AMIGOS E CONHECIDOS
Pessoas com quem convivemos em algum momento, no trabalho, escola, vizinhança, igreja e tantos outros locais comuns, são classificadas em amigos e conhecidos, conforme as circunstâncias e os critérios e escolhas de cada um. Uma amizade, pequena ou grande, é algo mais fácil de perceber intuitivamente do que definir. Fora dessa categoria, é mais simples perceber e lembrar de outros como pessoas que para nós foram simples conhecidos, com ampla gradação desse conhecimento. Com algumas sequer trocamos palavras, uma única vez, embora lembremos dela, de algum modo ou por algum motivo. Amigos ou conhecidos vêm à lembrança repentinamente a propósito de uma palavra, uma imagem ou um conceito com o qual os associamos. Bate, então a curiosidade sobre seu destino: se ainda vive, onde mora, o que faz na vida. Outras vezes uma notícia chega ao acaso, trazida por pessoa que nem poderíamos supor que “conhecia o conhecido”.
O ambiente escolar é provavelmente o principal gerador dessas relações que se perdem no tempo. Até mesmo porque, ali, primeiramente há grande diversidade na origem de colegas e contemporâneos. Eles veem de famílias que migram depois para longe; outras que se encontravam apenas temporariamente em algum lugar, por distintos motivos; outras cuja estrutura econômica, afetiva etc, praticamente definiram os caminhos de seus membros. Além disso, estudantes (crianças e adolescentes) são indivíduos em momentos iniciais das respectivas existências, organismos e almas dotados de potencialidade que vai se diferenciar em largo espectro intelectual, profissional, econômico, além do fator externo, aleatório, das oportunidades, que em conjunto ou por uma das causas isoladas determinam cursos diferentes na vida de cada um e esses caminhos podem manter antigos amigos, convergir a direção de quem apenas se conhecia ou fazer desaparecer, da convivência e da memória, pessoas outrora tão próximas.
A presença dessas memórias está associada intrinsicamente à personalidade dos indivíduos. Conservadores gostam de manter muitas coisas, inclusive as amizades, são conhecidos como “saudosistas” ao relembrarem sempre pessoas, lugares e situações vividas, ao contrário dos “práticos” ou “pragmáticos” que valorizam mais o momento, suas circunstâncias e conveniências, ou até daqueles para os quais nada importa.
No final, cada um será para os outros o que os outros serão para si: amizades sólidas fortalecidas no tempo, vaga lembrança ou esquecimento total. Mesmo no ambiente familiar, a maioria dos que hoje vivem terá desaparecido da memória três gerações após.