Quem morre são os outros
O discurso do presidente está convencendo algumas pessoas a voltarem à rotina. Não há cenário mais perigoso para esse retorno. O coronavírus avança cada vez mais. As mortes se multiplicam a cada dia. É uma crônica anunciada. Que não se transforme em tragédia.
O presidente provocou com o fígado. E quis que o trabalhador respondesse com ronco do estômago. Sem, propositadamente e desonestamente, dizer que é obrigação do Estado amparar as pessoas quando essas não puderem, por suas forças, prover o seu sustento.
Talvez algumas pessoas não saibam, mas há uma razão pela qual nós não podemos fazer tudo o que desejamos. Isso não é possível porque abrimos mão de parte de nossas liberdades em troca de proteção estatal. Essa permuta atende pelo nome de pacto social, sem o qual a vida em sociedade é quase impossível. O pacote de ações oferecido pelo Estado inclui oferta de dinheiro e/ou alimentos, que deve se materializar sempre que os mais pobres se virem em dificuldades de sobrevivência, em especial em momentos como o que ora vivemos.
Bolsonaro mostra muito claramente que quer se livrar de sua obrigação de prover a subsistência dos que agora estão impossibilitados de fazê-lo com o seu próprio trabalho. Mas parece haver um motivo mais forte. Que ele sequer se preocupa em negar, embora todas as evidências apontem nesse sentido.
O presidente empurra uma massa de pessoas para uma guerra. Nessa batalha, o inimigo, invisível. sorrateiro, letal e ardiloso, ataca, ferindo como morteiro, queimando como granada, rompendo tecidos, carne e vasos, como tiro.
A trôpega tropa, posta em forma pelo discurso presidencial, animada apenas por bravatas, mentiras e manipulações, se joga nessa luta inglória. Sem pestanejar, armada somente com a força de uma necessidade. cuja saciedade cabe ao governo. Segue impávida, numa bravura tão eficaz quanto bala de festim.
O governo tem a consciência de que os está conduzindo para uma provável morte. Para Bolsonaro, assim como para a elite do país, não há comoção com a tragédia que se desenha. Eles sabem, como disse Morin, que “quem morre são os outros”.
CONSCIENTIZAÇÃO
Louvável a iniciativa da Câmara Municipal de Mossoró de colocar carro de som nas ruas conscientizando as pessoas sobre os riscos do coronavírus e as orientando a ficar em casa. Parabéns à presidente Izabel Montenegro e aos os vereadores signatários da ideia.
ARREPENDIMENTO
O prefeito de Milão, Giuseppe Sala, veio a público admitir que errou ao fazer campanha pelo fim do isolamento social. Com a volta das aglomerações, a cidade italiana registrou 4.400 mores em apenas um mês. Que fique o exemplo.
PEDIDO
Fiquem em casa. Permaneçam em casa. Todos sabem que é a única maneira de evitar mais contaminações e mortes.