Opinião

CHANCHADAS DA ATLÂNTIDA

Por várias décadas, os cinemas brasileiros exibiram as denominas chanchadas. O termo, segundo o “Aurélio”, significa espetáculo de pouco ou nenhum valor. Certamente essa definição não considera, além do que rendeu financeiramente esse tipo de produção para seus realizadores e exibidores, a importância que ele terminaria representando para a história das artes brasileiras. Desde a década de 1940, quando foi fundada no Rio de Janeiro a Atlântida Cinematográfica, várias empresas dedicaram-se a fazer um cinema industrial palatável ao grande público. Nessa linha, os enredos eram simples, os roteiros centrados no humor e em atores de grande empatia popular.

A Atlântida, em sua existência de 1943 a 1962, fez os principais filmes do gênero. Lançou e popularizou Oscarito (o espanhol de nascimento Oscar Lorenzo Jacinto de la Inmaculada Concepción Teresa Diaz) e Grande Otelo (o mineiro Sebastião Bernardes de Souza Prata). Assim como o baiano Zé Trindade cujos personagens eram sempre impregnados de uma malandragem especial, apesar do biotipo do ator, nada sugestivo daquele que se conhece como característico do malandro brasileiro. A chanchada também consagrou Ankito, Costinha, Zezé Macedo, Violeta Ferraz, Renata Fronzi, Catalano, comediantes por excelência. Mas havia os galãs e estrelas nesse elenco. Destaque para os nomes de Cyl Farney, Eliana Macedo, Anselmo Duarte, e os vilões José Lewgoy, Renato Restier, Carlos Manga. O filão também fez surgir outras companhias e outros astros, na época e posteriormente. Contemporâneos são Mazzaropi (que também se destacou como empresário e produzia seus próprios filmes), Ronald Golias, Dercy Gonçalves. Chico Anisio não só trabalhou como ator como escreveu inúmeros roteiros e Jô Soares atuou ao lado de Oscarito, Grande Otelo e Ankito, bem como com Ronald Golias. Outra característica das chanchadas era seu caráter de musical. Era obrigatória, como outra forma de atrair o público, a presença de cantores e conjuntos musicais de sucesso, então. No roteiro, uma festa no Copacabana Palace, Hotel Glória ou equivalente e aí apareciam Nelson Gonçalves, Ângela Maria, Dick Farney, Emilinha Borba, Chico Alves, Dircinha Batista, Francisco Carlos, Trio Irakitan, Irmãs Galvão, os sertanejos autênticos Alvarenga e Ranchinho, Tonico e Tinoco e por aí vai.

No Rio Grande do Norte não foi diferente. Em Mossoró, embora passassem em todos os cinemas, foi na tela do Pax em mais se viram esses filmes, lotando sessões repetidas, especialmente nos fins de semana, em que disputavam e ganhavam de produções “hollywoodianas” e seus glamourosos astros internacionais. Invertia-se o bordão de Ibrahim Sued: Sorry, periferia!

 

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