OPINIÃO

E TINHA O MATA-BURRO

Quem viveu ou conheceu, em outras épocas, as nossas localidades rurais, vilas, fazendas, sítios, sabe o que é um mata-burro. Estruturas feitas, geralmente, de madeira, tábuas grossas, resistentes, barrotes ou simplesmente tronco de árvores dispostos de modo paralelo, com um intervalo entre eles, fechando parcialmente uma pequena vala e formando uma ponte que podia ser acessada por pessoas e até automóveis, mas criando uma barreira para animais que ao tentar passar podiam enfiar as patas nos espaços vazios da construção e ficar presos nela. O objetivo era evitar que esses animais atravessassem e entrassem em determinados lugares. Por isso eram construídos na entrada de propriedades, no acesso a plantações e em outros locais. Os que viajaram de trem pela sempre lembrada linha Mossoró-Souza, que na realidade começava em Porto Franco, então terras de Areia Branca, podiam ver várias dessas armações construídas em pontos que cruzavam a via férrea e que tinham justamente a intensão de impedir a presença de animais à passagem do trem.

Não sei se essas estruturas ainda são feitas ou até se são permitidas. Não precisa muito esforço para compreender que o aprisionamento de animais nessas malhas e o inevitável esforço para sair delas resultava em fratura de pernas dos bichos, algo terrível, apesar de que naquele tempo pudesse até ser visto com naturalidade. Por outro lado, está claro que mesmo que o burro tenha sido “contemplado” para dar nome à invenção, o negócio era direcionado às diversas categorias de quadrúpedes circulando por ali. Assim, vacas, bois, cavalos eram barrados e nem mesmo cabras e bodes podiam passar. E é também claro que o burro inteligente procuraria outra passagem, pois mesmo sendo burro, ao se deparar com a coisa percebia que por ali não dava.

Já ouvi alguém dizer que um “mata-burro” poderia evitar a entrada de determinadas figuras em lugares onde “suas ausências seriam bem-vindas”. Como na administração (pública ou privada) ou mesmo em prosaicas discussões que impedem qualquer compreensão de ideias e, menos ainda eventual contra-argumento. Acredito que falassem de forma metafórica e que não quisessem, de fato, a solução que, pela brutalidade, os colocaria paradoxalmente na categoria que até então era objeto de seu discurso. A certeza mesmo é que estamos a precisar de reaprender a lidar com ideias, com base na boa educação, o que se faz com livros, no amplo sentido que inclui a própria experiência de vida, a nossa e a de outros. Uma espécie de “mata-burro”, com todas as aspas e com toda certeza.

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