CRÔNICA

LIVRARIAS MOSSOROENSES

Quando, entre 1950 e 1960, alguém em Mossoró ou em cidades vizinhas abria um livro didático, lia na primeira folha o nome da Casa Valério, de Napoleão Valério, impresso a carimbo. A Casa Valério estava na Rua Cel. Gurgel, entre a Alfredo Fernandes e Frei Miguelinho e não era propriamente uma livraria, mas era um dos dois mais conhecidos estabelecimentos em que se podia adquirir, principalmente, os livros obrigatórios nas escolas, do ensino básico ao ginasial, limites aos quais se cingiam as opções dos estudantes da cidade. O outro era a Livraria e Papelaria Nordeste ou, como mais comumente se dizia, a loja de Fransquinho Vasconcelos, na extremidade da Cel. Saboia, próximo à Praça Vigário Antonio Joaquim.

Os anos 60, quando a cidade já tinha cursos além do ginásio e as primeiras faculdades, viram surgir e desaparecer na mesma década ou até meados da seguinte, três livrarias no centro da cidade: A Abolição, Dom Costa e Feira do Livro. Esta última, a primeira a fechar, funcionava na esquina da Rua José de Alencar com a Frei Miguelinho, olhando para a Praça Felipe Guerra, e vendia livros didáticos além de papelaria. As outras abrangiam um espectro mais amplo de obras literárias, compatível com o conceito geral de estabelecimentos do ramo. A Livraria Dom Costa era um empreendimento da Diocese de Santa Luzia, ao tempo de Dom Gentil Diniz Barreto, aberta na Rua Santos Dumont, por trás do então prédio da Rádio Rural. Funcionava conjugada à Gráfica Miguel Faustino. A Abolição era a maior das três por fazer parte de uma rede de livrarias do RN, capitaneada pelo livreiro Walter Pereira. O grupo compreendia a Livraria Universitária e a Moderna, ambas em Natal, na Av. Rio Branco, Cidade Alta, e Rua Amaro Barreto, Alecrim, respectivamente. A Abolição ocupava a loja de esquina do térreo do então Esperança Palace Hotel, hoje edifício sede da Câmara Municipal.

Livrarias lembram imediatamente as confrarias de intelectuais que se reúnem nesses estabelecimentos para conversar, não somente sobre livros, mas tendo os livros como principal elemento agregador. Nas livrarias mossoroenses não são tão conhecidos esses grupos, talvez porque nenhuma teve uma história de atividade mais longeva, como foi o caso da Universitária, de Natal. Mas certamente elas também reuniam os amantes dos livros, sobretudo a Abolição que, pela localização, tendia a ser ponto natural de convergência na cidade. Como intimidade com livros é, também, requisito para trabalhar nesse ramo, lembram-se os nomes do então estudante Lacerda, futuro escritor José Lacerda Felipe, na Dom Costa, e na Abolição, Tarcísio Gurgel, autor de vários livros, inclusive o texto do Chuva de Balas.

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