Entrevista

Conversa da Semana com Paulinho Silva

O Portal do RN sequencia as entrevistas com os pré-candidatos á Reitoria da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Neste sábado, a Conversa da Semana é com o professor Francisco Paulo da Silva, o Paulinho Silva, da Faculdade de Letras e Artes (FALA). Além de apontar as questões administrativas-gerenciais que merecem ser mudadas no âmbito da instituição, Paulinho apresenta propostas da chapa que forma com a professora Kelânia Mesquista (Faculdade de Ciências Exatas e Naturais – FANAT) e aponta que a conquista da autonomia financeira vai ser o grande diferencial para que a UERN possa se desenvolver e avançar. Ressalta, inclusive, que essa autonomia será importante para que haja valorização profissional e salarial de professores e técnicos. Veja na íntegra:

Por Márcio Alexandre

PORTAL DO RN – Qual avaliação você faz da atual gestão da UERN para a qual você se coloca como alternativa?

PAULINHO SILVA – Primeiro, quero agradecer a oportunidade para estabelecer um debate nesse momento de eleições na Universidade, que se configura como um momento importante para a gente discutir a universidade, discutir projetos. Para nós é fundamental que isso se dê de forma democrática, com a participação de todos, e estamos nos colocando nessa pré-candidatura porque nós avaliamos  que temos uma universidade carente de projetos que contribuam com o desenvolvimento do nosso Estado. Então nossa candidatura nasce dessa necessidade e também de um grupo de professores, técnicos e estudantes e que pensam uma universidade diferente, pensam que uma outra UERN é possível, e que se estabeleça uma gestão democrática, em defesa de uma universidade púbica, socialmente referenciada, plural, então é importante que a gente estabeleça esse debate. Nós temos hoje uma gestão na universidade extremamente centralizadora nas suas ações, portanto, antidemocrática; com dificuldades de encaminhar lutas importantes dos segmentos, como por exemplo, a própria luta que esses segmentos tem pela autonomia financeira, que hoje a gente coloca como uma bandeira importantíssima para fazer a universidade avançar. E essa gestão foi negligente nos encaminhamentos em relação à autonomia, que é um projeto que os segmentos vem desenvolvendo, elaboraram desde 2017, que passou, foi aprovado simbolicamente no Consuni (Conselho Universitário), mas os encaminhamentos que deveriam ter sido dados para conquista da autonomia emperraram no gabinete do reitor. Então isso é um problema porque sabemos hoje que a autonomia é fundamental para o avanço da universidade, para o incremento da pesquisa, para resolver problemas relativos aos reajustes de professores e técnicos e para políticas de apoio ao estudante.

PRN – E por que, na sua análise, esses procedimentos não foram encaminhados?

PS – Embora o discurso da gestão possa parecer que foi feito o que era necessário, na nossa avaliação faltou vontade política, faltou coragem e faltou projetos para que nos pudéssemos avançar nesse sentido. Nossa candidatura, então surge dessa percepção da comunidade de que é necessária uma transformação. Uma forma de fazer uma gestão na universidade que seja democrática, descentralizada, inclusiva, e isso é interessante porque certamente são bandeiras que poderão estar em cartas-programas de outras candidaturas. No entanto, espero que a comunidade seja sensível à percepção de que não basta estar numa carta-programa, é preciso olhar a história dos candidatos, é preciso olhar o compromisso político dos candidatos. Tenho dito que em relação a essa questão da autonomia, não adiante só colocar o dinheiro na mão de qualquer gestor, é preciso que o gestor tenha experiência administrativa, diálogo com a comunidade e compromisso político para decidir os destinos orçamentários da universidade em termos de como eles vão ser aplicados. E isso tem que ser feito no que a gente tem chamado em nossa carta-programa de orçamento participativo. Definir as aplicações em relação ao orçamento da universidade e ver as prioridades. Acho que a prioridade de uma universidade deve ser a pesquisa, a extensão e o ensino. Esses são pilares fundamentais para o desenvolvimento. Se nós entendermos que o investimento na pesquisa, que o investimento na formação dos nossos alunos, e da sociedade, através de projetos de extensão, são importantes para o desenvolvimento, nós vamos saber aplicar devidamente os recursos que nós tivermos ao nosso alcance a partir da conquista da autonomia. As nações que investem na pesquisa são nações que dominam a economia. O ano de 2020 evidenciou a importância do investimento na pesquisa. Está aí a questão da vacina: quem hoje está ganhando dinheiro é quem investiu na vacina. E essas vacinas são fruto de pesquisa e de investimento nas universidades. Nós precisamos investir nessa universidade, e nós vamos investir quando a gente conquistar a autonomia financeira e tiver uma gestão que saiba administrar isso discutindo a aplicação desse dinheiro com a comunidade, o que a gente vai chamar de orçamento participativo.

