Por: GRINÁURIA MAIA
Sinto saudade de um tempo, não tão longínquo, e guardo na memória cada momento, com riqueza de detalhes. Era o tempo de esperar, de cultivar, para receber a melhor colheita: de frutíferas amizades, do alimento que nos tornava mais saudáveis e mais humanos, do fazer coletivo, espontâneo, sincero e do amor mais presente e intenso.
Relembro esse tempo em que escutar o silêncio, trazia verdades à tona, fazia o perdão preponderar e isso embelezava as relações humanas, sem constrangimentos, sem desentendimentos.
O dia não tinha hora para terminar! Não tínhamos pressa, para chegar! Tudo fluía sem agonia; e de repente chegava um novo despertar!
Os campos eram mais floridos, os brinquedos mais criativos, confeccionados com os elementos da natureza e do lar.
Não era preciso poluir o ambiente, para fazer diferente, o melhor brinquedo. Tudo era reaproveitado. Era saudável brincar! Não havia limite de idade para participar. Eram construídos com base na criatividade, reflexão e no diálogo, pelo trabalho entrelaçado da família, crianças, pais, tios, avós, de um significado e beleza singular! Era assim que surgia o respeito, pela família, que se despertava a honestidade, que se formavam os valores, imprescindíveis na vida em sociedade.
Era o tempo, em que as pessoas de maior idade, os professores, o jardineiro e o sapateiro, eram valorizados pela rica experiência, que conosco compartilhava. Isso era simplesmente genial.
Eu sou desse tempo e carrego com mais profundo sentimento, a sua beleza.
Embora nosso mundo moderno seja recheado de novidades e, muitas, de grande utilidade, eu acredito que precisamos frear a velocidade planetária dessa ideologia, e de superestimar a tecnologia. Torna-se imprescindível compreender que o ser humano, com todas as suas criações e imperfeições, e a natureza, são a razão maior de nossa existência. Então, parece que urge um novo tempo, um despertar!
Não podemos ficar adormecidos no encantamento do mundo da tecnologia, não que esta não tenha sua significativa importância e necessidade, mas, não poderá substituir o que há de mais precioso, a convivência entre os pares, o relacionamento e comunicação efetiva entre as pessoas, que são capazes de fortalecer e, mesmo, garantir a vida em sociedade.
O homem é um ser eminentemente social, capaz de despertar os mais variados sentimentos, emoções, reflexões, de estabelecer conexões inimagináveis com os seres de sua espécie. A solidão aflora em alguns momentos de sua vida, mas pontuais, em sua maioria. Afinal, a vida não é linear. Assim, não é salutar o confinamento da espécie humana, numa conexão interminável com aparelhos tecnológicos. Estes podem provisoriamente, alimentar um desejo, mas não substituir a necessidade da convivência humana.
É preciso um recomeço, é preciso ressignificar a vida.
Acredito na bondade humana, e descredito na indiferença.
Acredito na possibilidade de uma retomada de valores, de um recomeço que seja favorável à subsistência humana em sua inteireza.
Acredito que em cada micro espaço que estivermos é possível construir um novo tempo, menos desumano, menos competitivo, menos desigual, melhor de se viver.
Eu acredito!