OPINIÃO

PRAÇA DO CODÓ

O nome era uma referência pejorativa atribuída à praça por uma das correntes da disputa política local. Significava que os que eram contrários a essa corrente, e que faziam seus comícios principais nesse local, sempre perdiam as eleições. O vocábulo codó, não é registrado nos dicionários, exceto pela designação de uma cidade do Maranhão, mas aqui era bastante usado, associado à ideia de azar, má sorte, infortúnio. Tinha tudo para ser rejeitado (e era) por aqueles sobre quem se lançava a pecha de azarados, perdedores, marcados por fluidos de um local que predizia insucesso. Aluízio Alves, primeiro político do Rio Grande do Norte, e provavelmente do Brasil, com noção aguçada de marketing, assume o nome, como forma de emular seus eleitores, fazendo pouco caso de tais vaticínios.

A Praça Bento Praxedes, nome oficial do logradouro, era uma das mais tranquilas do centro da cidade. Essencialmente residencial, era geralmente usada como passagem, na ligação de pontos daquele centro. Desconhecia, durante o dia, a agitação de ruas de concentração comercial, sobretudo aquelas em torno de mercados públicos. À noite, não competia com a Praça Rodolpho Fernandes, que tinha o cinema mais antigo, o Pax, além de bares, cafés, lanchonetes, sorveterias, sinuca, bilhar e o Posto 5, dos carros de aluguel. Também não era a preferida para os passeios como a Vigário Antonio Joaquim, Praça da Catedral e, depois, também do Cine Cid. Próximo estava o Cine Caiçara, mas não exatamente na praça. Talvez por isso, isoladamente não induzia o ajuntamento de pessoas nos arredores.

A grande movimentação ficava mesmo para durante a realização dos comícios políticos. Alternativamente, número considerável de pessoas acorria ao local por ocasião de um tipo de atração relativamente recorrente, as maratonas em que um atleta do ciclismo propunha uma jornada de 72 horas contínuas sobre uma bicicleta, desafiando o cansaço, o sono e outras condições fisiológicas. A praça era sempre o local escolhido. Tais atletas eram figuras de fora, um se disse espanhol, praticantes de uma modalidade esportiva de pouca projeção, mas que encontrava em Mossoró, terra das bicicletas, um público receptivo. Depois da passagem do estrangeiro alguém “dava corda” e Chico Lopes tentava repetir o feito. Como se vê, antes de ser “o novo” ele já era o “velho astro de Mossoró”.

Para além desses momentos, a praça vivia suas noites discretas. Mas, tinha seus frequentadores. Pessoas talvez até atraídas pelo silêncio que permitia ouvir o vento a produzir melodias através das folhas de suas muitas árvores. Como os flamboyants que as outras praças citadas não tinham.

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