PRN – O recurso que vem para a universidade hoje é quase todo para o custeio, ficando um percentual mínimo para investimento em pesquisa. Com a autonomia também será necessária a definição de um percentual para a pesquisa.

PS – Hoje nós não temos. A pesquisa na universidade, apesar de ter crescido bastante, ela é fruto de um esforço dos docentes, técnicos e estudantes que participam desses projetos. São projetos criados nos nossos departamentos e com essa dedicação, esforço e essa compreensão que os docentes tem tido da importância da pesquisa, mas nós não temos pesquisa financiada. Como nós vamos fazer nossos projetos de extensão, por exemplo, nos nossos formulários, nós temos que dizer que vamos executar o projeto independente de ter recursos. Isso é um absurdo porque a pesquisa e a extensão precisam de dinheiro e ela tem funcionado em nossa universidade sem nenhuma rubrica para isso. O que nós temos conseguido algumas vezes é de recursos externos, quando a gente concorre a algum edital, o que é muito pouco. Editais que vem através da Capes, CNPq, então o que a gente consegue é alguma coisa nesse sentido e muito mais revertido em bolsas, o que, inclusive neste governo tem diminuído bastante investimentos nessa área, que é uma outra questão que nós vamos ter que enfrentar. É preciso, embora seja uma universidade estadual,  mas nó temos relações com os programas de fomento nacionais, e lutar por recursos e por esses investimentos na pesquisa. Nossa universidade não pode funcionar como vem funcionado, dependendo de emendas de bancada, então é preciso que nós tenhamos a conquista da autonomia financeira. Tendo a autonomia, nós vamos discutir com a comunidade as aplicações e com certeza, a pesquisa e a extensão serão fundamentais. E a gente tem que entender que esses investimentos retornam aos cofres do Estado em forma de impostos. E formando pessoas e colocando no mercado de trabalho, isso vai dar arrecadação para o Estado e esses impostos poderão ser aplicados na pesquisa, que é o que possibilita o desenvolvimento das nações. É preciso entender isso. É um conjunto político que deve ser entendido por administradores, por governantes.

PRN – O que lhe motiva, então, a enfrentar essa batalha pelo comando da Reitoria?

