Netflix leva Mossoró para o mundo em comédia sobre Lampião
A produção se passa em 1927, ano em que o bando do cangaceiro Lampião empreendeu uma invasão a Mossoró e foi expulso por moradores e policiais
A cidade de Mossoró, no Oeste potiguar, é assunto central da série O Cangaceiro do Futuro, comédia original do serviço de streaming lançada neste domingo (25). A produção se passa em 1927, ano em que o bando do cangaceiro Lampião empreendeu uma invasão a Mossoró e foi expulso por moradores e policiais. Jararaca, cangaceiro morto e enterrado na cidade, é um dos personagens da série, e chega a falar dos perigos de invadir Mossoró pelo fato da igreja ter duas torres, em referência à Paróquia de Santa Luzia, no Centro.
A série conta a história de Virguley (Edmilson Filho), um cearense que trabalha como motoboy em São Paulo. Após uma briga na rua, ele sofre um tapa tão forte que o leva até 1927, em pleno sertão nordestino. Logo ao cair no século passado, o homem surge nu, mas logo avista Lampião e seu bando tomando banho em um rio, com as roupas deixadas penduradas. Virguley rouba as vestes do cangaceiro mais temido do sertão e, por sua semelhança, é confundido com Virgulino Ferreira da Silva, o rei do cangaço
O período é o mesmo em que Lampião rumava à Mossoró, numa viagem descrita pela série como de longa duração. O intuito da viagem seria realizar um saque na cidade, e até recados para o prefeito da época, Rodolfo Fernandes, foram feitos por Lampião, na intenção de conquistar dinheiro sem que precisasse invadir o município. O político não acatou.
Ainda assim, a invasão a Mossoró era uma tentativa perigosa. Ela já era considerada uma cidade grande para a época, e tinha até uma agência do Banco do Brasil. O rei do cangaço também era reticente de invadir cidades com igreja de duas torres, por considerar que seriam mais desenvolvidas e, portanto, com maiores riscos de obter uma derrota. O local era a Igreja de Santa Luzia, principal paróquia da região. A santa protetora dos olhos é ainda a padroeira da cidade.
Segundo o historiador e professor do IFRN, Tales Augusto de Oliveira, ainda havia outros motivos para deixar Virgulino temeroso: as quatro igrejas de Mossoró (São Vicente, Santa Luzia, Sagrado Coração de Jesus e Nossa Senhora da Conceição), ao serem ligadas, formavam uma espécie de cruz. O próprio Lampião, de acordo com o professor, era devoto de Santa Luzia, e cultivava também uma amizade com Padre Cícero.
A decisão de fazer a empreitada na capital do Oeste só veio após uma invasão bem sucedida do bando de outro cangaceiro — Massilon — à Apodi, levando Lampião ao desejo de saquear Mossoró.
Em 13 de junho de 1927, Lampião e seu grupo chegaram à cidade, mas enfrentaram a resistência dos moradores e foram expulsos, não sem antes deixar feridos para trás, como o cangaceiro José Leite de Santana, o Jararaca. Na série da Netflix, ele é interpretado pelo ator Mateus Honori. O Jararaca fictício ainda fez um alerta ao chefe durante o segundo episódio: “Capitão, o senhor sabe que cidade com duas torres de Igreja não é lugar para cangaceiro”, numa tentativa em vão de demover Virgulino de adentrar a cidade comandada por Rodolfo Fernandes.
Na vida real, Jararaca foi baleado e capturado em Mossoró. A morte violenta, dias depois da ação frustrada, o levou a ser considerado santo popular. Até hoje, o túmulo do cangaceiro é o mais visitado do Cemitério São Sebastião. Outra lenda do imaginário popular que perpassa Santana é citada na produção: as supostas botijas de ouro enterradas pelo bando. A série foi inteiramente gravada em Quixadá, no Ceará.
Ficha técnica
O Cangaceiro do Futuro é uma comédia escrita por Halder Gomes, diretor de Cine Holliúdy (2013), Shaolin do Sertão (2016), Os Parças (2017) e Bem-vinda a Quixeramobim (2022). No elenco, além de Edmilson Filho e Mateus Honori, estão nomes como Chandelly Braz, Dudu Azevedo, Fábio Lago, Frank Menezes, Evaldo Macarrão, Haroldo Guimarães, Max Petterson, Valéria Vitoriano, Solange Teixeir e Carri Costa.
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