Professores dizem que aulas presenciais somente após vacinação
Categoria se reuniu em assembleia e refutou a possibilidade de volta ás salas de aula sem que haja imunização dos trabalhadores
Os professores da rede estadual de ensino reafirmaram, em assembleia realizada na tarde de quarta-feira, 31/3, que o retorno da aulas presenciais somente ocorrerá após a vacinação dos profissionais da educação. O tema voltou a ser discutido pelos trabalhadores após o Laboratório de Inovação Tecnoógica em Saúde (LAIS) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) recomendar ao Governo do Estado a retomada das atividades nas escolas com a presença, em sala de aula nas escolas, de 50% dos alunos.
Após a recomendação do LAIS/UFRN e orientação do Ministério Púbico, o Governo do Estado publicou nesta quinta-feira, 1/4, decreto liberando funcionamento das escolas.
A direção do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Rio Grande do Norte (SINTE/RN) ressalta, porém que a rede estadual de ensino está desobrigada de atender às novas orientações do decreto estadual. É que embora os deputados estaduais potiguares tenham aprovado nesta quarta (31/03) um projeto que transforma a educação em serviço essencial, a rede pública foi dispensada do PL graças a uma emenda apresentada. Além disso, o Governo mantém o entendimento que as aulas nas escolas só devem ser retomadas após a vacinação.
Dirigente do SINTE/RN, o professor Rômulo Arnaud disse ver com muita preocupação a orientação do LAIS/UFRN para retomada das aulas presenciais e a pressão de setores da sociedade para que isso aconteça. “Estamos no momento mais crítico da pandemia. A retomada das atividades presenciais sem que os profissionais da educação estejam vacinados é no mínimo uma imprudência”, avalia o líder sindical.
Rômulo Arnaud afirma que as aulas remotas tem trazido mais trabalho, pressão e cansaço aos profissionais, mas é a única maneira possível nesse momento em que todos devem se proteger da pandemia. “Os professores estão trabalhando muito com aula remota e fazendo o que pode, mas u retorno presencial nesse momento é totalmente inadequado”, aponta, acrescentando que a retomada presencial só deve acontecer após a. vacinação, com a queda da taxa de letalidade baixa e com a taxa de ocupação de leitos em baixos níveis.
Para Rômulo Arnaud, outra questão que inviabiliza o retorno de forma híbrida (metade dos alunos em casa e metade em sala de aula) é a estrutura das escolas. “As escolas estaduais não tem um sistema que possa funcionar simultaneamente com auas presenciais e on line. O que precisamos fazer nesse momento é lutar para que os profissionais da educação sejam vacinados”, acrescentou.
OUTRAS DEMANDAS – A assembleia virtual da Rede Estadual de ensino aprovou todos os quatro encaminhamentos de luta apresentados pela direção do SINTE/RN.
Após mais de duas horas de diálogo os profissionais pediram para o SINTE/RN seguir firme na luta pela vacinação imediata da categoria, considerada a única saída para a volta da normalidade. Relataram que em casa estão trabalhando o dobro ou o triplo, pois precisam conciliar aulas remotas, correção de atividades, inclusão de notas no sistema e, entre outras coisas, o atendimento individual aos estudantes.
Outra preocupação apresentada é relativa ao adiantamento do tradicional recesso escolar do meio do ano. Muitos apontaram que antecipar o recesso vai desorganizar os ciclos relativos aos anos letivos de 2020 e 2021 de muitas escolas que ainda não concluíram a carga exigida pela Secretaria Estadual de Educação.
No entanto, apesar de todas as dificuldades, voltaram a defender que aulas presenciais só devem ser retomadas após a vacinação. Ainda contaram que se sentem pressionados pela sociedade para a retomada imediata das aulas presenciais, apesar de o Brasil estar em plena segunda onda da pandemia da Covid-19 com altos índices de contaminações, internações e mortes.
Os relatos demonstram o nível de estresse a qual os profissionais estão submetidos há um ano, embora parte da população insista em afirmar que os professores e funcionários não estão trabalhando, o que não condiz com a realidade.
Há meses o SINTE/RN está em campo na luta pela inclusão da educação entre os grupos prioritários da vacinação contra a Covid. A entidade, em parceria com as vereadoras Divaneide Basílio (PT) e Brisa Bracchi (PT), bem como o deputado Francisco (PT) e a deputada Isolda Dantas (PT), produziu dois projetos com este objetivo.
As matérias já se encontram na Câmara Municipal e Assembleia Legislativa. A boa notícia é que ontem os vereadores natalenses aprovaram o PL que inclui os educadores da capital dentro da prioridade para a vacinação. O texto da Rede Estadual ainda precisa ser analisado pelos parlamentares.
Quanto as aulas presenciais, em fevereiro o Sindicato ganhou na Justiça a Ação que moveu pedindo a derrubada do decreto que exigia o imediato retorno presencial ao trabalho nas escolas de Natal. Assim, os professores poderão continuar trabalhando em casa. Contudo, na semana passada foi aprovado um projeto que torna a educação pública e privada um serviço essencial em plena pandemia. De autoria do vereador Klaus Araújo(Solidariedade), o PL abre brechas para que em breve a categoria seja convocada para voltar a atuar presencialmente nas unidades de ensino.
AUDIÊNCIA – A audiência entre o SINTE/RN e a Secretaria Estadual de Educação (SEEC) que aconteceu na terça-feira (30/3) também foi ponto de pauta da assembleia. O pouco tempo disponível fez com que os dirigentes retratassem de forma resumida como foi a última conversa com a SEEC. O encontro entre as partes tratou de promoções, carga suplementar, concursados e pandemia.
PEC 186 E REFORMA ADMINISTRATIVA – A já promulgada PEC 186 e a Reforma Administrativa proposta pelo Governo Bolsonaro também foram debatidas durante a assembleia. O professor e presidente da CNTE, Heleno Araújo, foi convidado pelo SINTE/RN para dialogar com a categoria.
Apontou que ambas objetivam destruir os serviços públicos, as carreiras dos servidores e desmontar o Estado brasileiro, pois miram na estabilidade e vantagens: “Paralelo a crise, eles continuam atacando os brasileiros, os trabalhadores, os servidores públicos. Vocês ouviram quando, entre outras coisas, o Paulo Guedes (Ministro da Economia) afirmou que deveria privatizar o Banco do Brasil e colocar uma granada no bolso dos servidores públicos e desmontar o Estado brasileiro”, disse.
Heleno criticou a postura do Governo Bolsonaro na pandemia, considerada negligente, negacionista e corresponsável pelas mortes de mais de 315 mil brasileiros.
HOMENAGEM – A direção do SINTE/RN chamou a categoria para fazer um minuto de silêncio em homenagem ao professor e coordenador geral, José Teixeira, falecido em 17 de março vítima da Covid-19 aos 57 anos. A homenagem também se estendeu a todos os trabalhadores e trabalhadoras em educação do RN e brasileiros que perderam a batalha para o novo coronavírus.
ENCAMINHAMENTOS – O SINTE/RN deve produzir uma nota pública questionando as exigências feitas pela SEEC aos professores durante a pandemia;
Manter a luta pela vacinação para todos os trabalhadores em educação e população em geral;
Manter a deliberação de que o retorno presencial só deve acontecer após a vacinação; e
Lutar por condições de acesso às aulas para os estudantes.