CRÔNICA

NA BOCA DO POVO 2

As frases que saíram das propagandas, do rádio ou televisão, para entrar na linguagem falada cotidiana, no Brasil, permanecendo através dos tempos ou limitando-se a determinados períodos para depois desaparecerem, são muitas. Referimo-nos antes a três exemplos, mas é grande o número dessas “apropriações” de textos comerciais que por serem tão conhecidos podem ser, também, citados.

Talvez o caso mais lembrado seja o da Bombril. Primeiro a marca virou sinônimo de palha de aço para limpeza de utensílios, servindo para denominar qualquer uma. Depois, o slogan das “mil e uma utilidades” foi tomado em referência a pessoas com muitas habilidades, capazes de fazer muitas coisas diferentes. Dizia-se, e às vezes ainda se diz, que o “fulano é um bombril”

Em anúncio de cosméticos e itens de higiene pessoal, em rádio e TV, além da beleza da imagem segundo padrões convencionais, as personagens têm voz suave, aveludada, convidativa. Mas em vídeo que alardeava qualidades do Shampoo Colorama, a atriz surgia por trás de um grupo de pessoas e chamava a atenção perguntando: “Ei! Ei! Vocês se lembram de minha voz?” Ela sabia que era lembrada justamente pela voz, digamos, nada charmosa. Mas agora ela não se importa, e até provoca, porque tem algo para exibir de superior: os cabelos maravilhosamente ondulados. Durante muito tempo, no cotidiano da vida real, pessoas quando falavam de algo que havia mudado substancialmente apelavam para o bordão que fechava a propaganda: “minha voz continua a mesma, mas os meus cabelos…”

No mercado comum o peso é um dos parâmetros definidores do preço de mercadorias. E ele sempre foi usado como metáfora de valores outros, como a importância e influência de pessoas tidas como decisivas em situações diversas. Entretanto, o nome de um produto foi especialmente usado para associar peso com qualidades pessoais. O Sabonete Vale Quanto Pesa não pesava mais que os 90 gramas de todos os demais e não lembro se seu preço era algo diferente do de seus concorrentes. Mas o nome sugeria, de algum modo, qualidade superior ao produto. Seja como for, nos anos 1950 e 1960, quando ele era encontrado no comércio, era lembrado para exaltar qualidades daquelas pessoas “um pouco mais nutridas”. Fulano vale quanto pesa.

Enfim, a publicidade sempre buscou fixar-se à memória do povo de modo a projetar-se no falar. A propósito, o que devia ser lembrado era “Não esqueça a minha Caloi!” e se algo fluía de modo contínuo, sem curvas ou intervalos, ou seja, de modo direto, era “Via Embratel”.

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