O véu sobre a cabeça e ombros das mulheres é uma imagem especialmente associada à lembrança visual de celebrações religiosas do passado. Na Igreja Católica, em particular, a peça era indispensável ao culto e isso prevaleceu até o início da década de 1960. Feitos de fina e leve renda transparente, em que se distinguiam desenhos sutis, podiam ter cores diferentes, mas o preto e o branco eram as principais. Independentemente do seu significado teológico e confessional, o véu dava uma solenidade especial ao ambiente e às pessoas que usavam. Não obstante a exigência referir-se ao interior do templo, o uso muitas vezes se estendia fora dele. Nas cidades pequenas médias de então, de poucos automóveis particulares, era comum ver-se, caminhando por ruas próximas à igreja, mulheres com a cabeça coberta, antes ou após as missas. A peça também podia ser vista durante as procissões.
O uso do véu no culto católico atual, no mundo ocidental, pode ser visto como algo quase exótico, devoção extremamente apegada a modos antigos e até fundamentalismo religioso. Sabe-se, entretanto, que igrejas orientais são mais conservadoras em relação ao costume e que mesmo do lado de cá de Greenwich não há unanimidade sobre a interrupção da prática. A descontinuação gradual do uso entre católicas veio no conjunto de mudanças a partir do Concílio Vaticano II, marco de grandes transformações na Igreja Romana, sob o pontificado do Papa João XXIII. Algumas dessas modificações são mais facilmente perceptíveis. Entre essas estão a autorização para celebração da missa no idioma de cada local e a atitude mais liberal em relação à vestimenta de religiosos, especialmente padres, no exercício da vida civil, independentemente de sua função de ordenado. Com efeito, antes dessas mudanças, a batina dos padres, o hábito das freiras, eram obrigatórios, mesmo que esses religiosos exercessem outras atividades, como professores, políticos ou mesmo no trabalho hospitalar. 15
Retornando ao véu sobre cabeça e ombros das mulheres no catolicismo, o uso remontava à tradição baseada em passagens bíblicas sobre ensinamentos direcionados às primeiras comunidades cristãs. Outras formas de cobrir a cabeça (o chapéu, por exemplo) eram conhecidas. porém, entre nós, se ocorreu foi exceção. O abandono da tradição tem explicações que não se discutem aqui. Nesse espaço apenas se registra um hábito presente em determinado momento da vida de nossas cidades, sem deixar de notar que, além dos aspectos referidos, o véu para as mulheres acabava por se constituir, também, um item de elegância.
