CRÔNICA

RETRATISTAS DO MONÓCULO

Do final dos anos 50 até meados da década de 1970, uma pecinha em forma de cone truncado e feita de um tipo de plástico, o poliestireno, virou uma espécie de moda popular. A extremidade alargada do cone, quase retangular, era fechada por uma tampa de material banco e translúcido e uma fotografia semitransparente, em filme positivo (nas fotos convencionais o filme é negativo) justaposta à tampa pela parte interna. A outra extremidade, mais estreita, com uma abertura circular, continha uma lente de aumento. As laterais do monóculo tinham uma pintura que impedia a entrada da luz por esses lados e o tom forte das diversas cores dessa pintura conferiam ao objeto um atrativo visual que era uma das características que levavam ao uso do objeto como souvenir, chaveiro e elemento de decoração, para além de sua original função como um tipo diferente de porta-retrato. Apesar da relativa má qualidade de fotografia, quando o filme é ultrapassado pela luz filtrada através da parede translúcida da tampa, a imagem vista por meio da lente de aumento ganha uma nitidez e colorido impressionantes, semelhante a uma tela de cinema ou TV.

A nítida prevalência da moda do monóculo no gosto popular pode classificá-la como brega, termo de forte conotação preconceituosa na sua origem, mas que, hoje em dia, serve mais para denominar algo que cai na simpatia do brasileiro, modo geral, é assumido sem reservas pelo povão e praticado, às vezes de modo dissimulado, por muita gente mais. Foi assim, também, nesse caso. De modo que pontos turísticos passaram a ter a presença de profissionais da fotografia que se especializaram nesse trabalho, assim como praças ou qualquer outro ponto das cidades comuns com algum lugar sugestivo de cenário para uma foto, que podia ser também de filhos, da família, em pose orientada por esses “retratistas”. Alguns deles, segundo informações disponíveis, carregavam apetrechos para ajudar a compor o ambiente cenográfico, animais e até jumentos pintados como se fossem zebras. Vai saber o gosto e cada um.

Surpreendentemente, o monóculo ainda existe a despeito de todo seu obsoletismo em relação a tantas formas atuais de registro de imagem. Entretanto, é improvável que alguma criança ou adolescente atual tenha visto um. Assim como o bambolê, o laquê do cabelo, o bundex, a pantalona, a calça boca de sino, o salto cavalo de aço e tantas coisas mais, ele faz parte da crônica de uma época, embora o que chamam de “mão invisível do mercado” costume mexer nesses baús e, aqui e acolá, pinçar um desses modismos, limpar-lhe a poeira e apresentar como novidade.

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