, rompeu com o ceticismo, salvou inúmeras vidas, o que lhe rendeu inúmeros afilhados.

Foi inspiradora para muitas pessoas e transformou muitas vidas.

Eis algumas razões que justificam a escolha de Maria Olívia Maia Resende para ser a Patrona da cadeira 30, na Academia Feminina de Artes e Letras Mossoroense – AFLAM.

A educação, a coragem e o altruísmo tornam Maria Olívia, uma mulher admirável

Ela era uma mulher visionária e viveu muito além do seu tempo.

Uma verdadeira mestra na arte de educar, deixando um dos maiores legados para a sociedade onde viveu.

Na sua concepção o conhecimento tinha o poder de transformar mentalidades dos cidadãos e cidadãs, possibilitando, assim, viverem em melhores condições de vida.

Educou e formou os filhos dos moradores da fazenda de seus pais, dentre tantos outros. Transgrediu normas, com muita sabedoria. Afinal, aos trabalhadores muitos direitos eram negados, inclusive o de estudar. Ela procura romper com essa concepção conservadora, sem alardes, mostrando que o direito negado, poderia ser viabilizado.

O pensamento revolucionário de Maria Olivia em desenvolver uma pedagogia de vida, se assemelhava a pedagogia da libertação de Paulo Freire, ao demonstrar a importância da educação para a conquista da liberdade e da transformação social.

Como também se adequa ao pensamento de Morin (2000), quando este ressalta que “ao invés de contribuirmos para a construção de uma cabeça bem cheia, de conhecimento sem sentido, que colaboremos com uma cabeça bem-feita, aquela capaz de rejuntar saberes e lhe dar um sentido que implique em reconhecimento da condição humana”.

A sua missão de educar transcendia o mero saber, porque ela ensinava para a vida, para a autonomia das pessoas, a ajudá-las a ver uma nova forma de viver. O aprendizado que ela adquiria na sua caminhada, trazia para ajudar aos outros a sair do marasmo da ignorância.

Sua voz e seu olhar traduziam segurança, respeito, convivência. Todos que tiveram a oportunidade de conviver com ela, ressaltam essas qualidades e valores, inestimáveis! Sua humildade, generosidade e sinceridade eram apontadas por todos que a conhecia.

As contribuições de Maria Olívia na arte de educar

Ela fez de pessoas simples, estudantes, moradores, trabalhadores, familiares, grandes cidadãos e profissionais. Formou médicos, juízes, professores, advogados, agrônomos, enfermeiros, historiadores, entre tantos outros.

Na área social a patrona merece todos os elogios e se destaca com trabalhos de grande impacto.

Maria Olívia foi intitulada a MÃE DOS POBRES, na sua comunidade

Já nos ensinava o filósofo Sócrates: “O grande segredo para a plenitude é muito simples: é compartilhar”.

A mãe dos pobres, como era conhecida, tinha incontáveis afilhados.

Com esse ato acolhedor, ela transmitia sentimento de esperança, amor, generosidade, partilha, tornando-se conselheira de todos. Maria Olívia era uma mulher de sensibilidade incrível. Extraía nas entrelinhas, os sentimentos escondidos. Respeitava a todos. Seus ouvidos estavam disponíveis para a escuta qualificada, guardando lamentos, discórdias, fome, sede, dor, injustiças, solidão, medo… Estar perto dela era aconchego certo, sua fala firme dava segurança, suas palavras acalentavam.

Suas atitudes se assemelham com o pensamento da Parábola Chinesa:

“Apenas quando se aprende a ouvir o coração das pessoas, seus sentimentos mudos, os medos não confessados e as queixas silenciosas, um líder pode inspirar confiança a seu povo, entender o que está errado e atender as reais necessidades do cidadão(…)”

Ela abominava a injustiça e a desigualdade, tratando todos, indistintamente, evitando discriminação racial, política, social e religiosa, apesar de conviver com embates políticos, e conflitos entre famílias.

As narrativas colhidas, trazem histórias surpreendentes de Maria Olívia.

Para defender a dignidade humana se valia dos meios que tinha. Seus argumentos sempre eram convincentes e merecedores de todo respeito.

