A linguagem popular é repleta de frases de efeito, bordões, ditados, expressões com a finalidade de transmitir uma ideia de modo simples e direto, ou, às vezes, reagir com uma resposta pronta, sucinta, que dispensa argumentações mais longas, sem prejuízos para sua assertividade. Raramente se sabe, ou há pelo menos um indício sobre de onde saiu tal expressão, quem a criou, em que contexto. Muitas perpetuam-se, são conhecidas e repetidas por gerações seguidas, mas a maioria limita-se a determinados períodos. Há as que ocorrem em âmbito nacional ou ultrapassam essas fronteiras, mas a maioria é circunscrita ao local ou regional, pela cultura e outros elementos reais que lhes dão sentido ali e somente ali.
Em Natal e algumas cidades do Agreste Potiguar não era incomum o uso da frase “Tá aqui pra Babá” para se manifestar pouco caso de algo ou de alguém, para expressar que o argumento do outro não era convincente e em outras situações. Nesse caso, a origem do bordão era conhecida e comentada. Tudo começou em uma campanha política em uma dessas cidades, quando um entusiasmado militante de uma das candidaturas, no meio de uma passeata, sacou a frase acompanhada de um gesto obsceno, usando o terceiro dedo das mãos, para atingir o adversário. O resultado da eleição, francamente favorável ao outro lado, virou o sentido da provocação em desfavor de seu candidato que, diga-se de passagem, nada teve a ver com história.
Em Mossoró a fala do povo é cheia de alocuções e clichês que logo depois vão sendo esquecidos. Houve tempos que uma frase em tom descontraído vinha sempre que alguém garantia ter solução fácil para problema do outro e dizia: “Deixe comigo e com o Padre do Alto”. Ou seja, não se incomode, não se preocupe. Vamos resolver. A cidade tinha, como tem, dois bairros com o “alto” em sua denominação: O Alto da Conceição e o Alto de São Manoel. No bairro mais ao sul pastoreava as almas católicas e as nem tanto o Padre Flávio, bem conhecido naquela época por ser, também, professor nos principais colégios mossoroenses de então. Em São Manoel o vigário era o Pe. Alfredo Simonetti. Não ficava claro qual o pároco, de que bairro, estaria sempre disponível para intervir em casos que nada tinham a ver com sua função paroquial, mas isso não importava, pois o fanfarrão falava por conta própria, sem o aval do padre, e não ia além da promessa feita, geralmente, em circunstâncias que já continham em si a própria solução. Não seria mesmo cobrado por isso. E, depois, se alguém tivesse a ideia de reclamar a promessa não cumprida a resposta poderia ser: Dê parte a Catota!