Maior cajueiro do mundo abriga o menor lagarto das Américas
O animal, que está na lista de espécies ameaçadas de extinção, foi descoberto no Parque das Dunas
Foi encontrado, recentemente, no Cajueiro de Pirangi, o menor lagarto das Américas: o lagarto-de-folhiço (Coleodactylus natalensis Freire). Esse minúsculo réptil, que mede aproximadamente de 22 milímetros de comprimento, foi visto por funcionários do Cajueiro que faziam a manutenção rotineira de limpeza e poda da árvore.
O animal, que está na lista de espécies ameaçadas de extinção, foi descoberto no Parque das Dunas pela professora Eliza Maria Xavier Freire, em 1999, durante pesquisa acadêmica na Unidade de Conservação.
O fato inédito no Cajueiro de Pirangi foi comunicado à professora Eliza para que pudessem ser feitos estudos sobre a espécie. Esse pequeno lagarto é endêmico de remanescente de Mata Atlântica do RN, e é somente encontrado aqui no estado. O animal vive entre o folhiço, que constitui a serrapilheira do substrato da mata.
Segundo a gestora do Cajueiro de Pirangi, Marígia Madje, apesar das características externas indicarem que se tratava de um lagarto-de-folhiço, não se poderia comprovar antes de uma análise mais criteriosa de um especialista. “Os estudos realmente comprovaram que é o mesmo lagarto descoberto no Parque das Dunas, e nós não poderíamos consultar outro pesquisador, além da professora Eliza, por ser a autora desse grande feito no Estado do Rio Grande do Norte, quando fez a descoberta no Parque das Dunas há 20 anos”, afirmou.
A doutora em Zoologia, na área de Herpetologia e professora titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) há 30 anos, fala sobre a descoberta do lagarto no Cajueiro de Pirangi. “A espécie não chegou de repente no Maior Cajueiro do Mundo, ela já estava aqui. Originalmente ela estava distribuída ao longo da Mata Atlântica, e essa mata foi sendo fragmentada ao longo do tempo. Os locais que mantiveram o sombreamento da floresta, o folhiço abundante no chão com alimento e uma umidade mais alta, são os lugares preferidos dessa espécie. O Cajueiro fazia parte dessa área florestada original ao longo da Costa Potiguar, se isolou e manteve uma população de Coleodactylus”, explicou a professora Eliza.
Segundo a especialista, o fato do Cajueiro de Pirangi abrigar o menor lagarto das Américas, é sem dúvida, é uma notícia positiva. “Como minha pesquisa há 20 anos foi realizada no Parque das Dunas e nos anos seguintes a espécie só tinha sido vista por lá, era considerada endêmica do Parque, mas atualmente a espécie é endêmica de remanescentes florestais do Estado do Rio Grande do Norte. Isso é atribuído ao isolamento, à fragmentação da floresta, que vai deixando algumas áreas relevantes que possuem as exigências do animal”, disse.
A semelhança da vegetação entre o Parque das Dunas e o Cajueiro de Pirangi é um fator em comum para a existência do lagarto. A vegetação do cajueiro que fez parte da paisagem da Mata Atlântica, a sombra da árvore, o folhiço no chão que possui umidade e o alimento para o animal são as condições favoráveis para a existência da espécie. A preferência do ambiente é o folhiço sombreado de área florestada, composição identificada em todos os locais em que ele foi visto no Rio Grande do Norte.
A primeira coleta do Coleodactylus natalensis no Cajueiro foi realizada por João Leocádio, Otoniel Miranda e Michela Carboni, integrantes que atuam no Cajueiro de Pirangi. “O fato de ter sido encontrado pela equipe é algo importante, pois o saber popular os levou a terem essa sensibilização, esse cuidado na observância durante a rotina do trabalho também. Alguns profissionais têm um olhar acadêmico, mas é importante saber que as pessoas comuns, sem esse olhar acadêmico, as vivências, os saberes locais, são fundamentais para a sociedade. É de extrema necessidade inserir a população no processo de conservação ambiental”, afirmou a professora Eliza.
A gestora do local considera que, “mesmo sem saber, eles nos ensinam sobre atenção. Eles poderiam está somente fazendo o trabalho de limpeza e poda da árvore, mas eles se sentem responsáveis e parte de tudo isso. A atual gestão do cajueiro inicia um processo de integrar a comunidade, de fortalecer a relação com a sociedade, de fazer desse ponto turístico, um local de pesquisa e que nossa equipe se sinta pertencente. O foco não é apenas o visitante turista, mas queremos muito mais”, finalizou a gestora do Cajueiro, Marígia Madje.
De acordo com a professora Eliza Freire, a partir de agora o Cajueiro tem um atrativo a mais, porém, fica o alerta da preservação do local. A área de mata não pode ser pisoteada, mas deve manter a visitação e trilhas fora do folhiço, como já acontece atualmente. “É importante divulgarmos um fato como este para ressaltarmos a importância de se preservar o local para que tenhamos mais informações sobre nossa biodiversidade e possamos lutar pela adoção de políticas públicas e ações estratégicas voltadas à conservação”, ressaltou.
O Lagartinho-de-folhiço
Um dos menores lagartos da América do Sul, da família dos Sphaerodactylidae, é uma espécie endêmica remanescente da Mata Atlântica potiguar. Medindo em média 22 milímetros de comprimento, a espécie recebeu o nome científico de Coleodactylus natalensis e foi catalogada em 1999, pela professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Eliza Maria Xavier Freire, quando utilizou o Parque das Dunas como laboratório vivo para seus estudos. O Coleodactylus natalensis já foi encontrado no Parque das Dunas, Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte, Parque Estadual Mata da Pipa (PEMP) e Mata do Jiqui.
Cajueiro de Pirangi
Cajueiro de Pirangi fica na praia de Pirangi do Norte, em Parnamirim, cidade da Grande Natal, e cobre uma área de aproximadamente 8.500 metros quadrados, com um perímetro de aproximadamente 500 metros. O Cajueiro é aberto todos os dias da semana, das 7h30 às 17h30. A entrada custa R$8,00. Crianças, de sete a 12 anos, pagam meia entrada, assim como estudantes e professores, portando carteira comprobatória.