CRÔNICA

AS URNAS DE BARAÚNA

No Brasil, na eleição para cargos públicos, passado o dia da votação, a apuração dos votos era o momento culminante da campanha. Contagem urna a urna, voto a voto, uma semana para confirmar os eleitos. O atual sistema de computação dos números em tempo real e resultados anunciados em seguida, apenas após a checagem de alguns pontos do sistema eletrônico e cumpridas rápidas formalidades, aboliu a vivência dessa expectativa, que era ímpar, e aos poucos transformava-se em júbilo para uns, desencanto para outros.

Em Mossoró, especialmente na eleição de prefeito, esse tempo entre o pleito e a definição do vencedor, era uma mistura de dias normais e feriado. As pessoas largavam o que estavam fazendo a cada audição de uma sirene ou tema musical escolhido pelas emissoras de rádio como características para anunciar que o resultado de mais uma urna seria conhecido. E aí começavam algumas particularidades desse momento do período eleitoral de que destaco duas.

A primeira certamente não era genuinamente local e era protagonizada pelas rádios. Como, geralmente, cada uma tinha um lado, não era incomum que o resultado parcial da contagem fosse diferente, conforme a emissora ouvida, com o candidato respectivo estando sempre na frente ou pelo menos pouco atrás do concorrente. Para isso não era necessário “inventar” números diferentes do real. O truque consistia apenas em atrasar a divulgação do resultado de algumas urnas ou privilegiar o de outras, de modo a obter a impressão momentânea favorável a seu partido.

A segunda, sim, nativa mossoense, era esperar pelas urnas de Baraúna. A esperança dos eleitores do candidato que estava pendendo. Que era também expectativa pelas de São Sebastião (atual Dix-sept Rosado), ambas computadas na parte final do processo. Mas as de Baraúna pareciam ter um poder maior de “virada” para quem estava “apanhando” e, quando diante do sorrido do adversário ou suspiro conformado do correligionário, o sujeito sacava a frase recorrente: calma! Ainda tem as urnas de Baraúna.

Esse comportamento era quase folclórico. O resultado obtido na sede do município via de regra prevalecia, pela maior massa de votos em relação aos distritos e pela grande diferença de cacife eleitoral entre os lados disputantes. Até que um dia, em 1968, aqueles que tinham a eleição como perdida viram como realidade o que antes não passava de quimera. Por umas poucas dezenas de votos, o suficiente para definir o pleito, um candidato ultrapassou o outro, na reta final, com as urnas de Baraúna.

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