Dos 17 aos 47: a história de Ludimilla Oliveira em 3 décadas

LUDIMILLA OLIVEIRA é Reitora da UFERSA

 

Segunda-feira, 9 de novembro de 1992, dia ensolarado e o caminho até a Maternidade Almeida Castro parecia não ter fim, vivi um misto de angústia, medo e o futuro me fazia refletir.

Eu tinha apenas 17 anos, estudiosa e com espírito empreendedor, fiquei pensando como tudo seria. Pois, ser mãe na adolescência era um desafio à intelectualidade e a vida mudaria meus planos, eu tinha em meus braços um menino.

Uma criança gestada com nove meses de muitos enjôos, vários internamentos aliados a ânsia da vida estudantil, quase paralisada.

Ser mãe, doméstica quando necessário. E, ainda vez ou outra viver e ouvir o preconceito de quem nada entende: tão jovem, acabou a vida!

Acabou a vida, isso mesmo, ouvi muito essa expressão, às pessoas faziam questão de colocar um ponto final, onde era apenas o começo. Minha mãe e minha irmã me ajudaram muito, nos primeiros anos de Galileu. Eu confesso, que até hoje não teria conseguido cuidar de uma criança  se não fosse essa compreensão.

Meu esposo, um exímio professor, dedicado e ávido para fazer o melhor. Sempre trabalhou muito, muito mesmo. Nossa família viveu momentos de batalhas conjuntas.

Quantas vezes, em nosso sítio eu passava sábado e domingo e até semanas cozinhando para o pessoal que trabalhava no campo conosco. Uma vida simples e rurícola. Nas horas vagas, eu estava lendo, estudando ou escrevendo.

Destarte, quando dava porque nas noites de chuvas os besouros e os mosquitos  incomodavam era preciso  apagar à luz.

A trajetória do retorno à graduação não foi nada fácil! Professora de aulas particulares e Galileu bem que aprendeu logo, lições de química, física e matemática. Já que, passava ali o tempo inteiro do meu lado acompanhando tudo.

Na minha biografia, daqui a alguns anos, darei detalhes da luta de uma jovem mãe, mulher, dona de casa e pesquisadora.

Graduação, Especialização, Mestrado e Doutorado, títulos que me renderam uma história que ninguém contou.

Ninguém conta, porque não sabe as noites de sono que perdi e todas às dificuldades que venci.

Agora, aos 47 anos, a minha vida não vai acabar!

Ninguém apaga a minha batalha, a minha luta, os meus dias de suor e lágrimas, ninguém apaga.

Ninguém irá excluir às minhas conquistas. Eu venci estudando, trabalhando e perseverando na oração e na fé. Deus está sempre comigo!

Aos 47 anos, sou vítima da luta colérica que me qualifica como Interventora de uma Universidade Federal. De onde, na verdade sou a Primeira Mulher Reitora na linha histórica legalmente constituída e ninguém vai apagar a minha trajetória e nem interromper a minha missão.

Uma mulher determinada e destemida não recua, enfrenta e segue.

Não tenho nenhum óbice em respeitar os malogrados e inconformados, alienados politicamente por não saber considerar outras opiniões. Verdades absolutas são as suas. Lamentável!

Aos 47 anos, como uma  mulher que conquistou o seu espaço, peço respeito à minha história, a minha luta e ao meu labor. Tenho sentimentos, não preciso viver diariamente tortura psicológica e massacres ideológicos transversalizados nos dissabores análogos da intolerância .

Afinal, eu também sou uma mulher. Com apenas algumas diferenças: não uso o vitimismo da fragilidade, não uso o gênero como jargão, não atuo com máculas e facetas, disfarces humanísticos não constituem minha vestimenta. Sou autêntica e não tenho vergonha de ser altruísta e de servir a Deus.

Por fim, tenho orgulho da minha trajetória, foi a que Deus me deu e é ela que  tenho que ficar, confiar e aceitar.

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