PS – Temos colocando que as nossas pré-candidaturas e futuras candidaturas – minha e da professora Kelânia Mesquita – não são um projeto pessoal. Eu nunca pensei num projeto político assim. Na verdade, nós fomos convidados por um grupo de professores, técnicos e estudantes para lançar a candidatura quando começou a discussão sobre  a sucessão na universidade. Esse grupo vem discutindo há mais de um ano essa questão da sucessão e o nosso nome apareceu e foi indicado por esse grupo, não houve escolha, votação ou disputa interna do grupo, mas uma indicação a partir de critérios que o grupo elaborou e que formariam o perfil de uma gestão necessária e fundamental para fazer essa universidade transformar, avançar. E as pessoas então viram no meu nome e no nome da professora Kelãnia que nos contemplávamos esses critérios que o grupo estabeleceu. Isso foi para nós uma honra ter esse reconhecimento. Para esse grupo era muito importante que a gestão tivesse uma representação que tivesse compromisso político com os segmentos da universidade, uma história de luta em defesa da universidade e uma experiência administrativa. Somado isso, chegaram a nossos nomes para representar o projeto desse grupo e por isso essa forma coletiva de tomar decisões refletiu no processo de construção de nossa carta-programa. Acabamos de aprovar no webinário que fizemos semana passada a construção coletiva de nossa carta-programa e isso foi fundamental porque recebemos dos segmentos dos vários campi da UERN, contribuições importantíssimas em torno da pesquisa, da extensão, do ensino, da política estudantil, da questão da autonomia financeira, e desses ponto que vão compor nossa carta-programa como proposta para fazer uma outra UERN. E essa ideia de que uma outra UERN é possível, que dá nome à nossa campanha, é muito legal porque uma outra UERN não é qualquer UERN. É uma UERN que seja diferente, do ponto de vista da gestão, que inclua a questão da democracia, da descentralização administrativa, da inclusão e da pluralidade de ideias. Isso é fundamental para a universidade que quer estabelecer o diálogo, a inovação e o compromisso com seus segmentos.

PRN – Uma das questões mais comentadas nos últimos dias foi o fato de estarem postas duas chapas no espaço de oposição. Porque não foi possível uma unidade nesse campo?

PS – Nós temos a compreensão de que a unidade nesses momentos de tantas dificuldades políticas no nosso país seria fundamental. Tivemos sempre essa compreensão. Era um grupo que estava discutindo e chegou um certo momento em que nós discordamos da forma, da metodologia que foi adotada numa de nossas reuniões que resultou numa candidatura que pela forma como foi decidida ali nós não concordávamos, não achamos que tenha sido, do ponto de vista político, sido feita articulações dentro daquilo que a gente considera uma postura mais ética, no sentido da verdadeira política. Discordamos disso, e não seguimos e fomos convidados depois por um grupo de colegas que não concordaram com o processo, com os encaminhamentos dados ali para que nós pudéssemos rediscutir. E fizemos isso. Fomos nos reunindo. Foi quando nós estabelecemos critérios porque a votação que se deu ali quando se decidiu uma candidatura lá, ela não se deu a partir de critérios que compusessem um perfil da candidatura. Nós achamos que o erro começava aí. Terminava que parecia uma indicação que estava centrada em pessoas e não em projetos. Então começamos a discutir, mas nos reuníamos sempre com a vontade política de convidar os colegas e discutir. E fizemos isso. Inclusive propomos zerar o processo e começar tudo de novo a partir dos critérios que o grupo tinha estabelecido como perfil para uma candidatura. Então, os colegas não foram sensíveis a essa proposição e decidiram caminhar com sua candidatura. No entanto a compreensão daquelas pessoas que nos procuraram para discutir colocou uma questão muito importante: que era uma candidatura que fosse representativa desse campo de oposição da universidade. E as pessoas viam em nós uma história de luta em defesa de nossa universidade que nos credenciava para compor. Tem uns colegas que tem uma expressão muito engraçada, mas que caracteriza essa história de luta, que é a história da oposição-raiz. Embora seja uma expressão que se popularizou, é na verdade o reflexo desse reconhecimento de que nós estamos na luta. Estivemos sempre na luta e podemos representar a oposição. Agora, nós também temos a consciência – que acho que é isso que a comunidade está querendo – de fazer uma gestão que alie esse compromisso político – a experiência de luta – a também uma experiência administrativa. E nós temos. Hoje eu sou coordenador de mestrado, já fui vice-coordenador, fui diretor da Faculdade de Letras. A professora Kelânia já assumiu vários cargos na universidade no setor administrativo e também em vários conselhos ao longo de sua carreira docente nessa instituição. Então essa experiência administrativa nos órgãos da universidade, nas unidades em que atuamos, mais esse compromisso político e a inserção na luta, eu acho que vai trazer para a universidade uma nova forma  de administrar, e administrar contando com o diálogo, o compromisso político com as categorias, o respeito às reivindicações dessas categorias e uma descentralização administrativa que é a vontade, os anseios dos segmentos de nossa universidade,  isso é muito percebido quando a gente conversa com os campi avançados. Os campi avançados tem reclamado muito, historicamente. Eu tenho várias anos que acompanho eleições na UERN e em todas as que participei isso estava colocado pelos campi, dado a dificuldade que eles enfrentam para conduzir as suas unidades já que há uma burocracia na universidade que dificultou, por exemplo, até questões de almoxarifado. Tem situações que alguns desses campi ficam dias parados esperando a liberação de um material  que é importantíssimo para o funcionamento diário desses campi.  Esse  é um problema que não pode mais acontecer. Inclusive a descentralização pode até pensar que cada campi tem que ter o seu almoxarifado. Para dar um exemplo de uma coisa que é muito percebida e colocada pela comunidade acadêmica e mostra uma centralização administrativa que não se admite mais. Acho que todos esses elementos são fundamentais para que a comunidade tome sua decisão e promova a mudança necessária em termos de gesto nessa universidade. Inclusive uma gestão com compromisso porque nós não vamos abandonar o barco como a atual gestão fez.

