Protesto

Professores de Filosofia repudiam declarações de ministro da Educação

Para docentes, falas do ministro e do presidente “reproduzem em discurso a ação de um Estado de exceção que se abateu sobre nossa sociedade”

Confira a nota: 

As desastrosas declarações do Ministro da Educação e do presidente da República do Brasil, contra a filosofia e a sociologia demonstram completa ignorância teórica ou vergonhoso ato de má-fé política. Reproduzem em discurso a ação de um Estado de exceção que se abateu sobre nossa sociedade. Tentam iludir imprimindo um caráter de preocupação com a institucionalidade econômica, mas não conseguem esconder que repetem de forma igualmente deplorável as ações de guerra do retrógrado Regime Militar, oriundo do torpe golpe de 1964. Quando naquela época de terror manifesto, não bastando a truculência bélica e torturadora das ruas e calabouços, aplicaram na Educação a tentativa de cesura decepadora do pensamento, retirando as disciplinas de filosofia e sociologia da grade curricular das escolas. Agora a política passa a ser a guerra continuada de outras maneiras. Em discursos bestiais, de uma falsa moral social, com indisfarçável teor político declaram falaciosamente preocupação com os recursos públicos e com o futuro da formação profissional dos “contribuintes”. E para isso condenam de forma cômica as ciências humanas e proclamam como prioritárias as áreas de formação técnica e alegadamente como sendo as únicas proveitosas para a sociedade. É parte do roteiro político de um ódio intencionalmente propagado contra a democracia e contra a liberdade de ser e de pensar. Pavor ideologicamente político contra as diferenças e liberdades, como se estende e contamina todas as áreas desse governo das elites patrimonialistas e preconceituosas.

É também inominável ignorância e crime de lesa-pátria ao demonstrarem total falta de conhecimento do moderno perfil de formação profissional dos cidadãos no atual mercado de trabalho. A formação meramente técnica, do tipo taylorista ou fordista, há tempo já foi superada pela nova cultura do capitalismo reinante nos países mais desenvolvidos economicamente. Para além até mesmo do toyotismo, que já exigia uma formação generalista, complexa e criativa, na atualidade os profissionais para obterem sucesso devem aprender a aprender e a se reinventarem perante as adversidades desafiadoras de um mercado hipercompetitivo. Profissionais que demonstram a capacidade inovadora do pensar e do saber fazer diferente em sua área de formação alimentam a aceleração dos modernos empreendimentos, nas diversas áreas de produção, gerando pesquisa, ciência, tecnologia, conhecimento e crescimento econômico e empresarial. Por isto, que, também, nesta vertente hodierna do capitalismo a filosofia e a sociologia apresentam-se como fomentadoras de uma formação ética, multicultural, humana, social, criativa e crítico-reflexiva aos homens e mulheres, com uma visão holística e arrojada, que movimentam todos os setores da economia e da sociedade em geral, como observamos nos países mais avançados. Seria um grande retrocesso para o Brasil uma educação mutiladora, sem uma formação ampliada e humanista.

Em seus vergonhosos discursos agem como os tolos que reclamam de uma velha árvore e se esquecem que estão abrigados em suas refrescantes sombras meio ao deserto escaldante do mundo real. Sugerem retirar da educação e da formação profissional os aspectos filosóficos e sociológicos de sua constituição mais moderna, legando aos nossos profissionais um débil e defasado perfil. Ao mesmo tempo que atentam contra a própria Constituição e legislação em geral do nosso ordenamento pátrio, especialmente a LDB, que determinam o livre pensar, a autonomia didático-pedagógico das instituições de ensino e os princípios fundamentais da Educação Nacional. Princípios estes que asseguram a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber, o pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; além de pregarem o respeito e apreço à tolerância e às diversidades em geral. Em nenhum cenário de verdadeiros interesses públicos, democráticos e desenvolvimentistas esses retrógrados discursos se encaixam; apenas se adequam a uma concepção claramente ideológica de um partidarismo militante de uma elite subserviente e mergulhada em um atoleiro de tolices inúteis para a sociedade brasileira.

Portanto, foi contra esses infames discursos, e muito mais que se presencia na conjuntura atual predominante da destruição dos direitos, que o colegiado do Curso de filosofia da UERN, em reunião plenária, aprovou esta nota de veemente repúdio a esse estado de coisas. E seguirá mobilizado e atento juntamente com a comunidade acadêmica e demais forças democráticas e sociais na luta pelo respeito e garantia aos princípios indissolúveis da cidadania e do Estado democrático de Direito.

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