Entrevista

Conversa da Semana com Josivan Barbosa

O professor Josivan Barbosa é o terceiro personagem da série de entrevistas que o Portal do RN está fazendo com os pré-candidatos a reitor da Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa), na Conversa da Semana. Ex-diretor da antiga Escola Superior de Agronomia de Mossoró (Esam) e primeiro reitor da Ufersa, Josivan Barbosa apresenta suas motivações para entrar na disputa. Ele fala sobre diversos assuntos referentes à consulta, revela os grandes problemas da instituição e apresenta algumas propostas.

Por Márcio Alexandre

PORTAL DO RN – Professor Josivan, o senhor foi diretor da então Esam, e também o primeiro reitor da atual Ufersa. O que ainda o motivo a retomar a ideia de ser gestor dessa instituição?

Josivan Barbosa – Olha, a universidade é uma instituição que, apesar de nova, 15 anos para uma universidade é praticamente um bebê, a nossa  UFRN tem 60 anos -, e mesmo assim tem muitas lacunas que vão surgindo. A nossa universidade tem hoje dois grandes problemas para serem resolvidos. Um é a questão da captação de recursos de investimentos. Porque recursos de custeio é função do número de alunos. E o número de alunos é função do quadro de professores. Logicamente, de servidores também, mas principalmente do quadro de professores. Então um motivo grande: a queda na captação de recursos oriundos de Brasília ou através de uma negociação com a bancada federal e os três senadores, ou diretamente no balcão junto ao  Ministério da Educação (MEC). Um grande motivo é essa queda. Essa queda é de quanto? Essa queda é de quase 90%. Recursos de investimento, recurso de capital. Porque quando você fala em recurso de pessoal, esse já é sagrado. Esse. a universidade não toma nem conhecimento. É direto do Ministério do Planejamento para o banco. Agora, o recurso de investimento não. Esse é o que faz a diferença. O que faz o diferencial de uma gestão é o recurso de investimento. Então um grande motivo é essa queda de 90%. E nós, em função de nossa experiência, em Brasília, de ter transformado a outra instituição em universidade e de ter sido o primeiro diretor da outra instituição e de ter sido o primeiro reitor da Ufersa, eleito pela comunidade acadêmica, isso nos credencia a fazer um grande trabalho para restabelecer esses recursos de investimento. É com a mesma motivação que eu tinha há 15 anos quando lutei pelo projeto de transformação da Esam em Ufersa. Com aquela mesma motivação nós estamos agora para restabelecer esses recursos de investimentos. Segundo ponto: a construção dos campi foi feita, mas não avançou, não teve novas pactuações com o MEC. Somente a pactuação inicial. Ou seja, os campi já tem 10 anos sem nova pactuação de cursos, de recursos, vagas, principalmente, para servidores – há um déficit muio grande de servidores nos campi. E você sabe: como os campi foram criados na nossa gestão, eu me sinto como um co-responsável pelo sucesso dos campi. E vou dar a minha contribuição de novo para a instituição. Então são esses dois grandes pontos que nos motivam a avançar.

Porque eu digo que o grande projeto foram os campi? Porque nós conseguimos construir os 3 campi em 3 anos sem ter recurso programado.

PRN – Um dos grandes legados seus como diretor da Esam foi transformá-la em universidade. E como reitor da Ufersa, qual o seu legado?

JB – Olha, o grande projeto nosso sem dúvida foi a construção dos campi porque a construção da sede foi conseguida com muita luta porque a sede deu um trabalho muio grande porque quando uma universidade é criada, normalmente, na lei, já vem aí 200 cargos, em média. Ou seja a universidade já tem autorização automática para contratar 200 professores e 200 servidores. A nossa foram 18, 9 professores e 9 técnicos. Então foi um projeto muio tímido, um projeto que já estava lá no MEC há 13 anos e que estava engavetado. Mas nós não fomos fazer um novo projeto porque um novo projeto era uma nova exposição de motivos do ponto de vista econômico. Era um projeto muio tímido. Em função disso, nós tivemos que lutar muito para conseguir, no sistema de balcão, essas vagas. Isso deu trabalho. Mas quando veio o Reuni (Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades, criado pelo ex-presidente Lula)  e aí melhorou, porque o Reuni foi um programa do MEC para ampliar as universidades. Mas o Conselho Universitário não aceitava criar os campi com o Reuni. Porque eu digo que o grande projeto foram os campi? Porque nós conseguimos construir os 3 campi em 3 anos sem ter recurso programado. Tivemos que fazer todo um percurso desde o município, passando pelos deputados estaduais, com a sintonia dos federais e os senadores, e começamos instalando Angicos, depois Caraúbas e finalmente Pau dos Ferros. Acho que esse foi o grande projeto. Porque aí a universidade fez a sua interiorização, atingiu praticamente 75% do Estado em termos territoriais e hoje nós temos que preencher essas lacunas que tem nesses campi. Tenho visitado semanalmente e tenho percebido isso claramente.

