OPINIÃO

O HÁBITO NA REFEIÇÃO

Ariano Suassuna dizia que em residência de gente importante jantares festivos costumam tardar e, por isso, se era convidado para esses eventos comia alguma coisa em casa antes de sair. A verdade é que nossos antigos hábitos alimentares supunham que refeição se fazia em casa. Na própria, na de familiares ou de pessoas amigas, mas sempre onde era possível sentir-se praticamente “em casa”. Almoço ou jantar como evento social em si, significando convivência de pessoas estranhas, não era um costume, exceto para o viajante, em um hotel. Por aqui não havia, pelo menos que fosse de nosso conhecimento, estabelecimento com denominação exclusiva de “restaurante”. O que havia eram “bares e restaurantes”, mais bares do que outra coisa. Mesmo nos chamados clubes sociais fechados, instituições bastante representativas daqueles anos até a década 1970, isso era raro. Comida era normalmente acompanhamento de bebidas. O que se chamava de “comes e bebes” melhor seria denominado “bebes e comes”.

Como nas diversas áreas da atividade econômica da cidade (indústria, comércio, serviços) os turnos de trabalho costumavam ter intervalos de duas horas, preponderava o hábito do almoço em casa. Tudo fechava às onze horas ou ao meio-dia. Se os próprios restaurantes não fechavam isso de devia ao seu funcionamento como bar, pois sempre havia os que bebiam o almoço e um ou outro que realmente vinha apenas para almoçar, só para confirmar a exceção que toda regra tem que ter.

Os estabelecimentos que tiravam seu faturamento principal ou exclusivamente da venda de comidas eram os que funcionavam dentro dos mercados públicos. O movimento era essencialmente no café da manhã, já que os feirantes, que pela natureza da atividade começavam a trabalhar muito cedo, saiam de casa ainda pela madrugada.

Outro aspecto do “comer fora” nessa época era a simplicidade do cardápio. Prevalecia a culinária regional, incluindo-se entre as carnes os chamados produtos de caça, posteriormente proibidos por necessidade de preservação de algumas espécies em risco de extinção. Um preparo ligeiramente diferente, ainda que simples para os padrões atuais, feito de parte mais nobre de carne bovina já era algo sofisticado encontrável apenas em locais e festas especiais acessíveis a autoridades e notáveis. O mais seleto dos jantares passava longe, em variedade de pratos, do que pode ser encontrado hoje em um restaurante “self-service” de categoria razoável. Quanto ao horário do jantar, em casa, era geralmente até às sete da noite. Ou mais cedo, antes das seis horas. O sertanejo Ariano sabia disso.

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