OPINIÃO

O APELIDO DO DINHEIRO

Gírias para denominar dinheiro em geral há em profusão, mas aqui vamos lembrar alguns apelidos usados para identificar, no Brasil, algumas cédulas particulares, de valores específicos, que vieram e se foram com as sucessivas reformas monetárias que deixaram confusa a cabeça do cidadão comum.

Dois amigos se encontram depois de longo tempo. Um só se lamenta. O outro tenta animá-lo com os clichês inevitáveis quando não há muita coisa a dizer. Na letra de “Amigo é pra essas coisas”, de Aldir Blanc, o amigo solidário oferece, na despedida, uma ajuda financeira: tome um Cabral. No caso, ele fala da nota de mil cruzeiros, o cruzeiro da primeira versão, conhecido diretamente apenas pelos nascidos até o início dos anos 60. No fim dessa década “uma poda” de três zeros na moeda instituiu o “cruzeiro novo”. A nota de mil cruzeiros (os antigos) trazia a efígie do descobridor do Brasil e era a cédula de maior valor no velho cruzeiro. A quantidade de “Cabral” que alguém tinha no bolso, no banco ou debaixo do colchão era a medida de seu prestígio e poder. No cruzeiro novo a nota de mil homenageou o Barão do Rio Branco. O Cabral sumiu. Só se falava, então, o “me empresta um barão”, “isso custa um barão”, “sujeito cheio do barão”. O Barão do Rio Branco já era figura conhecida do cruzeiro original, mas seu respeitável bigode ilustrava a nota de cinco cruzeiros, um pequeno valor que não dava prestígio ao portador. Atualmente, apesar de não ter a popularidade das duas citadas, a estampa da cédula também dá origem a um apelido à nota de cinquenta reais. Alguns referem-se a ela como “uma onça”, por causa da imagem do felino que ela traz.

O jogo do bicho também contribuiu para a identidade popular de pelo menos duas cédulas do cruzeiro velho. A de cinquenta era “um galo”, alusão ao número, uma das dezenas referentes à ave penosa na “loteria animal”. Pelo mesmo motivo a nota de 100 cruzeiros foi chamada de “vaca”. A música popular também fez esse registro. Uma marchinha carnavalesca de Lamartine Babo, falando do malandro que gostava de levar a vida na maciota canta a certa altura que ele “é de encomenda, já foi vaqueiro numa fazenda. Pega, pega, como ninguém, aquelas vacas de cem”.

Curioso é o termo “conto” empregado para o número mil, nas diversas moedas brasileiras. O “conto de réis” era um valor oficial equivalente a um milhão de réis, moeda que no Brasil antecedeu o cruzeiro. Culturalmente o “réis” insinuou-se no cruzeiro: quinhentos réis (cinquenta centavos de cruzeiro), mil réis (um cruzeiro), um conto de réis (mil cruzeiros). Até hoje é assim, um “conto” (sem o “réis”) serve para designar um valor de mil reais.

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