PRN – Como você avalia a política de capacitação dos técnicos na UERN?

PS – Precisamos desenvolver uma política de capacitação que realmente funcione. Precisamos inclusive estimular a capacitação dos técnicos porque nesse sentido ainda há políticas muito tímidas na universidade. É preciso que a gente  entenda também a importância que os técnicos tem em nossos projetos. Pense no ensino remoto. Fico imaginando se não tivéssemos os técnicos nesse momento para darmos continuidade a nossas atividades. Vejo aqui meu setor na FALA e percebo como os técnicos tem trabalhado porque tem dias que temos duas, três reuniões e os técnicos é que estão lá no suporte e, por isso, precisam também de capacitação porque nesse ensino remoto nos deparamos com realidades que nós nem conhecíamos, inclusive questões tecnológicas que nós não tínhamos uso e agora temos que usar. O ensino remoto mostrou muito isso, essa realidade, de que isso aqui só funciona porque tem técnicos. Nesse período do ensino remoto nós todos, professores, técnicos e estudantes garantimos o funcionamento ensino remoto, inclusive a administração – que foi para Portugal – deixou isso por nossa conta.

PRN – Gostaríamos que o senhor apresentasse agora a principal proposta que vocês pretendem oferecer para os professores.

PS – Essa é uma boa pergunta porque nós estamos há alguns anos elaborando, discutindo o nosso Plano de Carreira, Cargos e Salários (PCCS) e estamos num momento decisivo nos encaminhamentos nesse sentido através do nosso sindicato. Os servidores técnicos também estão discutindo o seu PCCS. É importante que nós reforcemos essa luta porque agora nós temos um governo que tem sinalizado no sentido do diálogo, de discutir conosco essa questão tanto da autonomia financeira quanto do PCCS. Hoje na universidade, nessa crise que nós estamos – são 10 anos sem reajuste salarial, tanto professores quanto técnicos  – o PCCS é fundamental para que nós possamos promover a progressão funcional porque, por exemplo, os professores chegam a professor adjunto e assim se aposentam, porque não progridem mais. Eu terminei meu doutorado há 11 anos e há 11 anos eu sou professor-adjunto, e não sairei mais disso se não aprovarmos o PCCS. No nosso plano de carreira nós criamos outras categorias, que são importantíssimas para fazer a progressão do professor, dos técnicos, porque no PCCS dos técnicos também será contemplada uma ascensão na carreira, e essa é uma pauta fundamental. Interessante também que isso está muito alinhado em termos de gestão à questão da autonomia financeira porque com a conquista dela os reajustes salariais vão ser discutidos com a gestão, não mais com o Governo do Estado. Olhe como é importante nessa eleição elegermos uma gestão democrática, que dialogue com os segmentos, porque se a gente tiver com esse dinheiro na mão de uma gestão que não tem compromisso político com os segmentos e não seja sensível às reivindicações desses segmentos, poderemos não avançar em termos de salários.

