CRÔNICA

O LEGADO DOS FESTIVAIS

Os anos 60, do século XX, viram surgir, consolidar-se e iniciar o declínio que antecedeu o completo desaparecimento, o que foi possivelmente o maior movimento musical brasileiro até hoje, pela fertilidade de talentos emergindo em relativo pouco tempo. Músicos, compositores e intérpretes que viriam a constituir nas décadas seguintes a elite indiscutível nesse campo específico das artes no Brasil, alguns com projeção internacional e todos definitivamente incorporados à história.

Sem dúvida, os mais relevantes desses concursos foram os promovidos pela TV Record de São Paulo, mas a onda influenciou eventos semelhantes organizados por instituições culturais e associações universitárias, não apenas no eixo cultural São Paulo-Rio de Janeiro, mas em todo país. Óbvio que os produzidos naqueles dois estados eram os principais, as referências para os demais, os de repercussão nacional, de fato. Nomes totalmente desconhecidos do grande público viravam em um instante estrelas das gravadoras que dominavam o mercado fonográfico e determinavam quem faria ou não sucesso. Todo mundo queria ter um disco desses artistas em sua discoteca particular e as emissoras de rádio catalisavam essa tendência.

Temas políticos caracterizavam as composições nesses festivais. Um tipo particular foi denominado “samba de protesto”. Isso influenciava a juventude mais politizada e ensejava certa polarização com outro fenômeno musical emergente, o yê-yê-yê, assumido no Brasil pela “Jovem Guarda”, antagonismo que em certa medida potencializava os dois movimentos. Nos primeiros anos da década seguintes alguns festivais ainda fizeram sucesso, mas muito aquém do alcançado pelos da Record.

Enquanto os festivais mais charmosos aconteciam no Sudeste, os demais estados brasileiros replicavam a fórmula apostando na motivação das novas gerações com aquele formato de espetáculo para incrementar o ambiente musical local e promover os potenciais artistas regionais. Mossoró e Natal entram na onda. A Rádio Rural de Mossoró, recém-inaugurada e atenta às tendências de vanguarda, incorporou os festivais aos festejos populares em homenagem Santa Luzia, trazendo para a rua e para as multidões os antigos concursos de calouros que tinham lugar em auditórios fechados, ampliando o foco para a criatividade de músicos e compositores, em vez de limitar-se, como esses últimos, a selecionar exclusivamente cantores. Nessa toada vieram nomes jovens como Iremar Leite, Raimunda Costa (que mudou para Amanda Costa), ainda na década de 60, e, posteriormente, um novato chamado Bastinho Silva que o Brasil conhece como Bartô Galeno.

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