CRÔNICA

O GRANDE PALANQUE

Nas disputas eleitorais no Brasil, as ruas eram o cenário natural. Passeatas, carreatas e comícios. Líderes buscando influenciar a decisão do eleitor. Os comícios-relâmpagos, nos bairros, no meio de semana e as grandes concentrações, no final, multidões deslocando-se como ondas humanas, em carros, caminhões, bicicletas ou a pé, para praças ou largos mais centrais e identificados com determinado agrupamento partidário.

As aglomerações se identificavam por cores, nomes, slogans e palavras de ordem comuns aos respectivos partidos ou coligações partidários. Mas Bandeiras, cartazes, faixas e adereços não tinham um padrão rígido de configuração o que refletia o caráter independente com que cada pessoa ou grupo de pessoas produzia esses materiais, por eles mesmos feitos ou mandados fazer, uma forma de financiamento direto da campanha pelo eleitor, de modo espontâneo. Em alguns casos, pessoas físicas, empresas ou associações participavam desse custeio, financiando pequenos grupos, principalmente oferecendo transporte para os deslocamentos. O bordão mais popular e comum a qualquer lado era o “já ganhou”, antecedido do nome do candidato, com o qual os eleitores se convenciam mutuamente de pertencerem ao lado fadado ao triunfo.

Era a época dos grandes oradores, elogiados pela retórica, nem sempre de conteúdo aproveitável, mas eloquente. O clima desse tipo de assembleia, em praça pública, nunca foi propício à análise objetiva de seja o que for, mas à emulação de multidões, ao despertar do entusiasmo indispensável a qualquer causa ou projeto. Nem precisa dizer que na maior parte das vezes esses discursos contribuíam mais com o folclore, o anedotário e a piada do que com a discussão dos problemas das cidades e do país. Essa a parte que não mudou e, de certa forma, cresceu com o desenvolvimento de tecnologias facilitadoras da comunicação.

Duas praças de Mossoró foram simbólicas para os respectivos grupos concorrentes. Verdes de um lado, vermelhos de outro, adensando cada metro quadrado. Na Praça da Redenção o Rosadismo/Dinartismo transformava tudo em um mar vermelho. A Cruzada da Esperança, de Aluízio Alves ocupava a Praça Bento Praxedes, denominada pelos adversários de Praça do Codó, referência a derrotas anteriores sofridas pelos ocupantes desse sítio, e fazia do espaço uma verde floresta. Araras e papagaios/bacuraus.

Candidatos ainda saem às ruas, mas não como antes. Atualmente, limitam-se a breves passeios, entrando em casas selecionadas, mais para gerar imagens a serem gravadas para uso em programas de TV e redes sociais.

Notícias semelhantes
Comentários
Loading...
Page Reader Press Enter to Read Page Content Out Loud Press Enter to Pause or Restart Reading Page Content Out Loud Press Enter to Stop Reading Page Content Out Loud Screen Reader Support