Acredito que o grande problema da universidade como um todo está na elaboração de novos projetos pra a captação de recursos. Acho que esse é o grande dilema, hoje, essa lentidão.

PRN – Josivan, o atual reitor contou com seu apoio para se eleger. E a Reitoria provavelmente tem um candidato. Gostaríamos que você falasse um pouco como está hoje essa relação política sua com o reitor. E como apresentar seu discurso sabendo que você apoiou essa gestão?

JB – Olha, eu como ex-dirigente e como pré-candidato, não gostaria de fazer a avaliação da atual gestão. Acho que a comunidade acadêmica é quem deve fazer. Acredito que o grande problema da universidade como um todo está na elaboração de novos projetos pra a captação de recursos. Acho que esse é o grande dilema, hoje, essa lentidão. Essa morosidade na captação de recursos, acho que esse é o grande conflito, o grande desafio. Mas estou pensando para frente, analisando a coisa para frente.

PRN – E pensando para frente, gostaríamos que o senhor apresentasse uma proposta para cada um dos segmentos da Ufersa.

JB – Na questão dos alunos um grande desafio, uma necessidade urgente da universidade é construir um parque esportivo em cada campi. Porque? A sede não tem um parque esportivo. A nossa UFRN em um belíssimo parque esportivo. Esse é um grande projeto pelo qual nós vamos trabalhar. Um parque esportivo construído em Mossoró vai atender não só os estudantes, mas à comunidade como um todo na realização das competições. Uma piscina de boa qualidade, um ginásio de esportes oficial, os equipamentos necessários. Espore é uma coisa muio boa para os jovens e Mossoró precisa de um equipamento dessa natureza. Como nós sabemos que o município não tem essa capacidade de investimento, nada melhor que você lutar junto ao MEC para que isso seja feio, e não só em Mossoró, mas nos campi e vou dizer porque. Nos campi, em média você trabalha com jovens de 30 municípios, mas esse equipamento não seria só para a universidade, mas para desenvolver o esporte em toda a região. A universidade pode ser o catalisador de um processo desses. Acho que esse é o maior projeto para os estudantes.

PRN – E para os servidores?

JB – Os servidores estão ocupando, principalmente nos campi, duas, três funções. Então o grande desafio, primeiro, é você conseguir códigos de vaga junto ao Ministério da Educação para você aumentar essa quantidade de servidores. Isso já ajuda muio. E um outro ponto para os servidores é você ter uma política de qualificação para os servidores. O servidor que tem graduação, você criar as condições para ele fazer o Mestrado e o Doutorado. Porque estou colocando isso? Nessa situação de ajuste fiscal dos últimos 6 anos, a questão salarial ficou muito complicada. Seria uma forma de você recompor o salário com a qualificação já que o incentivo financeiro é razoável.

PRN – E para os professores?

JB – Acho que um grande projeto para o quadro de professores – eu não tenho dúvida disso -, é você criar condições para melhorar a qualidade dos laboratórios de ensino de graduação e você dar condição de equipamentos científicos para que aqueles grupos emergentes de pesquisa possam verticalizar a sua área. Ou seja, incentivo para que ele tenha condições de criar um programa de Mestrado e um programa de Doutorado. Isso é uma coisa que o docente precisa do apoio da instituição. Vou colocar um exemplo. O curso de Agronomia é o mais antigo da instituição e ainda não tinha, quando iniciei a gestão, um centro de pesquisa. E nós construímos um centro de pesquisa, na área vegetal, que é o Centro de Pesquisas Vegetais do Semiárido. É um prédio que custou quase R$ 3 milhões, nós equipamos. Isso para o curso mais antigo, 40 anos Imagine os cursos que tem 6, 7 anos. Todos precisam de estrutura. Mas um destaque grande que eu gostaria de colocar aqui é o LEDOC, que é o curso de Educação do Campo. Nós precisamos apoiar muito esses cursos da área das ciências humanas. E nós vamos construir edificações, há necessidade hoje de se construir um Centro de Ciências Humanas que funcione como apoio para esses cursos da área. E um exemplo é o LEDOC, que é um curso com conceito 5.

PRN – A Ufersa é uma universidade com vocação para as ciências agrárias, embora já tenha cursos em várias áreas do conhecimento. A atual oferta de cursos da Ufersa atende às necessidades e potencialidades da região?

JB – Vou dar um exemplo. Quando nós fomos estabelecendo a universidade, a minha preocupação foi dizer assim: olha, a universidade do semiárido vai ter Engenharias, vai ter Direito e Medicina. Ou seja, ela hoje é uma instituição como qualquer outra universidade federal, ela tem essas grandes áreas. Agora, em cada  área dessas aí há os vácuos que precisam ser preenchidos. Na área de Saúde, nós precisamos de um curso complementar à Medicina, que é o curso de Nutrição, e que hoje é uma coisa muito importante, cada dia fica mais importante e Mossoró não tem um curso de Nutrição em uma universidade pública. Então, tem um espaço bom. Depois você tem que pensar num curso de Psicologia. Essa seria uma linha. Nas áreas de Engenharia nós temos que intensificar muito essa área voltada para a parte das Tecnologias da Informação e Comunicação, nós temos que complementar. Um curso na área de Robótica, a universidade tem que ter. Então a gente precisa ir preenchendo esses vácuos. O jovem, o talento, ele precisa ter esse espaço na universidade.

