ÀS MARCAS DA POETIZAÇÃO
Por: TANIAMÁ BARRETO
Em uma dada hora em um dado local dei asas a minha imaginação e ousei questionar-me sobre o significado dos sentimentos e do significado das paixões, da contemplação, do amor … sei lá!
O dia já para amanhecer e eu ainda de frente à tela do notebook, procurando obter inspiração para dizer no papel o que sinto e penso sobre minha condição de estar no mundo urbano, com o pensamento lá no mundo rural; mas interagindo com os vários significados que os fenômenos me possibilitam entender; ou, pelo menos, me possibilitam tentar entender.
Não que eu consiga perceber em tudo que vejo o seu significado. Isso não! Bem porque, por mais que tente, a pequenez dos meus sentidos boicota o meu caminhar e coloca pedras nas frestas das janelas que enigmaticamente escurecem o saber e não me possibilitam avançar na construção do significado do que vejo e percebo.
– Não compreendo!
Então me decepciono comigo mesma e salto do campo da filosofia imaginária para o da poesia. Este sim me dá espaço para voar e quebrar as barreiras da comunicação com o significado da vida.
Poetizo porque o linguajar poético é menos rigoroso do que o filosófico.
Construo o discurso poético porque nele sou capaz de mergulhar nas águas turvas da vida e me embriagar com a lama que desagua do meu peito e me inebria como se fosse águas cristalinas do rio doce aonde a poluição ainda não chegou.
Consigo saborear o néctar das flores, mesmo sendo elas nascidas no deserto árido da minha imaginação.
Ultrapasso o significado da razão e vou tangenciando os resquícios de migalhas que escoam do canto da boca do cão faminto ao relento do lixo social que ainda deixa a vida brotar.
Saio do campo dos sentidos para o dos devaneios e mergulho sofregamente no sabor do significado que só a mim compete entender.
É neste que me deleito e me refugio.
É neste que me sinto com sentido.
É neste que finco o meu próprio caminho sem sentido.
E fico. E digo:
Meu pensamento vai longe
Minha lembrança constrange
Minha imaginação vagueia
Minha criatividade enredeia.
Não sei se pra escrita
Ou se só na memória fica
Mas uma coisa me conforta
O registo a mim só importa
Questiono sobre o que sou
Indago sobre a ética
Busco compreender quem fui
Devaneio sobre o que serei
Não me desvio do abrigo
Mas devaneio no que digo
Se entendo o que me entedia
Me liberto do que me angustia.
Saio procurando o caminho
Descobrir o que não vejo
Entender o que não vivo
Reaprender o mundo não escrito.
As marcas da vida que não se vê
Só é descoberta aos cegos
Que mesmo sem ter visão
Sente, vê e entende com o coração.
Prof.a Enf.a Dra. TANIAMÁ VIEIRA DA SILVA BARRETO (Taniamá Barreto / Taniamá Vieira) é autora de vários livros de poesias, crônicas e técnico-científicos. É sócia fundadora das seguintes academias: Academia Feminina de Letras e Artes de Mossoró (AFLAM), ocupante da Cadeira 12; Academia de Letras e Artes de Martins (ALAM), ocupante da Cadeira 01; e Academia de Ciências Jurídicas e Sociais (ACJUS), ocupante da Cadeira 03. É Titular da Cadeira 08 da Academia Mossoroense de Letras (AMOL) e Patronímica da Cadeira 57 do Conselho Internacional de Letras e Artes (CONINTER). Integra o Instituto Cultural do Oeste Potiguar (ICOP), a Sociedade Brasileira de Estudo do Cangaço (SBEC), o Museu do Sertão, a Associação Literária e Artística de Mulheres Potiguares (ALAMP) e a Associação dos Escritores Mossoroenses (ASCRIM), além de Sócia Correspondente da Academia de Letras de Apodi (AAPOL).