Então, quando presenciava os desprovidos de sanidade mental, os marginalizados, desprezados, perambulando pelas ruas de sua pequena cidade, recorria à delegacia. Solicitava a autoridade que determinasse a prisão dessas vítimas da invisibilidade social, não com o intuito da reclusão social, como defende nossa sociedade vigente. Mas, para ofertar condições que levassem a dignidade humana. Assim, providenciava para esses excluídos, o banho, doava-lhes roupas limpas, alimentos e medicamentos. Seu altruísmo era impressionante! Suas campanhas de doação entre familiares e amigos, eram constantes.

Respeitava autoridades e mantinha uma relação de cumplicidade em defesa dos desprotegidos.

Por maior que fosse o desafio e a causa de pedir, ela recorria as autoridades, em nome dos indefesos. Com respeito, humildade e serenidade, preparava, de modo peculiar, uma defesa e acabava ganhando todas as causas. Era uma admirável defensora pública!

Pouco a pouco foi se impondo, pelas suas atitudes e coragem, pela sua indignação com a injustiça e iniquidades sociais, pela firmeza e determinação com que tratava as questões coletivas.

Maria Olívia era uma autodidata. Sempre foi muito dedicada a leitura e perspicaz, em tudo o que fazia.

Como não pode fazer a faculdade de medicina, que era um de seus grandes sonhos, e considerando a escassez de profissionais médicos, na cidade e na região, bem como, as doenças que assolavam a população, principalmente crianças, ela buscou estratégias para salvar inúmeras vidas.

O aprendizado na área da saúde, é procedente do seu irmão médico, Dr. Odilon, quando o acompanhava nos atendimentos diários, e foi lidando com o seu fazer. Assim, como da leitura diária de livros da medicina. Sentia necessidade de aprender a ciência médica, para ajudar as pessoas.

Com o conhecimento adquirido, ela passou a fazer, voluntariamente, atendimentos à população, quando o seu irmão, único médico da cidade, estava ausente.

Esse movimento intensificou, de maneira que sua casa era sempre procurada pela população mais carente. Atendia, diariamente, pessoas da cidade e municípios circunvizinhos. Suas atitudes salvaram muitas vidas!

Quando foram chegando os médicos na cidade, ela foi se distanciando desse fazer. Havia cumprido a sua nobre missão!

Fazia conciliação com maestria, porque tinha uma capacidade impressionante, de integrar as pessoas. Num momento em que houve uma grande rivalidade entre famílias tradicionais do sertão paraibano, Maria Olívia, foi indicada para apaziguar as divergências políticas, intermediando conflitos e aparando as arestas, para pacificar essas famílias. Foi convidada para ser deputada federal.

No entanto, seus familiares não lhe permitiram assumir essa empreitada, porque na ideologia da sociedade patriarcal, este cargo exclusivo de homens.

Pelos grandes feitos dedicados à sua cidade, a Prefeitura Municipal de Brejo do Cruz/PB a homenageou com um serviço de saúde denominado Unidade de Saúde da Família Maria Olívia Maia.

Também a homenageou com uma Creche Municipal, a qual recebeu o seu nome.

Todas as histórias contadas, mostram a grandeza, a coragem e o altruísmo de Maria Olívia. Sua história inspiradora faz refletir sobre a essência da vida e reconhecer que “somos parte de um mesmo processo que percorre o mundo e nos liga ao planeta. E perder o sentido da mudança é perder o sentido da vida e das oportunidades que ela nos dá, todos os dias, para transformá-la”, como nos desperta Herbert de Souza.

Maria Olívia encerra sua nobre missão e, se despede de todos os seus, no dia 19 de janeiro de 2006, aos 84 anos de idade. Sua história louvável e marcada com grandes feitos, lhe faz valer o título de patrona imortal da Academia Feminina de Artes e Letras Mossoroense – AFLAM.

À você nosso reconhecimento e gratidão!


Grináuria de Sousa Maia Porto (Grináuria Maia) ocupa a cadeira 30 da AFLAM. É graduada e Licenciatura em Enfermagem e Bacharel em Direito pela Faculdade de Ciências e Tecnologia Mater Christi.

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