PRN – Por que, para vocês, é importante que a comunidade acadêmica analise a  questão do compromisso politico dos pré-candidatos?

PS – Porque historicamente na universidade tem ocorrido que quem chega ao cargo de reitor parece que esquece que pertence a uma categoria, inclusive vai para o sindicato votar contra as reivindicações do professor. Esquece que é professor. Na nossa gestão, essa experiência de luta que a gente tem, de atuação nos movimentos, nós não vamos esquecer. Nossa história mostra que nós somos sensíveis e comprometidos com essa luta. E a questão do salário é fundamental inclusive para a gente manter o nosso professor nesta instituição porque a falta de política nesse sentido tem contribuído para a saída de muitos professores que ficam pleiteando um concurso fora daqui e que possa dar maior estabilidade à sua carreira. A universidade precisa avançar, precisa crescer, mas precisa garantir que seus profissionais permaneçam aqui para que nós possamos desenvolver um projeto de universidade sem interrupção porque não temos profissionais. A questão salarial dos técnicos é fundamental porque o salário do técnico na UERN ainda é muito aquém das necessidades mínimas para que o servidor público possa exercer suas atribuições e essa defasagem salarial muito grande faz com que se gere uma vinculação muito forte com as funções gratificadas, com os cargos comissionados, e essas funções e esses cargos passam a ser quase uma questão de sobrevivência. Isso é muito grave porque reduz o espaço democrático e faz com que a gente não tenha a possibilidade de discutir questões centrais justamente porque esses técnicos são presos a essa questão das gratificações. Precisamos deixar os técnicos livres.

PRN – Essa proposta contempla tanto professores quanto servidores. E para os estudantes, o eu você destacaria?

