No tempo em que a FITEMA (Fiação Tecelagem Mossoró S/A), situada no início da Av. Presidente Dutra, fabricava tecidos simples para sacos de embalar cereais, havia em Mossoró outro tipo de indústria de tecelagem: a de fabricação de redes de dormir. Como atividade econômica não era tão grande na sua dimensão absoluta. Tinha, entretanto, importância relativa, pela modéstia do parque industrial da cidade.
Elas não eram muitas, outra razão limitante de seu significado econômico. Localizavam-se principalmente no bairro Paredões, próximo à Igreja de São José, e no bairro Santo Antonio. Funcionavam com um quadro de trabalhadores contratados, atuando na própria fábrica e um batalhão de trabalhadoras, mulheres, sem vínculo empregatício, em um tipo de regime de terceirização, no tempo em que essa palavra não era citada e sequer conhecida. No galpão da fábrica produzia-se o tecido em teares de madeira, operação manual, trabalho cansativo e barulhento. Às terceirizadas cabia realizar os acabamentos, mais precisamente a tessitura de abas vazadas, formada por fios trançados desenhando espaços poligonais e terminando em pequenos tufos pendentes a pequenos intervalos ao longo dessas franjas que recebem o nome de “varanda”.
Esse último trabalho era realizado na residência das trabalhadoras, outra semelhança (além da terceirização) com o atual trabalho home office. O sistema funcionava com as mulheres buscando os lotes de redes e rolos de fios, na fábrica, e levando para suas casas. Ali estendiam o tecido da rede ao longo de uma parede, preso a um suporte, fixavam o fio com uma agulha de palombar à borda desse tecido e trançavam manualmente as varandas. Os prazos para devolução do produto acabado eram suficientes para que o trabalho se realizasse sem atropelos, cada uma fazia sua própria meta, traduzida no número de unidades assumidas de cada vez. Algumas dedicavam todo o dia a essa atividade. A maioria conciliava com os afazeres domésticos comuns. No final voltavam à fábrica, sempre a pé, levando a produção e recebendo a respectiva remuneração que, diga-se, não era algo que lhes permitia viver exclusivamente desse trabalho. 12
A movimentação dessas mulheres na frente das fábricas era cena comum ao longo das manhãs, entrando e saindo, carregando lotes de redes, conversando, rindo, exercício natural de convivência, possivelmente até esquecendo por alguns momentos a dificuldade real de trabalhar dupla ou triplamente, com os afazeres de casa, com os filhos e com a labor modestamente remunerado e nem mesmo reconhecido como profissão.
A maioria dessas fábricas desapareceu, mas o hábito de dormir de rede continua. As redes agora vêm de fora.