OPINIÃO

VOLTE NA PRÓXIMA SEMANA

As luzes se apagavam sob a infalível algazarra dos gritos da meninada e assovios dos mais crescidos, em idade, mas não em mentalidade. Nas sessões de domingo, das manhãs e tardes, tudo começava com os trailers, chamadas para os filmes a serem exibidos nos próximos dias e semanas naquele cinema. Seguiam-se as historinhas ligeiras de desenho animado, quer dizer, Pato Donald, Pica-pau, Gasparzinho (o fantasminha) ou os inconciliáveis Tom e Jerry. Aí se iniciava “a película” programada para aquele fim de semana, geralmente um faroeste e que já levava a plateia ao auge do entusiasmo. Ato contínuo ao “Fim”, estampado no meio da tela, a plateia já de alma lavada com a surra que Roy Rogers dera em “Garreta”, como boa parte do público chamava Garrett, que na realidade tinha eliminado o icônico Billy The Kid, mas na ficção apanhava direto de Rogers que, na fita, fora confundido com o lendário fora da lei, a vibração voltava com a repetição da cena interrompida no último domingo. Dessa vez sequenciada pela ação do mocinho que se livrava das cordas com que fora amarrado aos trilhos a tempo de escapar do trem que passava imediatamente a seguir, o ferro das rodas zunindo ao contato com o ferro da linha, e ainda alcançava os bandidos que haviam feito aquela maldade para lhes mostrar com quantos paus de fazia um seriado de cinema daquele tempo.

As séries no cinema eram mais parecidas com as posteriores novelas de TV. Eram inevitavelmente associadas aos domingos nas telas dos cinemas, ou melhor, entre nós, à tela do Pax que mais divulgou esse gênero, se é que se pode falar assim, até por ser, ao lado do Cine Jandaia, no Bom Jardim, e do Cine Centenário, no Alto da Conceição, entre as casas exibidoras da cidade, uma das mais identificadas com o gosto popular.

Ao longo dos anos, a poeira levantada pelas rodas das carroças nas áridas colinas do velho oeste alternou-se com a exuberância da selva africana e seus bichos impressionantes, sucedida pelos heróis urbanos e seus carros explosivos ou os incipientes veículos espaciais em guerras interestelares. Bufalo Bill, O Chicote do Zorro, Tarzan, Fantasma, Jim das Selvas, Os Perigos de Nyoka, Os Tambores de Fu Manchu, Falcão Negro, Capitão Marvel, Capitão América, Flash Gordon, Marte Invade a Terra e por aí vai.

Roteiristas habilidosos entretinham a plateia durante uns 20 minutos com altos e baixos de predomínio entre o “artista” e os “bandidos”, criavam nova situação de perigo iminente para o primeiro, diretamente, ou envolvendo alguém do seu lado, especialmente a “mocinha”, e interrompiam a cena com o frustrante letreiro: Volte na Próxima Semana.

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