PS – A nossa proposta de política de assistência ao estudante foi discutida com os discentes nos nossos seminários, nos nossos encontros, e houve muita reclamação porque a administração atual tem feito um discurso de que existe política de assistência estudantil, mas o que se tem ainda deixa muito a desejar. Se coloca nos discursos como se a universidade nesse campo tivesse avançado muito, não tivesse problemas muito graves, quando a gente sabe que não é bem assim. Com essa questão do ensino remoto, nesse semestre, por exemplo, nós vamos ter apenas 500 bolsas-auxílio para estudantes O que são 500 bolsas num universo de estudantes com carência que a gente tem. Inclusive a universidade fez uma pesquisa sobre isso mas não divulgou os resultados e nós vamos começar um novo semestre sem dados importantes nesse sentido. Por exemplo: não se fez uma pesquisa sobre a questão da saúde, do impacto da pandemia na questão da saúde, do convívio familiar, das dificuldades que nossos alunos estão enfrentando, inclusive nas suas residências que nem sempre  tem um espaço adequado para isso. Estamos no segundo semestre remoto sem esses dados, então seria importantíssimo para a universidade divulgar esses dados e ampliar essa pesquisa para ver os impactos na saúde. Nós temos professores muito cansados porque redobraram sua carga de trabalho. Os técnicos passando o dia no computador, dando assistência a esse funcionamento, sem falar nos gastos que isso trouxe para nossas contas, em termos de compra de equipamentos. Inclusive a UERN não criou nenhum auxílio para os professores para ter equipamentos adequados para o ensino remoto. Nós tivemos que fazer isso tirando dos nossos salários. Nós aumentamos a conta de energia, aumentamos o pacote de internet, e não tivemos auxílio para isso. E tivemos que adaptar nossa residência para este funcionamento. Essa não deve ser uma responsabilidade nossa, a instituição deve ter projetos para isso. Os alunos tem reclamado muito da falta de uma política em termos de residência, principalmente nos campi; do restaurante universitário, e de uma política que venha atender a essa questão do refeitório na universidade, ainda reivindicações em torno de mobilidade, acessibilidade no interior da universidade. Uma outra questão que também temos que olhar e quero destacar uma proposta de uma estudante do curso de Filosofia sobre a questão da segurança. No campus central nós temos vivido muitos problemas de invasão, de assaltos, e em alguns blocos isso é mais acentuado, e a segurança é uma questão que precisa ser discutida. Nós precisamos também criar espaços – e isso foi uma proposta dos alunos – para descanso dos estudantes e espaços de convivência para os estudantes. Se a gente cria vários espaços talvez a gente não precise de um muro, até porque um muro é algo muito segregativo e a universidade tem que estar nesse contato com a sociedade. Então é melhor a gente fazer políticas para trazer essa sociedade, a comunidade, a vizinhança para cá do que expulsá-los com um muro. Aliás é papel da universidade criar políticas que integrem a comunidade, então precisamos criar esses espaços, cuidar da iluminação, cuidar espaços de convivência para os estudantes, além de lhes garantir auxílios e também restaurantes adequados dentro das condições sanitárias exigidas. Uma outra questão que os estudantes tem apontado é que alguns campi não tem micro-ônibus. Então os alunos e professores tem a maior dificuldade para realizar uma aula de campo, e para a possibilidade da participação desses alunos em eventos internos da própria universidade, mas que ás vezes são realizados em outra localidade. A falta de micro-ônibus, a falta de política de mobilidade. Em Pau dos Ferros, há anos que se espera por um elevador. Também há a necessidade deum núcleo especializado para tratar de doenças mentais, assédio, tudo isso foi levantado por nossos alunos. Na questão do assédio, nos precisamos criar um núcleo que trate dessa questão na universidade porque por enquanto tem apenas ações realizadas pelas unidades na questão da investigação inclusive encaminhadas à Ouvidoria da UERN, mas nunca vimos o resultado dessas investigações. Termina em inquéritos, mas a gente não viu política que aponte soluções. É preciso um núcleo que discuta e seja responsável por tomar posições em relação a essa questão do assédio na universidade. Uma outra coisa importante: políticas que favoreçam o convívio na universidade das pessoas LGBTQI+, que favoreçam a permanência, o convívio na universidade porque nós também temos tido muitos problemas, denúncias dos alunos das dificuldades que eles encontram para esse convívio na universidade, então a gente precisa fazer o debate, e construir esse núcleo que possa dar soluções para a questão do assédio, do preconceito, da discriminação porque temos que ter uma universidade que seja realmente plural não só em receber, mas em garantir o convívio e a permanência dessas pessoas na universidade.

PRN –  O que você espera do debate durante o processo eleitoral?

