Sem medicamentos

Pacientes com anemia falciforme protestam contra falta de insumos no RN

Pacientes do Rio Grande do Norte diagnosticados com anemia falciforme – uma doença herditária que prejudica a produção correta de sangue – estão sem receber da rede estadual de saúde, há cerca de dois meses, uma medicação chamada de Hidroxiureia, que é contínua no tratamento da doença.

Além disso, estão sofrendo com a falta de reagentes para exames no anexo hematológico que funciona no Hemocentro, em Natal, e com uma redução na equipe médica, que tem afetado os atendimentos.

Nesta quarta-feira (6), pacientes e familiares realizaram um protesto em frente ao Hemocentro, em Natal, cobrando soluções ao Poder Público para a situação. Alguns deles foram nesta própria manhã à unidade para realizar exames, mas não conseguiram.

De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap), em relação ao medicamento, a previsão é que ele chegue ao Rio Grande do Norte neste próximo fim de semana. Quanto à falta de médicos hematologistas, a pasta disse que “não há profissionais com esse tipo de formação disponíveis no estado para além dos que já estão ligados à Secretaria”.

A Sesap disse que recentemente o quadro diminuiu por conta de aposentadorias e pedidos de saída e que “há um planejamento para remanejamento de setor dos que estão disponíveis, reforçando o setor ambulatorial”.

Os pacientes dizem que a equipe diminuiu de nove para três médicos e que os exames que eram feitos a cada três meses passaram a ser feitos a cada seis. A informação da redução da equipe foi confirmada pelo diretor de hematologia do anexo do Hemocentro.

“Na verdade a gente tem batalhado e feito várias tratativas com a Secretaria de Saúde, não só alertando sobre a importância do Hemocentro, mas a importância da persistência da instituição funcionar na sua plenitude”, disse o médico James Maciel.

“Mas o fato é que realmente a gente perdeu do corpo clínico vários membros, não só por aposentadoria, mas também por questões de saúde e até mesmo por exoneração, como um colega que foi morar em outro estado. E a grande dificuldade é porque a gente tem poucos hematologistas concursados no estado”, concluiu.

Pacientes e família cobram solução

A dona de casa Ana Paula Oliveira levou a filha para fazer um exame na manhã desta quarta-feira, mas não foi possível porque não havia reagentes no anexo do Hemonorte.

“Eu vim hoje de Tibau do Sul para fazer os exames da minha filha. Quando cheguei aqui, está faltando reagente e está faltando muitas coisas aqui no Hemonorte, como os médicos que estão pedindo licença, outros estão se aposentando”, lamentou.

“A gente quer uma resposta, pois nossos filhos, as pessoas que estão aqui precisam urgentemente de resposta. Vão ficar sem resposta? Não. A luta é muito forte, é luta contra a morte”.

Ela disse que na próxima terça-feira a filha tem uma consulta e ela vai precisar realizar o exame em alguma clínica privada. “Vou procurar fazer de outro jeito, particular, procurar dinheiro onde não tem”, lamentou.

A dona de casa Rosineide Lira também contou que tem tido dificuldades para realizar consultas e exames para o filho dela. “São muitos os pacientes e poucos os médicos”, lamentou.

“Meu filho esteve doente agora, a gente ficou batendo de hospital em hospital e não teve condições de interná-lo, porque as portas se fecharam para quem tem anemia falciforme”, disse.

A também donda de casa Graciele Caetano conta que a falta de medicação nesses dois meses fez com que o filho ficasse mais tempo internado. “Sem o medicamento, eles passam mais tempo internado e vem outras consequências”, lamentou.

“A gente vem na Unicat, não tem tempo determinado, dizem que não tem verba. E a gente fica sem saber o que fazer, porque é uma medicação de alto custo e a gente não tem como comprar essa medicação. O que a gente tem é o suporte do governo pra receber”.

O auxiliar eletricista Rafael Lira, que tem a doença lamenta também a falta de atendimentos 24 horas. “Se a gente tiver crise em algum momento além desse [horário comercial], a gente fica dependendo de UPA. No meu caso, que sou do interior, de hospital pequeno, sem suportes corretos”, lamentou.

“Nunca teve o atendimento de 24 horas. Mas a gente sempre vinha para ser encaminhado para outros hospitais. Agora nem isso tem mais”.

Diretor busca fluxo mais definido para pacientes

O diretor de hematologia do anexo do Hemonorte, James Maciel, explicou que o centro sempre funcionou como referência para o atendimento dos pacientes falciformes, “que é uma doença que eventualmente o paciente tem situações de urgência e que precisam de internação”.

Ele lembra que em 2022 o Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, a maior unidade de saúde do estado, que era porta de retaguarda dos pacientes falcêmicos, passou a focar em traumas e que, com esse movimento, se criou uma dificuldade para essa demanda. Segundo ele, o Walfredo segue recebendo esses pacientes, assim como as UPAs, mas o fluxo, ele avalia, precisa ser melhorado.

“A gente vem amadurecendo tratativas com a Secretaria de Saúde exatamente para estabelecer um fluxo de regulação ou para o próprio Walfredo ou então para alguma outra unidade do estado, para que a gente possa realmente dar retaguarda e atendimento aos pacientes que precisam, na eventualidade de uma crise ou outra situação do tipo”.

“Como se trata de uma doença com características muito particulares, então o ideal é que realmente tivesse um fluxo desenhado para que o paciente falcêmico pudesse receber o melhor atendimento”, disse, almejando a possibilidade de médicos hematologistas realizarem o atendimento.

Quanto ao atendimento no anexo do hemocentro, o médico James Maciel cita que uma das possibilidades é “talvez incluir médicos clínicos gerais pelo menos pra manter o fluxo básico da sala de transfusão e deslocar esses hematologistas pra funções mais específicas, como ambulatório”.

G1 RN

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