OPINIÃO

FERRO DE ENGOMAR

O antigo ferro de engomar está agora em algum museu temático ou esquecido em alguma casa mais antiga. Tinha a brasa como fonte de calor. Era um desses equipamentos praticamente indispensável em casa e não apenas nas mais humildes. Aliás, foi o que justificou o nome de “ferro” do objeto. De fato, sua estrutura era composta desse metal, com um punho, ou cabo de madeira isolando a temperatura, o que permitia ser empunhado por quem realizava o trabalho. Seu sucedâneo, o ferro elétrico, é feito de outros materiais. Apenas herdou o nome. Sua presença nas casas, como foi dito, era quase universal porque, se em algumas era instrumento de trabalho das engomadeiras, que tinham na atividade uma forma de complementação de renda familiar, ou mesmo a única renda, e atendiam a famílias que podiam pagar pelo serviço, em outras era parte indissociável da rotina doméstica de cuidar das roupas de todos os que residiam sob um mesmo teto.

O desenho do equipamento continua o mesmo. A parte posterior reta e as laterais em curva simétrica póstero-anterior de cerca de 15 centímetros de extensão, convergindo para uma extremidade anterior aguda. A forma clássica do ferro de engomar explica a denominação popular de construções de formato parecido. Diferentemente do ferro elétrico, era um instrumento volumoso, com altura em torno de 10 centímetros. Precisava desse volume para conter quantidade equivalente do carvão, transformado em brasa para dar a temperatura necessária. Consequentemente, era uma peça muito mais pesada do que a atual, aquecida por energia elétrica, demandando esforço para passar grandes quantidades de roupa, com repetitivos movimentos de membro superior, repercutindo em ombro e costas.

Cera de carnaúba enrolada em um pano deixava lisa a superfície inferior do ferro, permitindo escorregar suavemente sobre a roupa. Como não tinha termostato, a temperatura era testada tocando a chapa quente com um dedo molhado de saliva. Engomar com ferro a brasa também dependia diretamente de energia eólica. Se não tinha vento não tinha engomado. De fato, era necessária a exposição do ferro a uma corrente aérea que penetrava por uma abertura na parede posterior e mantinha as brasas acessas. Para a circulação do ar a parte anterior e superior da peça se abria em um tipo de chaminé truncada. A engomadeira punha o ferro em uma janela ou sobre algum suporte, na calçada, com a parte posterior voltada para a corrente de ar e assoviava para chamar os ventos. Não se sabe quem descobriu o método, mas nem mesmo os gregos antigos desconfiavam que Eolo, guardião mitológico dos ventos, podia ser convocado por um simples assovio.

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