PRN – Qual a sua avaliação do atual Governo Federal em relação à educação, em especial às instituições federais de ensino superior?

JB – O governo está instalando 6 universidades federais. Já nomeou os reitores pró-tempore e com essa nomeação já liberou no orçamento de 2020 os recursos para a instalação das 8 universidades federais. Com isso, ele mostra que, na prática, vai avançar o sistema federal. Vamos passar agora para 69 universidades. Dessas 69, 6 em processo de instalação. Ao instalar essas universidades, logicamente que o governo vai levar para o Congresso a criação de códigos de vagas de docentes e de servidores. Com isso ele mostra uma situação: de que a prática é diferente do discurso. Isso é visto com bons olhos hoje pela comunidade acadêmica como um todo.

E é importante que você coloque na discussão para você a cada dia reduzir esse voto pelo aconchego e tentar aumentar a proporção dos votos dos que votam pelo mérito.

PRN – A consulta popular é para a formação das listas tríplices e os primeiros colocados podem ser preteridos na escolha do presidente. Mesmo assim vale a pena disputar?

JB –  Vale a pena. Eu acho que o debate que nós estamos travando com as proposições que estamos colocando, com esse diagnóstico claro de que a universidade precisa no momento é muito bom e com a conscientização daquele que representa a maior proporção da escola, 70%, que é o docente, ele vai para a escolha, para a urna, com essa decisão. E é importante que você coloque na discussão para você a cada dia reduzir esse voto pelo aconchego e tentar aumentar a proporção dos votos dos que votam pelo mérito. E logicamente, o momento não é de testar. A universidade vive um momento difícil da captação de recursos, então não é momento de testar. A universidade vai avaliar muio isso aí, por isso acho que vale muio à pena esse momento de escolha do gestor, mesmo nessa situação da lista. Acredito também que o Congresso Nacional, ao avaliar essa Medida Provisória, vai avançar para que a escolha dos gestores seja por um processo direto e que seja enviado apenas um nome.

PRN – Qual a sua opinião sobre o organograma da universidade?

JB – Acho que uma grande necessidade da universidade é uma nova roupagem nas pró-reitorias no sentido de você ter claramente uma Pró-Reitoria de Assuntos Internacionais. Não precisa aumentar, faz apenas um remanejamento. Você ter uma Pró-Reitoria de Desenvolvimento Institucional e a universidade tem a necessidade de uma Pró-Reitoria de Integração com a Sociedade. Você pode fazer uma readequação, não há necessidade de aumentar, mesmo porque é muito difícil você justificar, num momento de ajuste fiscal, aumentar as funções.

PRN – A universidade em conseguido mostrar à sociedade o seu volume de serviços, que ela justifica o investimento que a sociedade faz nela?

JB – Eu vou responder à sua pergunta com dois exemplos: aqui nós temos a fábrica de Cimento Mizu, que fica a 50 quilômetros aqui da sede. Só nessa fábrica tem 5 engenheiros formados aqui. Tem engenheiros mecânicos e engenheiros químicos. Um outro grande exemplo: em geral, na zona rural, que é a área mais crítica do desenvolvimento regional, não passa de 2 jovens para cada 100, no ensino superior. Tem um assentamento aqui, chamado Recanto da Esperança. Lá a proporção de 10 jovens a cada 100 e todos 10 são aqui na Ufersa. Então a universidade ela tem espaço para ampliar a sua atuação. Jovens esses que passarão a ter outra história cultural, e até do ponto de vista financeiro das suas famílias. Eu tenho dito que esse projeto de universidade do semiárido foi o maior projeto do Rio Grande do Norte dos últimos 50 anos – porque o outro era a UFRN. São esses exemplos que a gente mostra e nós estamos dando os primeiros passos nessa universidade, e você sabe que quando os primeiros passos são acertados isso faz com que a universidade preste um serviço melhor à sociedade. Acho que ela é extremamente útil para o interior do Rio Grande do Norte.

PRN – Suas palavras finais.

JB – Eu queria colocar aqui dois pontos. Um é dizer que é fundamental a participação do aluno no processo. Na última eleição, nós tivemos apenas 30% dos alunos participando do processo. Acho que nós deveríamos avançar para pelo menos 90%. Um outro apelo é para o professor, que é 70% do peso. Então que ele avalie, analise, faça uma crítica e que o professor participe do processo nos convidando para discutir a instituição. É importante que a gente possa fazer reuniões com os grupos de docentes. Eu não tenho nenhum receio de discutir esse projeto da universidade do semiárido em qualquer fórum local, regional ou nacional, mesmo porque é um projeto que está dando certo.

 

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