CRÔNICA

O FIGURINO DO LUTO

Luto é sentimento de pesar pelo falecimento de alguém querido. Compreende processos psicológicos complexos influenciados por fatores diversos como grau de proximidade, lembrança de vivências comuns, crenças, religiões e muitos outros. Por outro lado, também fazem parte as manifestações externas desse estado de espírito, os simbolismos que dão a conhecer a tristeza e a saudade próprios de tal situação, o sinal que desperta no outro empatia, compreensão, respeito e solidariedade.

Entre essas expressões estão o uso de cores significativas, variáveis em diferentes épocas e culturas, como o branco, o azul, o roxo, o vermelho e, na tradição ocidental, cristã, em que se inclui o Brasil, o preto. Essas cores estão presentes sob diversas formas, especialmente nas roupas das pessoas enlutadas e aqui entra particularmente o elemento pouco conhecido de gerações atuais: o uso de roupas pretas ou combinação de preto e branco, por determinados períodos, que vão de meses a mais de um ano. A adoção exclusiva de trajes nos tons descritos constitui o que se chama de luto fechado, determinado por uma visão rigorosa do princípio associada à proximidade familiar com a pessoa finada. Alternativamente há o luto mais aberto, também chamado de aliviado, traduzido por trajes sóbrios a que se acrescenta um sinal como uma tarja de tecido preto colocada na manga da camisa ou sobre o bolso do paletó ou camisa. Essa peça é conhecida como fumo e geralmente indica ou traduz um parentesco mais afastado, porém suficiente para justificar as saudades e o respeito memorial. Esse sinal pode também ser um laço preto sobre a gola de uma roupa masculina ou feminina.

Entre nós esse costume já foi mais observado. Atualmente, é mais comum o uso de roupas sóbrias por ocasião das cerimônias de despedida, comportamento digno, porém às vezes determinado apenas por questões de etiqueta. Para a maioria das famílias de antes, entretanto, seria inconcebível não observar a indumentária do luto, de modo fechado ou menos rígido e por um tempo mínimo a não deixar dúvidas sobre a importância da perda. Fato interessante é que nem sempre era possível, de repente, renovar todo o guarda-roupa pessoal. Aliás, entre famílias de nível aquisitivo modesto (a maioria) era simplesmente impossível abandonar toda roupa que possuía para comprar novas. A maneira prática corrente para resolver o problema era o cozimento da roupa de qualquer cor ou matiz em uma solução de tintura escura, facilmente obtida nas boas casas do ramo, como se chamava então qualquer loja que tinha o que a gente queria, e hoje provavelmente desconhecida da população jovem e, consequentemente, do comércio.

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