PS – Acho que são dois pontos importantes: a questão da autonomia financeira e a questão da democracia na universidade. A democracia na universidade precisa se dar de forma real. Ela não pode ser um discurso. Nós temos tido, inclusive nessa gestão, muitos ataques à nossa democracia. Porque quando você pensa por exemplo na questão dos direitos conquistados que são negados hoje, como a participação dos aposentados no Consuni, que foi retirada nessa gestão, isso é um problema sério que atinge a democracia, que restringe a participação política e que desconsidera aqueles que deram a contribuições importantíssimas para a universidade e que poderiam ser aproveitados porque esses aposentados podem estar  vivendo uma aposentavidade, com participação em projetos. Anteriormente, nos tíinhamos projetos que incluíam aposentados, hoje essa gestão tirou a possibilidade de aposentados participarem de projetos de apoio ao ensino, de programas de pós-graduação, que eles podem participar mas não são reconhecidos como da instituição, eles entram noutra categoria e a gente precisa inclusive estabelecer normas na universidade de participação dos aposentados em programas dentro da universidade, isso precisa ser normatizado porque nos programas de pós-graduação, segundo a Capes, eles poderiam ser professores permanentes, mas internamente nós não estabelecemos uma normativa para isso. Quer dizer: se a gestão tira os aposentados do Consuni também não tem interesse na participação deles nos programas de ensino. Então é preciso mudar isso porque nós precisamos realmente estabelecer uma gestão democrática e não é retirando pessoas de representações importantes. Nós vamos ampliar essa participação, de estudantes, de técnicos e de aposentados nos conselhos da universidade, que são órgãos decisivos para as políticas dessa universidade. O debate vai se dar em torno dessas duas questões: autonomia financeira, democracia e eu até acrescentaria um terceiro ponto, que para os segmentos da universidade é fundamental, que é o Plano de Cargos e Carreia. Uma universidade em que estamos esses anos todos sem reajuste, um plano de cargos e carreira é fundamental para a gente não ficar dependendo de governo, dependendo de políticos. Por isso que todas essas propostas estão associadas à questão da autonomia financeira, que realmente é a grande bandeira. Essa universidade precisa deixar de viver com um pires na mão, dependendo de emenda de políticos, e administrando sem recursos. É preciso que o Estado estabeleça recursos para essa universidade e que nós tenhamos uma gestão que discuta com a comunidade a aplicação desses recursos. Ela só vai avançar conquistada essas bandeiras importantes.

PRN – Nos fale um pouco sobre a escolha da professora Kelânia Mesquita como sua companheira de chapa.

PS – A escolha da professora Kelânia foi o que aconteceu de melhor nesse processo, pois ela traz para nossa campanha uma experiência administrativa muito grande através da sua participação nos conselhos da universidade – ela é nossa representante no Consuni, já foi do Consepe (Conseho de Ensino, Pesquisa e Extensão); de experiências administrativas também, nos departamentos, de participação em várias comissões, então ela conhece muito esta universidade, e as normas da universidade, a legislação, o que é muito importante, mas ela dá um caráter político muito importante a nossa chapa porque ela tem também essa experiência e essa participação na luta, no sindicato, então só soma, e soma muito. Também pela capacidade que a professora Kelânia tem de diálogo e também sua capacidade de elaboração em termos de proposições para a universidade. Acho que é uma companheira que soma muito e amplia inclusive os apoios. Estamos muito horados de formar essa dupla com a professora Kelânia, mas acho que quem vai ganhar com tudo isso é a universidade, porque nós teremos uma gestão que foi construída aliando essa questão do compromisso político, da inserção na luta, à experiência administrativa. Quando as pessoas pensam que uma outra UERN é possível, elas estão pensando que não da mais para ser uma gestão no modelo da que nós temos.

PRN – Espaço aberto para suas observações finais.

PS – Gostaria de reforçar meu agradecimento pelo espaço, realmente vocês tem construído um canal de debates e diálogo muito importante em nossa sociedade, agradecer e dizer para a comunidade universitária que acreditem nas nossas propostas, que quando for fazer a escolha olhem a história dos candidatos, vejam o compromisso político e não se deixem levar pelas facilidades  do discurso, mas olhem as práticas, o envolvimento, o engajamento das pessoas com o compromisso com essa universidade, e sua contribuição para a construção dessa universidade. Eu gostaria que a comunidade ficasse sensível do ponto de vista político a essa proposta, que é uma proposta que não é nossa, ela não saiu de nosso caderno somente, ela saiu do conjunto dos representantes dos segmentos da universidade que foram construindo e construíram no nosso seminário em que discutimos nossa carta-programa, que vem discutindo a universidade e apontando os rumos que ela deve tomar. É isso que a nossa gestão vai querer colocar em prática: essa forma de gerir a universidade  de forma diferente, democrática, plural, inclusiva e descentralizada.

 

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